in Ecoonline
De acordo com o relatório trimestral Norte Conjuntura, da CCDR-N, esta “é a primeira vez, nos últimos 20 anos, que a taxa de desemprego da região se encontra tão abaixo da nacional”.
A taxa de desemprego na região Norte desceu para 6,3% no segundo trimestre de 2021, em relação a 7,4% no período homólogo de 2020, e está abaixo da média nacional nesse indicador, revelou esta segunda-feira a CCDR-N.
De acordo com o relatório trimestral Norte Conjuntura, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), a que a Lusa teve acesso, esta “é a primeira vez, nos últimos 20 anos, que a taxa de desemprego da região se encontra tão abaixo da nacional”.
Portugal registou uma taxa de desemprego de 6,7%.
Também a taxa de desemprego jovem diminuiu em relação ao 1.º trimestre deste ano, em que era 22,5%, para 21,8% no segundo trimestre, “invertendo a tendência de crescimento observada ao longo da crise” provocada pela pandemia de Covid-19, destaca o documento.
Para os números favoráveis contribuiu um aumento da população empregada de 87.200, em relação ao período homólogo de 2020, o que representa um incremento de 5,3%.
“Este crescimento acentuado deveu-se a um efeito base associado ao pico da crise pandémica no segundo trimestre de 2020, mas também ao dinamismo intrínseco da economia do Norte”, destaca a CCDR-N.
O organismo considera também “revelador da resiliência e recuperação em contexto de crise o nível de emprego da região no segundo trimestre de 2021, [que] já é superior em 3,2% ao valor observado há dois anos, no segundo trimestre de 2019 (período pré-pandemia), refletindo a criação de 53.400 postos de trabalho, em termos líquidos, face a essa altura”.
No salário mensal líquido dos trabalhadores por conta de outrem também se verifica “o valor mais elevado desde que existem registos”, 955 euros, que mostram “um crescimento real de 4,2% face ao período homólogo” do ano passado.
A taxa de emprego do Norte (dos 20 aos 64 anos) está nos 75,9%, “um valor superior à meta de 75% definida no Portugal 2020”, e a taxa de atividade (16 ou mais anos) cresceu de 56% no segundo trimestre de 2020 para 59,5%, que “decorreu de um aumento acentuado da população ativa do Norte para um valor superior ao da fase pré-pandemia”.
O documento dá ainda como exemplo de retoma o facto de, “apesar de a população empregada mais jovem (16 aos 24 anos) ter voltado a diminuir em 7,4% no segundo trimestre de 2021 face ao período homólogo do ano transato”, a redução ter sido “bastante menor do que a do trimestre precedente”.
Por outro lado, “o emprego na população dos 25 aos 34 anos aumentou 6,7%, invertendo a tendência de queda do último trimestre”.
“Nas faixas etárias mais avançadas observou-se a aceleração do crescimento do emprego, sobretudo nos cidadãos com 55 anos ou mais”.
Por setores, destaca-se que o aumento de 9,4% da população empregada nas indústrias transformadoras, com a criação líquida de 38.400 postos de trabalho.
O setor “já superou o valor observado na fase anterior à crise pandémica”, sustenta.
Este cenário acontece num contexto nacional em que o Produto Interno Bruto (PIB) do país aumentou 15,5% em relação ao período homólogo e 4,9% face ao primeiro trimestre deste ano, “invertendo a tendência de queda que se vinha a observar desde o início da crise pandémica”.
Mostrar mensagens com a etiqueta Norte de Portugal. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Norte de Portugal. Mostrar todas as mensagens
6.10.21
26.11.20
Norte com mais 28.685 desempregados inscritos desde Fevereiro
in Público on-line
Mais de metade dos inscritos estão registados há menos de um ano no Instituto de Emprego e Formação profissional. Dos 153.022 pessoas inscritas no desemprego, 58% são mulheres
A região Norte contabilizou em Outubro 153.022 desempregados inscritos nos centros de emprego, mais 28.685 pessoas quando comparado com Fevereiro, mês anterior à pandemia da covid-19, segundo as estatísticas do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
De acordo com as estatísticas mensais por concelho do IEFP, consultadas pela Lusa, a região Norte contabilizou em Outubro um total de 153.022 pessoas inscritas no desemprego, 58% das quais mulheres. Do total de inscritos, mais de metade - o que corresponde a 87.902 pessoas - estão alistadas há menos de um ano no IEFP.
Comparativamente ao mês de Fevereiro, o último mês antes da pandemia da covid-19 assolar o país, quando a região Norte contabilizava 124.337 pessoas inscritas no desemprego, há mais 28.685 desempregados.
Também em comparação com o período homólogo de 2019, que contabilizava 124.078 pessoas, a região Norte registou mais 28.944 pessoas inscritas nos centros de emprego.
Das mais de 153 mil pessoas inscritas em Outubro, 13.780 estão à procura do primeiro emprego, o que representa, quando comparado com Fevereiro, mais 2252 pessoas.
Desde o início da pandemia da covid-19, o mês com o maior número de inscritos nos centros de emprego na região Norte foi Agosto, com 158.013 pessoas.
Segundo as estatísticas do IEFP, no mês de Outubro, os concelhos de Vila Nova de Gaia e do Porto foram os que contabilizaram o maior número de desempregados da região, com 17.143 e 12.253 pessoas inscritas, respectivamente. A estes dois concelhos, sucedem Gondomar (8181 inscritos no desemprego), Matosinhos (7718), Braga (7531) e Guimarães (7065).
De acordo com o IEFP, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego aumentou 34,5% em Outubro em termos homólogos e diminuiu 1,6% face a Setembro.
Mais de metade dos inscritos estão registados há menos de um ano no Instituto de Emprego e Formação profissional. Dos 153.022 pessoas inscritas no desemprego, 58% são mulheres
A região Norte contabilizou em Outubro 153.022 desempregados inscritos nos centros de emprego, mais 28.685 pessoas quando comparado com Fevereiro, mês anterior à pandemia da covid-19, segundo as estatísticas do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
De acordo com as estatísticas mensais por concelho do IEFP, consultadas pela Lusa, a região Norte contabilizou em Outubro um total de 153.022 pessoas inscritas no desemprego, 58% das quais mulheres. Do total de inscritos, mais de metade - o que corresponde a 87.902 pessoas - estão alistadas há menos de um ano no IEFP.
Comparativamente ao mês de Fevereiro, o último mês antes da pandemia da covid-19 assolar o país, quando a região Norte contabilizava 124.337 pessoas inscritas no desemprego, há mais 28.685 desempregados.
Também em comparação com o período homólogo de 2019, que contabilizava 124.078 pessoas, a região Norte registou mais 28.944 pessoas inscritas nos centros de emprego.
Das mais de 153 mil pessoas inscritas em Outubro, 13.780 estão à procura do primeiro emprego, o que representa, quando comparado com Fevereiro, mais 2252 pessoas.
Desde o início da pandemia da covid-19, o mês com o maior número de inscritos nos centros de emprego na região Norte foi Agosto, com 158.013 pessoas.
