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11.5.23

Famalicão agrava multas pelo consumo ilícito da água da rede pública

Olímpia Mairos, in RR

A coima máxima vai fixar-se nos 3.740 euros no caso das pessoas singulares, chegando aos 44.890 euros para as pessoas coletivas.

A Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão vai agravar as coimas aplicadas pela utilização ilegal e indevida da água da rede de abastecimento público.

Segundo a autarquia, a decisão vai ao encontro a um estudo da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR) que, recentemente, apontou o consumo ilícito de água da rede pública “como uma das principais razões para as grandes perdas de água que se registam no país, colocando em discussão pública um projeto de recomendação com procedimentos e boas práticas a adotar visando a redução dessas mesmas perdas”.

Neste contexto, a autarquia famalicense decidiu aumentar a coima mínima aplicada às pessoas singulares de 350 para 1.500 euros, subindo para 7.500 euros no caso das pessoas coletivas. A coima máxima vai fixar-se nos 3.740 euros no caso das pessoas singulares, chegando aos 44.890 euros para as pessoas coletivas.

Para o vereador do Ambiente, Hélder Pereira, esta é uma medida exemplificativa da “aposta séria” da autarquia no combate às perdas de água, acrescentando que “haverá uma maior fiscalização nas zonas em que se verifiquem picos de consumo e consumos anormais de água da rede pública”.

Uma medida que tem por base o documento elaborado pela ERSAR que indica que os consumos ilícitos efetuados pelos utilizadores advêm principalmente de atos de manipulação dos contadores e de ligações ilícitas.

De acordo com a autarquia de Famalicão, as manipulações de contadores podem ocorrer “com a imobilização ou destruição do contador através de ações mecânicas, térmicas ou outras, existindo também situações em que se verifica a remoção do próprio contador”.

Já quanto às ligações ilícitas, a autarquia explica que “estas podem ocorrer através de ligação direta à rede de distribuição, ligações a sistemas de incêndio ou ainda através de ligação em derivação (“bypass”) ao contador”.

Recorde-se que a situação de seca meteorológica se agravou em Portugal continental no mês de abril, estando 89% do território continental em seca, 34% da qual em seca severa e extrema, segundo os últimos dados do IPMA.

Em um mês, a área em seca em Portugal continental quase duplicou em relação a março, quando era de 48%.

De acordo com o último boletim climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), verificou-se no fim de abril um aumento significativo da área e da intensidade em seca meteorológica, destacando-se a região Nordeste na classe de seca moderada e na região sul os distritos de Setúbal, Évora, Beja e Faro nas classes de seca severa a extrema.

No Mira, o abuso de poder e a venda ilegal de água já levaram Governo a agir

Carlos Dias, in Público online

Violação de normas, abuso de poder, venda ilegal de água e a “forma displicente” como promove a conservação das infra-estruturas de rega impuseram a destituição da Associação de Beneficiários do Mira.

Várias denúncias “por alegadas irregularidades” cometidas pela direcção da Associação de Beneficiários do Mira (ABM) forçaram a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) à destituição do órgão gestor Aproveitamento Hidroagrícola do Mira (AHM) e a nomear uma comissão administrativa para assegurar a campanha de rega de 2023.

No despacho elaborado pela DGADR, datado de 20 Março de 2023 e assinado pela ministra da Agricultura e Alimentação (MAA), Maria do Céu Antunes, a que o PÚBLICO teve acesso, é feita a referência à prática de actos de “manifesto abuso de poder, (…) ao vedar a aferição da legalidade dos actos praticados e das deliberações tomadas, nomeadamente, impedindo a consulta de processos e documentos administrativos”.

De entre os fundamentos que sustentam a decisão da DGADR, destaca-se uma providência cautelar de “suspensão de eficácia de acto administrativo” requerida pela empresa Campo Sol, Lda., junto do Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja, em Agosto de 2022. A empresa queixa-se de ter sido privada do fornecimento de água, decisão que diz “violar as normas” a que a ABM está vinculada, “contrariando” assim o regulamento do AHM.

A Campo Sol, Lda. invoca, entre outros fundamentos que diz justificarem a providência cautelar, a criação de um “mercado paralelo e não regulamentado dos direitos de água”, em que os proprietários dos terrenos inseridos no AHM, que não exercem actividade agrícola, “vendem os seus direitos” da água de rega a “preços abusivos” aos agricultores, prática que será “intermediada por terceiros”, alega a empresa.

O despacho da DGADR refere ainda que, entre a prova documental exposta por aquela empresa, “consta documentação” respeitante a vários contratos de cedência de água a outros prédios, os quais foram aceites pela ABM e nos quais não é exercida qualquer actividade agrícola, sendo que tal prática – a utilização de água fora do local beneficiado – “consubstancia uma contra-ordenação” prevista no regulamento do AHM.