Segundo as estatísticas do IEFP, no mês de Outubro, os concelhos de Vila Nova de Gaia e do Porto foram os que contabilizaram o maior número de desempregados da região, com 17.143 e 12.253 pessoas inscritas, respectivamente. A estes dois concelhos, sucedem Gondomar (8181 inscritos no desemprego), Matosinhos (7718), Braga (7531) e Guimarães (7065).
De acordo com o IEFP, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego aumentou 34,5% em Outubro em termos homólogos e diminuiu 1,6% face a Setembro.
25.11.20
Norte com mais 28.685 desempregados inscritos
A região Norte contabilizou em outubro 153.022 desempregados inscritos nos centros de emprego, mais 28.685 pessoas quando comparado com fevereiro, mês anterior à pandemia da covid-19, segundo as estatísticas do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
De acordo com as estatísticas mensais por concelho do IEFP, consultadas hoje pela Lusa, a região Norte contabilizou em outubro um total de 153.022 pessoas inscritas no desemprego, 58% das quais mulheres.Do total de inscritos, mais de metade - o que corresponde a 87.902 pessoas - estão alistadas há menos de um ano no IEFP.
Comparativamente ao mês de fevereiro, o último mês antes da pandemia da covid-19 assolar o país, quando a região Norte contabilizava 124.337 pessoas inscritas no desemprego, há mais 28.685 desempregados.
Também em comparação com o período homólogo de 2019, que contabilizava 124.078 pessoas, a região Norte registou mais 28.944 pessoas inscritas nos centros de emprego.
Das mais de 153 mil pessoas inscritas em outubro, 13.780 estão à procura do primeiro emprego, o que representa, quando comparado com fevereiro, mais 2.252 pessoas.
Desde o início da pandemia da covid-19, o mês com o maior número de inscritos nos centros de emprego na região Norte foi agosto, com 158.013 pessoas.
Segundo as estatísticas do IEFP, no mês de outubro, os concelhos de Vila Nova de Gaia e do Porto foram os que contabilizaram o maior número de desempregados da região, com 17.143 e 12.253 pessoas inscritas, respetivamente.
A estes dois concelhos, sucedem Gondomar (8.181 inscritos no desemprego), Matosinhos (7.718), Braga (7.531) e Guimarães (7.065).
De acordo com o IEFP, o número de desempregados inscritos nos centros de emprego aumentou 34,5% em outubro em termos homólogos e diminuiu 1,6% face a setembro.
O FMI prevê uma queda da economia portuguesa de 10% em 2020, e uma recuperação de 6,5% para 2021.
Estas previsões diferem das do Governo português, que antecipa uma queda da economia de 8,5% este ano, e uma recuperação de 5,4% em 2021.
Já a Comissão Europeia prevê uma queda de 9,3% da economia portuguesa em 2020, e um crescimento de 5,4% no próximo ano.
Em Portugal, morreram 4.056 pessoas dos 268.721 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Leia Também: Beneficiários de prestações de desemprego aumentam 41,8% em outubro
23.10.20
No Norte confinado, a “preocupação” é a normalidade económica
Miguel Dantas e Victor Ferreira, in Público on-line
Sindicatos denunciam casos de trabalhadores pressionados a ocultar eventuais infecções. Autarcas querem evitar ruptura económica e falam em medidas demasiado “restritivas”.
“Felgueiras teve o azar de ser o ponto de início da pandemia no país em Março, depois daquela feira de calçado que se realizou em Milão. Fomos dos primeiros concelhos a sofrer restrições e, agora, volta a acontecer a mesma coisa, num momento em que precisávamos mesmo de ser ajudados”, queixa-se Emídio Monteiro, dirigente da Associação Empresarial de Felgueiras (AEF).
Pouco tempo após o anúncio ao país das medidas de confinamento nos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, os associados da AEF começaram a fazer chegar as suas preocupações à associação. “Os pequenos comerciantes estão desesperados, vivem do dinheiro que vão fazendo diariamente. Se não conseguirem esse rendimento, como é que vão pagar aos funcionários? Temos de salvaguardar a saúde e a vida, mas a economia não pode parar novamente”, considera o dirigente.
Esta quinta-feira, o Governo aprovou uma resolução que impõe o dever de permanência no domicílio a três concelhos do país, onde a pandemia de covid-19 regista um maior número de casos: Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira. Na quarta-feira, António Costa reuniu de urgência com os autarcas destes concelhos, prometendo, no final da reunião, que não existia necessidade de uma “cerca sanitária”. Apesar das restrições, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, garantiu que estas medidas não se materializam numa cerca sanitária, uma vez que determinadas deslocações essenciais, como sair para trabalhar, ir para a escola ou para consultas, continuam a ser possíveis.
As medidas são exactamente as mesmas para os três concelhos. O presidente da Câmara de Felgueiras, Nuno Fonseca, considera esta igualdade um pouco injusta, visto que Felgueiras não é a localidade com o maior crescimento dos casos de infecção por covid-19. “Neste tipo de situações, sinto que devemos acatar as recomendações. Acho, contudo, que o concelho de Felgueiras, pelo número de casos que reúne actualmente, não teria necessidade de ter medidas tão restritivas, se compararmos por exemplo com os casos registados em Paços de Ferreira no dia de hoje [quinta-feira]”, considera o autarca.
O anúncio ao país destas medidas coincidiu com o pior dia de sempre em termos de novos casos de covid-19. Pela primeira vez desde o início da contagem diária feita pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), o país ultrapassou a fasquia dos três mil casos diários. Deste número, 1954 (59,7%) registaram-se na zona Norte do país.
Já com as restrições locais em mente, a prioridade de Nuno Fonseca para Felgueiras passa por garantir que a economia do concelho não pare. “Queremos, acima de tudo, que estas restrições não criem constrangimentos para a nossa economia. É uma das nossas principais preocupações, porque fomos um dos primeiros concelhos a sofrer estes problemas na primeira vaga do vírus. Agora tentaremos assegurar a normalidade económica – que é pujante, não só no comércio mas também na indústria”, explica.
Por sua vez, o presidente da Câmara de Paços de Ferreira elogia que tivessem sido levadas em conta as sugestões para o aumento da capacidade de testagem no concelho. Relativamente às medidas restritivas, Humberto Brito, espera que o esforço seja reflectido na descida do número de novos casos no concelho.
Mas de onde vieram todos estes casos? António Costa, no final da reunião de quarta-feira, revelou que as autoridades de saúde identificaram eventos sociais responsáveis pela propagação do vírus, que irão ser alvo de controlo por parte das autoridades nas próximas semanas. “São mais as questões familiares, festas, almoços, e a vivência juvenil”, contou ao PÚBLICO o comandante dos Bombeiros de Felgueiras, José Júlio, notando que “houve um levantar da guarda por parte das pessoas no pós-férias de Verão”.
Sindicatos denunciam casos de trabalhadores pressionados a ocultar eventuais infecções. Autarcas querem evitar ruptura económica e falam em medidas demasiado “restritivas”.
“Felgueiras teve o azar de ser o ponto de início da pandemia no país em Março, depois daquela feira de calçado que se realizou em Milão. Fomos dos primeiros concelhos a sofrer restrições e, agora, volta a acontecer a mesma coisa, num momento em que precisávamos mesmo de ser ajudados”, queixa-se Emídio Monteiro, dirigente da Associação Empresarial de Felgueiras (AEF).
Pouco tempo após o anúncio ao país das medidas de confinamento nos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira, os associados da AEF começaram a fazer chegar as suas preocupações à associação. “Os pequenos comerciantes estão desesperados, vivem do dinheiro que vão fazendo diariamente. Se não conseguirem esse rendimento, como é que vão pagar aos funcionários? Temos de salvaguardar a saúde e a vida, mas a economia não pode parar novamente”, considera o dirigente.
Esta quinta-feira, o Governo aprovou uma resolução que impõe o dever de permanência no domicílio a três concelhos do país, onde a pandemia de covid-19 regista um maior número de casos: Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira. Na quarta-feira, António Costa reuniu de urgência com os autarcas destes concelhos, prometendo, no final da reunião, que não existia necessidade de uma “cerca sanitária”. Apesar das restrições, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, garantiu que estas medidas não se materializam numa cerca sanitária, uma vez que determinadas deslocações essenciais, como sair para trabalhar, ir para a escola ou para consultas, continuam a ser possíveis.
As medidas são exactamente as mesmas para os três concelhos. O presidente da Câmara de Felgueiras, Nuno Fonseca, considera esta igualdade um pouco injusta, visto que Felgueiras não é a localidade com o maior crescimento dos casos de infecção por covid-19. “Neste tipo de situações, sinto que devemos acatar as recomendações. Acho, contudo, que o concelho de Felgueiras, pelo número de casos que reúne actualmente, não teria necessidade de ter medidas tão restritivas, se compararmos por exemplo com os casos registados em Paços de Ferreira no dia de hoje [quinta-feira]”, considera o autarca.
O anúncio ao país destas medidas coincidiu com o pior dia de sempre em termos de novos casos de covid-19. Pela primeira vez desde o início da contagem diária feita pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), o país ultrapassou a fasquia dos três mil casos diários. Deste número, 1954 (59,7%) registaram-se na zona Norte do país.
Já com as restrições locais em mente, a prioridade de Nuno Fonseca para Felgueiras passa por garantir que a economia do concelho não pare. “Queremos, acima de tudo, que estas restrições não criem constrangimentos para a nossa economia. É uma das nossas principais preocupações, porque fomos um dos primeiros concelhos a sofrer estes problemas na primeira vaga do vírus. Agora tentaremos assegurar a normalidade económica – que é pujante, não só no comércio mas também na indústria”, explica.
Por sua vez, o presidente da Câmara de Paços de Ferreira elogia que tivessem sido levadas em conta as sugestões para o aumento da capacidade de testagem no concelho. Relativamente às medidas restritivas, Humberto Brito, espera que o esforço seja reflectido na descida do número de novos casos no concelho.
Mas de onde vieram todos estes casos? António Costa, no final da reunião de quarta-feira, revelou que as autoridades de saúde identificaram eventos sociais responsáveis pela propagação do vírus, que irão ser alvo de controlo por parte das autoridades nas próximas semanas. “São mais as questões familiares, festas, almoços, e a vivência juvenil”, contou ao PÚBLICO o comandante dos Bombeiros de Felgueiras, José Júlio, notando que “houve um levantar da guarda por parte das pessoas no pós-férias de Verão”.
Trabalhadores pressionados a ocultar eventuais infecções
O contágio nos locais de trabalho existe, mas esse não será o maior problema na região do Vale do Sousa, diz Marlene Correia, do Sindicato dos Trabalhadores dos Sectores Têxteis, Vestuário, Calçado e Curtumes do Distrito do Porto (SINTEVECC). Nem todos cumprem regras e recomendações, mas, segundo os sindicatos, nem o número de queixas nem o número de casos detectados deveriam gerar alarmismos, refere esta representante. O que é mais problemático, nesta altura, é que há trabalhadores que tiveram um teste positivo de covid-19 ou estão em casa à espera do resultado e que foram pressionados pelos patrões a não revelarem a razão por que estão em casa, para evitar que o medo se espalhe e uma paragem na produção, que nesta altura segue a todo o vapor.
“Sabemos até ao momento de três casos destes, em três empresas diferentes do Vale do Sousa e isso obviamente deveria preocupar-nos a todos”, diz aquela representante sindical. “Nota-se que as empresas estão cheias de encomendas e querem trabalhar, não podem parar para satisfazer os clientes. Acontece que naqueles casos, foi pedido aos trabalhadores que ficaram doentes ou que suspeitam que possam estar doentes que ocultassem essa informação aos colegas, para evitar paragens e mais faltas ao trabalho nesta altura”, descreve Marlene Correia.
Defendendo uma maior intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho e por parte das próprias entidades locais de saúde, a mesma porta-voz salienta, no entanto, que os problemas nas empresas do Vale do Sousa são os mesmos das de outras regiões menos afectadas pelo crescimento de novos casos de covid-19 e, nessa lógica, sustenta que as infecções e eventuais falhas em contexto laboral não explicam o cenário que se vive naquela região.
“Nem todas as empresas conseguem cumprir todas as regras em relação ao desfasamento de horários, até porque as próprias regras são, por vezes contraditórias ou incompatíveis, e também é verdade que nem todos os trabalhadores gostam de estar oito horas consecutivas de máscara. Além disso, nem todas as instalações têm sequer dimensão suficiente para garantir distanciamento social. Mas isso é a realidade em todas as micro e pequenas empresas destes sectores espalhadas pelo país, incluindo regiões com menos preocupações neste momento. Não sei o que explica estes novos casos no Vale do Sousa, mas pelo retrato que temos da realidade, haverá múltiplos factores e, admito, a principal explicação pode estar na vida fora das fábricas”, refere.
A porta-voz do Sintevecc aponta o transporte público como um problema. “Há problemas de cobertura e nesses momentos é impossível o distanciamento físico desejável. É verdade que nas linhas de produção, há máquinas e postos de trabalho com meio metro de distância, mas as pessoas estão de costas umas para as outras e o desfasamento de horário nas pausas intermédias como o almoço foi mais facilmente cumprido do que nas horas de entrada e de saída. Por isso, o que vemos é que há uma infecção ali, duas acolá, nada que possa explicar a situação preocupante.”
Isabel Tavares, da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal (Fesete), confirma que os problemas no Vale do Ave se repetem noutras regiões. Cita uma empresa de Aveiro, com 300 pessoas, e que está a contratar. “Não há espaço nem organização para salvaguardar toda a gente. Há de facto um problema de organização que afecta muitas empresas, que além do mais não conseguem fazer o desfasamento total de horários, ou porque há muita gente isenta ou porque não é rentável”, explica.
O contágio nos locais de trabalho existe, mas esse não será o maior problema na região do Vale do Sousa, diz Marlene Correia, do Sindicato dos Trabalhadores dos Sectores Têxteis, Vestuário, Calçado e Curtumes do Distrito do Porto (SINTEVECC). Nem todos cumprem regras e recomendações, mas, segundo os sindicatos, nem o número de queixas nem o número de casos detectados deveriam gerar alarmismos, refere esta representante. O que é mais problemático, nesta altura, é que há trabalhadores que tiveram um teste positivo de covid-19 ou estão em casa à espera do resultado e que foram pressionados pelos patrões a não revelarem a razão por que estão em casa, para evitar que o medo se espalhe e uma paragem na produção, que nesta altura segue a todo o vapor.
“Sabemos até ao momento de três casos destes, em três empresas diferentes do Vale do Sousa e isso obviamente deveria preocupar-nos a todos”, diz aquela representante sindical. “Nota-se que as empresas estão cheias de encomendas e querem trabalhar, não podem parar para satisfazer os clientes. Acontece que naqueles casos, foi pedido aos trabalhadores que ficaram doentes ou que suspeitam que possam estar doentes que ocultassem essa informação aos colegas, para evitar paragens e mais faltas ao trabalho nesta altura”, descreve Marlene Correia.
Defendendo uma maior intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho e por parte das próprias entidades locais de saúde, a mesma porta-voz salienta, no entanto, que os problemas nas empresas do Vale do Sousa são os mesmos das de outras regiões menos afectadas pelo crescimento de novos casos de covid-19 e, nessa lógica, sustenta que as infecções e eventuais falhas em contexto laboral não explicam o cenário que se vive naquela região.
“Nem todas as empresas conseguem cumprir todas as regras em relação ao desfasamento de horários, até porque as próprias regras são, por vezes contraditórias ou incompatíveis, e também é verdade que nem todos os trabalhadores gostam de estar oito horas consecutivas de máscara. Além disso, nem todas as instalações têm sequer dimensão suficiente para garantir distanciamento social. Mas isso é a realidade em todas as micro e pequenas empresas destes sectores espalhadas pelo país, incluindo regiões com menos preocupações neste momento. Não sei o que explica estes novos casos no Vale do Sousa, mas pelo retrato que temos da realidade, haverá múltiplos factores e, admito, a principal explicação pode estar na vida fora das fábricas”, refere.
A porta-voz do Sintevecc aponta o transporte público como um problema. “Há problemas de cobertura e nesses momentos é impossível o distanciamento físico desejável. É verdade que nas linhas de produção, há máquinas e postos de trabalho com meio metro de distância, mas as pessoas estão de costas umas para as outras e o desfasamento de horário nas pausas intermédias como o almoço foi mais facilmente cumprido do que nas horas de entrada e de saída. Por isso, o que vemos é que há uma infecção ali, duas acolá, nada que possa explicar a situação preocupante.”
Isabel Tavares, da Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal (Fesete), confirma que os problemas no Vale do Ave se repetem noutras regiões. Cita uma empresa de Aveiro, com 300 pessoas, e que está a contratar. “Não há espaço nem organização para salvaguardar toda a gente. Há de facto um problema de organização que afecta muitas empresas, que além do mais não conseguem fazer o desfasamento total de horários, ou porque há muita gente isenta ou porque não é rentável”, explica.
8.10.20
Exportações aceleram a norte. O desemprego também
Margarida Cardos, in Expresso
Entre abril e julho, as exportações da região dispararam em 95%. Sobem mais do que a média nacional e "ultrapassam o valor anterior ao da crise pandémica", diz o boletim Norte Conjuntura, da CCDRN."As exportações na região Norte dispararam 95% entre abril e julho de 2020, atingindo o valor de 2040 milhões de euros e superando o crescimento da média nacional (em torno dos 71%), destaca o Boletim Norte Conjuntura, divulgado esta quarta-feira pela CCDRN - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte.
Apontando este desempenho como um indicador de que começam a ser "visíveis os primeiros sinais de retoma" após a quebra da economia regional no período de confinamento, o boletim sublinha que "a resiliência do sector exportador da Região Norte em contexto de crise foi superior à nacional" . "Em Portugal, o valor das exportações em julho era ainda inferior ao registado em janeiro", enquanto no Norte as vendas ao exterior "ultrapassam o valor anterior ao da crise pandémica", refere.
Já o número de desempregados inscritos nos centros de emprego da região cresceu 20% em termos homólogos, uma variação também inferior aos 30,6% registados a nível nacional. "O elevado número de trabalhadores (20,1% da população empregada da região) em regime de 'lay-off' permitiu atenuar significativamente a quebra potencial no emprego", diz este relatório sobre o desempenho económico regional.
No entanto, o salário médio mensal líquido dos trabalhadores da região teve uma evolução positiva refletida na tendência de convergência relativamente ao salário médio nacional: "a diferença entre o salário nacional e o da região foi de 43 euros" e esta é "a menor diferença desde que existem registos de remunerações por NUTSII", diz o documento.
Em números, o salário médio no Norte atingiu os 909 euros no 2.º trimestre de 2020, enquanto o salário médio nacional está nos 956 euros.
Comparando o segundo trimestre do ano com o mesmo período de 2019, o balanço continua, no entanto, a ser negativo e a quebra das exportações da região ronda os 29%, abaixo dos 30,6% do país. Julho, no entanto, apresenta valores "mais otimistas", com uma quebra de apenas 6,9% face ao mês homólogo.
No que respeita ao turismo, os indicadores "refletem uma evolução favorável, ainda que se situem bastante aquém de 2019", com o número de hóspedes a subir "exponencialmente entre abril e julho", apesar de ficar a "menos de metade do valor homólogo do ano transacto". "A recuperação do sector do turismo terá sido, ainda assim mais rápida na região do que no conjunto do país", refere o relatório.
23.7.20
Norte com aumento de 23,4% no desemprego e exportações a cair 42,3%
in TSF
A "redução de 42,3% das exportações em abril" surgiu "após uma queda de 16,6% em março".
O número de desempregados da região Norte aumentou em 23,4% (29.600 pessoas) em maio, relativamente ao mesmo mês de 2019, e as exportações caíram em abril 42,3% devido à Covid-19, assinala um relatório divulgado esta quinta-feira.
Os dados foram reunidos na edição especial Covid-19 do boletim trimestral Norte Conjuntura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDRN), a que a Lusa teve acesso, e que avaliam os "dois meses consecutivos" (abril e maio) em que Portugal viveu em estado de emergência devido à pandemia do novo coronavírus, com "várias atividades económicas encerradas".
O aumento do desemprego, que a nível nacional cresceu em 34%, afetava em maio 156.260 pessoas da região Norte, 79.626 dos quais na Área Metropolitana do Porto (AMP), ao passo que as exportações ficaram 1,1 milhões de euros abaixo do período homólogo de 2019, acrescenta o documento.
O Norte Conjuntura refere que a "redução de 42,3% das exportações em abril" surgiu "após uma queda de 16,6% em março".
"No conjunto dos dois meses, a região exportou menos 1,1 mil milhões de euros do que no período homólogo de 2019, cerca de 11% do valor exportado pela região em 2019", destaca.
A CCDR-N refere ainda a diminuição do número de horas trabalhadas: menos 33,7% na indústria do vestuário, 33,9% na fabricação de têxteis e 45,3% na indústria do couro e produtos do couro.
"A aplicação das medidas de 'lay-off' durante o estado de emergência conseguiu suster uma queda do emprego de amplitude equivalente nas indústrias com implantação mais consolidada na região", sustenta.
Em abril, "o número de desempregados inscritos nos centros de emprego aumentou em 18.710 face ao mesmo mês de 2019", um acréscimo de 14,1%.
A evolução "foi mais grave nas sub-regiões industrializadas", com o Alto Minho com um crescimento de 52,8% em abril e de 71,3% em maio.
Naquele mês, o aumento do desemprego foi também mais assinalável nas regiões do Cávado (32%), do Ave (31,5%) e do Tâmega e Sousa (28,2%).
"A AMP, com uma estrutura produtiva mais diversificada, observou um crescimento de menor amplitude (20,9%), ainda que, em valor absoluto, tenha sido a que teve o maior aumento de desempregados inscritos nos centros de emprego da região", refere.
Também em termos absolutos, no Tâmega e Sousa registaram-se, em maio, 19.352 desempregados, no Ave 18.006 e no Cávado 14.041, de acordo com uma tabela incluída no boletim.
No Douro, o desemprego aumento 3,2% (10.488 inscritos nos centros de emprego) e em Trás-os-Montes subiu 12,9% (4.054 inscritos).
Olhando para os concelhos mais exportadores do Norte, a CCDRN constata que o desemprego afetou, sobretudo, Vila Nova de Famalicão (subida de 50,8% no número de desempregados), Braga (27%), Maia (21,3%), Vila Nova de Gaia (11,9%), Guimarães (30,2%), Santa Maria da Feira (30,1%) e Porto (14,9%).
Em Oliveira de Azeméis, a variação foi, em maio, de 73,5%, em Barcelos de 45,2%, em Viana do Castelo de 65,5%, em Vila Nova de Cerveira de 79%, em Felgueiras de 61,6% e de 90,4% em São João da Madeira.
O boletim destaca ainda que, nos meses de confinamento obrigatório, "a atividade turística foi praticamente inexistente".
Em abril, "as dormidas diminuíram 95,3% e os proveitos totais baixaram 97% face a abril de 2019".
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 617.500 mortos e infetou mais de 15 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1702 pessoas das 49.150 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A "redução de 42,3% das exportações em abril" surgiu "após uma queda de 16,6% em março".
O número de desempregados da região Norte aumentou em 23,4% (29.600 pessoas) em maio, relativamente ao mesmo mês de 2019, e as exportações caíram em abril 42,3% devido à Covid-19, assinala um relatório divulgado esta quinta-feira.
Os dados foram reunidos na edição especial Covid-19 do boletim trimestral Norte Conjuntura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDRN), a que a Lusa teve acesso, e que avaliam os "dois meses consecutivos" (abril e maio) em que Portugal viveu em estado de emergência devido à pandemia do novo coronavírus, com "várias atividades económicas encerradas".
O aumento do desemprego, que a nível nacional cresceu em 34%, afetava em maio 156.260 pessoas da região Norte, 79.626 dos quais na Área Metropolitana do Porto (AMP), ao passo que as exportações ficaram 1,1 milhões de euros abaixo do período homólogo de 2019, acrescenta o documento.
O Norte Conjuntura refere que a "redução de 42,3% das exportações em abril" surgiu "após uma queda de 16,6% em março".
"No conjunto dos dois meses, a região exportou menos 1,1 mil milhões de euros do que no período homólogo de 2019, cerca de 11% do valor exportado pela região em 2019", destaca.
A CCDR-N refere ainda a diminuição do número de horas trabalhadas: menos 33,7% na indústria do vestuário, 33,9% na fabricação de têxteis e 45,3% na indústria do couro e produtos do couro.
"A aplicação das medidas de 'lay-off' durante o estado de emergência conseguiu suster uma queda do emprego de amplitude equivalente nas indústrias com implantação mais consolidada na região", sustenta.
Em abril, "o número de desempregados inscritos nos centros de emprego aumentou em 18.710 face ao mesmo mês de 2019", um acréscimo de 14,1%.
A evolução "foi mais grave nas sub-regiões industrializadas", com o Alto Minho com um crescimento de 52,8% em abril e de 71,3% em maio.
Naquele mês, o aumento do desemprego foi também mais assinalável nas regiões do Cávado (32%), do Ave (31,5%) e do Tâmega e Sousa (28,2%).
"A AMP, com uma estrutura produtiva mais diversificada, observou um crescimento de menor amplitude (20,9%), ainda que, em valor absoluto, tenha sido a que teve o maior aumento de desempregados inscritos nos centros de emprego da região", refere.
Também em termos absolutos, no Tâmega e Sousa registaram-se, em maio, 19.352 desempregados, no Ave 18.006 e no Cávado 14.041, de acordo com uma tabela incluída no boletim.
No Douro, o desemprego aumento 3,2% (10.488 inscritos nos centros de emprego) e em Trás-os-Montes subiu 12,9% (4.054 inscritos).
Olhando para os concelhos mais exportadores do Norte, a CCDRN constata que o desemprego afetou, sobretudo, Vila Nova de Famalicão (subida de 50,8% no número de desempregados), Braga (27%), Maia (21,3%), Vila Nova de Gaia (11,9%), Guimarães (30,2%), Santa Maria da Feira (30,1%) e Porto (14,9%).
Em Oliveira de Azeméis, a variação foi, em maio, de 73,5%, em Barcelos de 45,2%, em Viana do Castelo de 65,5%, em Vila Nova de Cerveira de 79%, em Felgueiras de 61,6% e de 90,4% em São João da Madeira.
O boletim destaca ainda que, nos meses de confinamento obrigatório, "a atividade turística foi praticamente inexistente".
Em abril, "as dormidas diminuíram 95,3% e os proveitos totais baixaram 97% face a abril de 2019".
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 617.500 mortos e infetou mais de 15 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1702 pessoas das 49.150 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
27.4.20
Tribunais ouvem pouco as crianças quando decidem sobre a vida delas
Cristina Pereira, in Público on-line
Investigação feita nas comarcas de Vila Real, Bragança, Braga e Viana do Castelo conclui que só um quinto das crianças tem oportunidade de se expressar nas secções de família e menores.
Um exemplo: “Cinco crianças estão abrangidas por medida de colocação em instituição há cerca de dez anos e nunca foram ouvidas." Outro exemplo: “A criança revelou que estava feliz – na ‘sua’ família, no seu ‘pedaço de céu’.” O tribunal tardou a ouvi-la. Insistia na adopção, apesar de ela já ter tido duas más experiências. Quando finalmente a ouviu, já com 15 anos, entendeu que estava bem na família de acolhimento.
Helga Castro mergulhou nos processos tutelares cíveis a correr nas secções de família e menores de quatro comarcas do Norte do país e concluiu que o espaço da justiça é “perpetuador de uma cultura endémica de não participação e violador dos direitos das crianças, na medida em que não ouve, não escuta e não considera os contributos prestados por elas”.
Oriunda de Trás-os-Montes e a fazer doutoramento em Estudos da Criança na Universidade do Minho, Helga Castro optou pelas comarcas de Braga, Bragança, Viana do Castelo e Vila Real. Não era só a proximidade – também a possibilidade de trabalhar os binómios litoral/interior, urbano/rural, instância local/instância central, competência especializada/competência genérica.
Para perceber como a justiça pensa a criança, a investigadora seleccionou todos os processos de adopção, todos os de entrega judicial, todos os de apadrinhamento civil. E cinco por cada ano de promoção e protecção. E outros tantos de regulação das responsabilidades parentais. Decorria o ano judicial 2014/2015 e havia processos a decorrer desde 1999. Acabou com 446, alguns com mais de mil páginas.
Os números não deixam espaço para dúvidas: “Num total de 728 crianças envolvidas nos 446 processos judiciais analisados, apenas 21% são participantes em 34% dos processos englobados na amostra.” Estes valores correspondem apenas a audição e participação das crianças que emerge de convocatória judicial determinada por um magistrado. Mesmo assim, parece-lhe “pouquíssimo”.
PÚBLICO - Aumentar
Há muito quem argumente que conceder à criança o direito de expressar a sua perspectiva, a sua opinião, o seu desejo é sujeitá-la a stress, a informação inapropriada à idade, a conflito familiar ou a outros danos. “É como se se acreditasse que vivem numa redoma”, lamenta. “Elas vivem a negligência, o abuso, o mau trato, mas não podem dizer com quem querem morar? Elas estão na origem da acção. Elas vão ser afectadas pela decisão.”
Acontece uma criança ser ouvida num processo-crime e não o ser no processo de regulação das responsabilidades parentais. Para ilustrar o quão absurdo isso pode ser, dá o exemplo de um pai que estava preso e que, por ordem do Tribunal de Família, recebia visitas regulares das três crianças. Só quando a mãe se queixou que as ameaças continuavam é que o juiz percebeu que estava a forçar uma criança abusada a visitar o abusador.
A idade não deve prender
A Convenção dos Direitos da Criança estipula que “os Estados garantem à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem”. A legislação nacional só obriga os tribunais a ouvir as crianças a partir dos 12 anos. Antes disso, cabe ao magistrado decidir ouvir ou não. Nas secções estudadas, a média de idades de audição situa-se nos 12-13. A “moda” estatística, em todas as secções, é 16.
Quando Helga Castro vai a conferências ou congressos – a propósito da sua tese de doutoramento intitulada O tempo da infância no (s) tempo (s) da justiça: uma análise do exercício dos direitos de participação das crianças nos processos judiciais e aprovada no ano passado na Universidade do Minho –, argumenta que não importa a idade, mas a maturidade e as circunstâncias. E há sempre quem lhe diga que “as crianças mentem, constroem, efabulam”. E ela retorque: “E os adultos não?”
Na análise dos processos, encontrou crianças muito novas com ideias muito claras. Eis um exemplo: “Questionado sobre a relação com a mãe e como estruturar os contactos entre ambos, a criança, com 10 anos, responde: 'Já esqueci no meu coração, agora só quero esquecer na minha cabeça.' ”
“Não é a idade que nos deve prender”, sustenta. “É saber se aquela criança é ou não capaz de compreender o que se está a passar e o que se vai passar, sendo certo que o sistema não está preparado para a participação das crianças”, prossegue. “Como é que a criança pode fazer este percurso sem que isso a vitimize? Devia ser por aí.”
PÚBLICO -Foto
INÊS FERNANDES
Condições diferem de local para local
Inegável que a ida a tribunal pode ser stressante, exigente e até intimidatória para qualquer criança. Primeiro, os espaços não estão adaptados às suas características. Depois, as crianças “não são suficientemente acolhidas, informadas e apoiadas quando participam”. Por último, muitos adultos, incluindo os magistrados, "não têm formação ou competência para as ouvir". E raramente chamam quem saiba fazê-lo.
Há muito que se desencoraja a presença de crianças em sala de audiências – “em virtude da disposição do espaço, da hierarquia que estabelece, da centralidade que acentua, do distanciamento que impõe”. No território em estudo, nem uma secção tinha ainda salas adaptadas. Numa, eram ouvidas num espaço exíguo ao lado do Ministério Público. Noutra, nos gabinetes dos magistrados. Noutra, nos gabinetes ou em videoconferência. Noutra, na sala de audiências.
Nem todos têm o mesmo acesso à justiça. E isso também se vê pelos números. Numa secção, apenas 25% dos processos tinham participação de crianças envolvidas. Noutra, 28,2%. Noutra, quase o mesmo, isto é, 28,3%. E noutra, 40,5%.
“A abordagem, os procedimentos, a forma como reconhecemos ou não a criança, decidimos ou não decidimos ouvi-la, isso não está balizado”, nota. Varia "de tribunal para tribunal, de região para região, consoante as competências, a sensibilidade, a disponibilidade para encontrar soluções (muitas vezes fora do espaço da justiça), da resiliência de cada um dos profissionais". “Fica aqui em causa tanta coisa.”
Que quer isto dizer? Que não é igual morar numa aldeia transmontana ou numa cidade minhota. Pense-se, por exemplo, na rede de transportes públicos. Há famílias que vivem com grandes carências económicas e têm de se deslocar dezenas de quilómetros para ir ao tribunal ou a um gabinete médico-legal. E magistrados que pedem aos bombeiros para assegurar o transporte ou recorrem a videoconferência.
Há exemplos dramáticos de crianças no sistema ao longo de muitos anos sem direito de falar. “Numa fratria de seis crianças, apenas uma, a mais velha, foi ouvida, com 15 anos e uma única vez; o processo tem nove volumes e aproximadamente 1300 páginas, implicou diversas medidas.” Outro exemplo: “Fratria de sete crianças; foram apenas ouvidas três delas (as mais velhas), mas apenas uma vez.”
Na ânsia de se expressar, algumas crianças mais expeditas escrevem cartas aos juízes ou apresentam-se nas secretarias dos tribunais. “Quero voltar para casa. Já não me lembro da última visita dos meus pais”, escreveu uma criança num bilhete que quis fazer chegar ao juiz. Numa carta, outra criança pede: “Quero que me mandes para uma família como têm as outras crianças.”
Investigação feita nas comarcas de Vila Real, Bragança, Braga e Viana do Castelo conclui que só um quinto das crianças tem oportunidade de se expressar nas secções de família e menores.
Um exemplo: “Cinco crianças estão abrangidas por medida de colocação em instituição há cerca de dez anos e nunca foram ouvidas." Outro exemplo: “A criança revelou que estava feliz – na ‘sua’ família, no seu ‘pedaço de céu’.” O tribunal tardou a ouvi-la. Insistia na adopção, apesar de ela já ter tido duas más experiências. Quando finalmente a ouviu, já com 15 anos, entendeu que estava bem na família de acolhimento.
Helga Castro mergulhou nos processos tutelares cíveis a correr nas secções de família e menores de quatro comarcas do Norte do país e concluiu que o espaço da justiça é “perpetuador de uma cultura endémica de não participação e violador dos direitos das crianças, na medida em que não ouve, não escuta e não considera os contributos prestados por elas”.
Oriunda de Trás-os-Montes e a fazer doutoramento em Estudos da Criança na Universidade do Minho, Helga Castro optou pelas comarcas de Braga, Bragança, Viana do Castelo e Vila Real. Não era só a proximidade – também a possibilidade de trabalhar os binómios litoral/interior, urbano/rural, instância local/instância central, competência especializada/competência genérica.
Para perceber como a justiça pensa a criança, a investigadora seleccionou todos os processos de adopção, todos os de entrega judicial, todos os de apadrinhamento civil. E cinco por cada ano de promoção e protecção. E outros tantos de regulação das responsabilidades parentais. Decorria o ano judicial 2014/2015 e havia processos a decorrer desde 1999. Acabou com 446, alguns com mais de mil páginas.
Os números não deixam espaço para dúvidas: “Num total de 728 crianças envolvidas nos 446 processos judiciais analisados, apenas 21% são participantes em 34% dos processos englobados na amostra.” Estes valores correspondem apenas a audição e participação das crianças que emerge de convocatória judicial determinada por um magistrado. Mesmo assim, parece-lhe “pouquíssimo”.
PÚBLICO - Aumentar
Há muito quem argumente que conceder à criança o direito de expressar a sua perspectiva, a sua opinião, o seu desejo é sujeitá-la a stress, a informação inapropriada à idade, a conflito familiar ou a outros danos. “É como se se acreditasse que vivem numa redoma”, lamenta. “Elas vivem a negligência, o abuso, o mau trato, mas não podem dizer com quem querem morar? Elas estão na origem da acção. Elas vão ser afectadas pela decisão.”
Acontece uma criança ser ouvida num processo-crime e não o ser no processo de regulação das responsabilidades parentais. Para ilustrar o quão absurdo isso pode ser, dá o exemplo de um pai que estava preso e que, por ordem do Tribunal de Família, recebia visitas regulares das três crianças. Só quando a mãe se queixou que as ameaças continuavam é que o juiz percebeu que estava a forçar uma criança abusada a visitar o abusador.
A idade não deve prender
A Convenção dos Direitos da Criança estipula que “os Estados garantem à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem”. A legislação nacional só obriga os tribunais a ouvir as crianças a partir dos 12 anos. Antes disso, cabe ao magistrado decidir ouvir ou não. Nas secções estudadas, a média de idades de audição situa-se nos 12-13. A “moda” estatística, em todas as secções, é 16.
Quando Helga Castro vai a conferências ou congressos – a propósito da sua tese de doutoramento intitulada O tempo da infância no (s) tempo (s) da justiça: uma análise do exercício dos direitos de participação das crianças nos processos judiciais e aprovada no ano passado na Universidade do Minho –, argumenta que não importa a idade, mas a maturidade e as circunstâncias. E há sempre quem lhe diga que “as crianças mentem, constroem, efabulam”. E ela retorque: “E os adultos não?”
Na análise dos processos, encontrou crianças muito novas com ideias muito claras. Eis um exemplo: “Questionado sobre a relação com a mãe e como estruturar os contactos entre ambos, a criança, com 10 anos, responde: 'Já esqueci no meu coração, agora só quero esquecer na minha cabeça.' ”
“Não é a idade que nos deve prender”, sustenta. “É saber se aquela criança é ou não capaz de compreender o que se está a passar e o que se vai passar, sendo certo que o sistema não está preparado para a participação das crianças”, prossegue. “Como é que a criança pode fazer este percurso sem que isso a vitimize? Devia ser por aí.”
PÚBLICO -Foto
INÊS FERNANDES
Condições diferem de local para local
Inegável que a ida a tribunal pode ser stressante, exigente e até intimidatória para qualquer criança. Primeiro, os espaços não estão adaptados às suas características. Depois, as crianças “não são suficientemente acolhidas, informadas e apoiadas quando participam”. Por último, muitos adultos, incluindo os magistrados, "não têm formação ou competência para as ouvir". E raramente chamam quem saiba fazê-lo.
Há muito que se desencoraja a presença de crianças em sala de audiências – “em virtude da disposição do espaço, da hierarquia que estabelece, da centralidade que acentua, do distanciamento que impõe”. No território em estudo, nem uma secção tinha ainda salas adaptadas. Numa, eram ouvidas num espaço exíguo ao lado do Ministério Público. Noutra, nos gabinetes dos magistrados. Noutra, nos gabinetes ou em videoconferência. Noutra, na sala de audiências.
Nem todos têm o mesmo acesso à justiça. E isso também se vê pelos números. Numa secção, apenas 25% dos processos tinham participação de crianças envolvidas. Noutra, 28,2%. Noutra, quase o mesmo, isto é, 28,3%. E noutra, 40,5%.
“A abordagem, os procedimentos, a forma como reconhecemos ou não a criança, decidimos ou não decidimos ouvi-la, isso não está balizado”, nota. Varia "de tribunal para tribunal, de região para região, consoante as competências, a sensibilidade, a disponibilidade para encontrar soluções (muitas vezes fora do espaço da justiça), da resiliência de cada um dos profissionais". “Fica aqui em causa tanta coisa.”
Que quer isto dizer? Que não é igual morar numa aldeia transmontana ou numa cidade minhota. Pense-se, por exemplo, na rede de transportes públicos. Há famílias que vivem com grandes carências económicas e têm de se deslocar dezenas de quilómetros para ir ao tribunal ou a um gabinete médico-legal. E magistrados que pedem aos bombeiros para assegurar o transporte ou recorrem a videoconferência.
Há exemplos dramáticos de crianças no sistema ao longo de muitos anos sem direito de falar. “Numa fratria de seis crianças, apenas uma, a mais velha, foi ouvida, com 15 anos e uma única vez; o processo tem nove volumes e aproximadamente 1300 páginas, implicou diversas medidas.” Outro exemplo: “Fratria de sete crianças; foram apenas ouvidas três delas (as mais velhas), mas apenas uma vez.”
Na ânsia de se expressar, algumas crianças mais expeditas escrevem cartas aos juízes ou apresentam-se nas secretarias dos tribunais. “Quero voltar para casa. Já não me lembro da última visita dos meus pais”, escreveu uma criança num bilhete que quis fazer chegar ao juiz. Numa carta, outra criança pede: “Quero que me mandes para uma família como têm as outras crianças.”
8.1.14
Tuberculose aumenta pela primeira vez desde 2002 no Norte
Alexandra Campos, in Público on-line
Ainda é cedo para retirar conclusões, mas responsáveis avisam que no futuro poderá ser mais difícil controlar a doença na comunidade.
Pela primeira vez numa década, o número de novos casos de tuberculose aumentou em 2012 no Norte, a região do país mais afectada pela doença. Apesar de o aumento ser ligeiro (1,5% face a 2011), a inversão da tendência de decréscimo que se verificava desde 2002 é destacada no relatório “A Tuberculose na Região de Saúde do Norte” que foi divulgado nesta terça-feira no portal da saúde.
“Não sabemos em que medida esta tendência registada em 2012 [mais 16 casos] reflecte uma melhoria da qualidade do sistema de vigilância, um aumento na detecção de casos ou um aumento do risco de contrair a doença”, ponderam os autores do documento. Mas deixam, desde logo, um aviso: “Se considerarmos a situação de crise socioeconómica que o país atravessa e o consequente agravamento dos determinantes sociais da tuberculose, é de prever que no futuro haja uma maior dificuldade de controlo da doença na comunidade”. Uma apreciação global dos principais indicadores da evolução da tuberculose na região “permite indiciar um eventual agravamento da situação epidemiológica da doença nos próximos anos”, acrescentam.
No total, na região Norte em 2012 foram diagnosticados 1080 casos, 83 dos quais foram retratamentos. O aumento face a 2011 aconteceu justamente “à custa dos casos com localização pulmonar e dos retratamentos”, acentuam os autores do relatório. O risco de contrair tuberculose está concentrado nas áreas urbanas, mas “em algumas regiões do interior a incidência de tuberculose tem-se mantido estável ou tem, até, aumentado”.
Apesar de se mostrar “preocupada” com a situação, Ana Maria Correia, que é coordenadora do Programa de Luta contra a Tuberculose na Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, alerta que é preciso olhar para estes números com cautela. “Podem significar apenas que diagnosticamos mais casos e não que o risco de contrair a doença tenha aumentado”, explica, lembrando que a tuberculose é muitas vezes de diagnóstico tardio.
Mas não poderá este constituir já um sinal dos efeitos da crise? “A crise até pode ter o efeito contrário. Por terem menos possibilidades, as pessoas recorrem mais tardiamente aos serviços de saúde, o que se reflecte numa falsa diminuição de incidência. Vamos ver o que aconteceu em 2013”, afirma, prudente. Ana Maria Correia recorda ainda que desde 2010 se observava já uma “lentificação” do decréscimo do número de novos casos de tuberculose – antes disso, a diminuição da incidência da doença estava a acontecer ao ritmo de quase 5% ao ano. “Estamos com uma atenção redobrada”, garante.
Mesmo pedindo cautela na interpretação dos números, Ana Maria Correia não deixa de frisar que em tempos de crise é necessário “reforçar a resposta” e criar condições para que as pessoas continuem a ter acesso fácil aos serviços de saúde.
Uma necessidade que também aparece sublinhada no relatório agora divulgado. No actual contexto, sustentam os autores do documento, “é da maior importância manter ou até reforçar a resposta dos serviços de saúde ao problema da tuberculose, procurando colmatar os constrangimentos nos recursos humanos disponíveis”, nomeadamente “garantindo condições para que os doentes cumpram o tratamento até ao fim”.
Os últimos dados a nível nacional disponibilizados no final do ano passado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) indicavam que, em todo o país, a variação no número de casos de tuberculose tinha estabilizado em 2012 (2599, menos 0,5% do que em 2011). Apesar disso e do decréscimo constante verificado ao longo dos últimos anos, Portugal continua a ser um país de incidência intermédia, com uma taxa acima dos 20 por 100 mil habitantes. O relatório divulgado pela DGS recomendava aliás igualmente que se mantivesse a estabilidade e assegurasse uma estratégia de desenvolvimento dos recursos humanos afectos ao Programa Nacional de Luta contra a Tuberculose. Chamava ainda a atenção para outro fenómeno, também destacado no documento da ARS do Norte: a tendência para a diminuição dos testes VIH nestes doentes.
Ainda é cedo para retirar conclusões, mas responsáveis avisam que no futuro poderá ser mais difícil controlar a doença na comunidade.
Pela primeira vez numa década, o número de novos casos de tuberculose aumentou em 2012 no Norte, a região do país mais afectada pela doença. Apesar de o aumento ser ligeiro (1,5% face a 2011), a inversão da tendência de decréscimo que se verificava desde 2002 é destacada no relatório “A Tuberculose na Região de Saúde do Norte” que foi divulgado nesta terça-feira no portal da saúde.
“Não sabemos em que medida esta tendência registada em 2012 [mais 16 casos] reflecte uma melhoria da qualidade do sistema de vigilância, um aumento na detecção de casos ou um aumento do risco de contrair a doença”, ponderam os autores do documento. Mas deixam, desde logo, um aviso: “Se considerarmos a situação de crise socioeconómica que o país atravessa e o consequente agravamento dos determinantes sociais da tuberculose, é de prever que no futuro haja uma maior dificuldade de controlo da doença na comunidade”. Uma apreciação global dos principais indicadores da evolução da tuberculose na região “permite indiciar um eventual agravamento da situação epidemiológica da doença nos próximos anos”, acrescentam.
No total, na região Norte em 2012 foram diagnosticados 1080 casos, 83 dos quais foram retratamentos. O aumento face a 2011 aconteceu justamente “à custa dos casos com localização pulmonar e dos retratamentos”, acentuam os autores do relatório. O risco de contrair tuberculose está concentrado nas áreas urbanas, mas “em algumas regiões do interior a incidência de tuberculose tem-se mantido estável ou tem, até, aumentado”.
Apesar de se mostrar “preocupada” com a situação, Ana Maria Correia, que é coordenadora do Programa de Luta contra a Tuberculose na Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte, alerta que é preciso olhar para estes números com cautela. “Podem significar apenas que diagnosticamos mais casos e não que o risco de contrair a doença tenha aumentado”, explica, lembrando que a tuberculose é muitas vezes de diagnóstico tardio.
Mas não poderá este constituir já um sinal dos efeitos da crise? “A crise até pode ter o efeito contrário. Por terem menos possibilidades, as pessoas recorrem mais tardiamente aos serviços de saúde, o que se reflecte numa falsa diminuição de incidência. Vamos ver o que aconteceu em 2013”, afirma, prudente. Ana Maria Correia recorda ainda que desde 2010 se observava já uma “lentificação” do decréscimo do número de novos casos de tuberculose – antes disso, a diminuição da incidência da doença estava a acontecer ao ritmo de quase 5% ao ano. “Estamos com uma atenção redobrada”, garante.
Mesmo pedindo cautela na interpretação dos números, Ana Maria Correia não deixa de frisar que em tempos de crise é necessário “reforçar a resposta” e criar condições para que as pessoas continuem a ter acesso fácil aos serviços de saúde.
Uma necessidade que também aparece sublinhada no relatório agora divulgado. No actual contexto, sustentam os autores do documento, “é da maior importância manter ou até reforçar a resposta dos serviços de saúde ao problema da tuberculose, procurando colmatar os constrangimentos nos recursos humanos disponíveis”, nomeadamente “garantindo condições para que os doentes cumpram o tratamento até ao fim”.
Os últimos dados a nível nacional disponibilizados no final do ano passado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) indicavam que, em todo o país, a variação no número de casos de tuberculose tinha estabilizado em 2012 (2599, menos 0,5% do que em 2011). Apesar disso e do decréscimo constante verificado ao longo dos últimos anos, Portugal continua a ser um país de incidência intermédia, com uma taxa acima dos 20 por 100 mil habitantes. O relatório divulgado pela DGS recomendava aliás igualmente que se mantivesse a estabilidade e assegurasse uma estratégia de desenvolvimento dos recursos humanos afectos ao Programa Nacional de Luta contra a Tuberculose. Chamava ainda a atenção para outro fenómeno, também destacado no documento da ARS do Norte: a tendência para a diminuição dos testes VIH nestes doentes.
Subscrever:
Mensagens (Atom)