O negócio associado à venda ilegal de água entre agricultores que tinham débito atribuído mas não fizeram o seu uso para outros agricultores que dela necessitavam envolveu verbas que podem ter oscilado entre os 500 e os 2500 euros por hectare. Obviamente que os valores à volta desta água servida de forma clandestina não são oficiais. A prática está sob investigação e foi uma das causas que contribuíram para a destituição da direcção da Associação de Beneficiários do Mira. Não foi possível, no entanto, apurar qual o volume de água transaccionado de forma ilegal.

Perdido o financiamento para executar projecto

As denúncias formuladas pela DGADR à direcção da ABM estendem-se à “forma displicente” como a associação promove a manutenção e a conservação das infra-estruturas de rega. E destaca uma situação concreta: durante o ano de 2022, a DGADR “prorrogou por três vezes” o prazo para que a associação pudesse obter uma dotação orçamental de 30 milhões de euros, através do PDR2020, para “melhorar” a eficiência do sistema de rega do Mira.

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Este financiamento destinava-se à construção da estação elevatória de Santa Clara, à impermeabilização dos troços do canal condutor geral, do canal de Milfontes e do canal de Odeceixe, à reabilitação do sifão de Baiona e à construção de três reservatórios de regularização.

Contudo, o acesso ao financiamento obrigava a ABM a possuir um projecto de execução concluído e aprovado pelas entidades competentes, pelo que a DGADR deu indicações expressas para que a candidatura de construção da nova estação elevatória de Santa Clara, considerada no actual contexto de escassez de água, fosse, obrigatoriamente, apresentada até ao dia 2 de Setembro de 2022.

Mas acontece que o respectivo projecto de execução "nunca foi aprovado pela DGADR", refere-se no despacho, que acrescenta: o documento submetido pela ABM para apreciação não era um projecto de execução, mas um projecto de concepção-construção. Assim, até ao momento, a ABM “não conseguiu obter financiamento para nenhuma das intervenções consideradas de importância relevante", conclui o documento.

O nível de água mais baixo dos últimos 50 anos

A albufeira da barragem de Santa Clara armazena, neste momento, 172,4 hm3 dos 485 hm3 que pode receber, o que equivale a 36% da sua capacidade máxima. É o mais baixo dos volumes de água registados ao longo dos últimos 50 anos, ou seja, desde que a barragem foi inaugurada, limitação que obrigou à instalação de um sistema de bombeamento para fornecer água à agricultura e assegurar o consumo humano.

Actualmente, a albufeira de Santa Clara, está a ser explorada no seu volume morto (244.7 hm3), resultado de sucessivos anos em que se registaram consumos superiores às afluências, dada a fraca precipitação atmosférica que surge associada às perdas de água por evaporação e no circuito hidráulico colocando em causa as várias utilizações que suporta.

A progressiva escassez de recursos hídricos forçou à instalação um novo sistema de captação que ultrapassasse a limitação do actual (107 metros acima do nível do mar). Neste sentido foi autorizada em Outubro de 2022 a captação de água até à cota 105 metros e a redução do volume reservado para a agricultura, que passou de 80,5 hm3/ano para 60,5 hm3/ano. Mesmo assim, a redução do volume de armazenamento acentuou-se de então para cá nesta área do Mira. Para a campanha de rega de 2023 vão ser disponibilizados 14,3 hm3.

Os pequenos frutos (framboesas, mirtilos e amoras) na maioria produzidos em estufa e em vaso, são responsáveis pelo consumo de 39% e a horticultura por 36% dos recursos hídricos disponibilizados pela barragem para a agricultura, totalizando os dois 75%.

Os consumos da campanha de rega de 2022 ascenderam aos 32 de hm3. Para 2023 está previsto um débito de 14,3 hm3, sendo que deste volume, cerca de 10,8 hm3 (75%) serão destinados à rega de culturas em estufa e em vaso, mais hortícolas.

Em 2022 a área inscrita para rega foi de 9188 hectares. Em 2023 a área inscrita aumentou para os 9725 hectares.
Situações anómalas na campanha de rega de 2021

As situações anómalas na gestão da ABM estendem-se à elaboração da campanha de rega de 2021, depois de a DGADR ter constatado que os valores reportados pela associação “suscitaram fundadas dúvidas”, entre outros, os relativos às áreas e culturas regadas dentro e fora do perímetro, neste último caso, os chamados agricultores precários (com explorações fora do perímetro de rega).

Os dados apresentados pela ABM para o ano de 2021, ao serem comparados com os de 2020, levam à “constatação” de que as áreas de culturas permanentes precárias “deixaram de existir”, mas, em contrapartida, as áreas de culturas permanentes dentro do perímetro de rega “passaram a ser” o somatório das áreas localizadas “dentro” e “fora” do regadio”.

Ou seja: em 2021, devido às restrições impostas pelos recursos hídricos disponíveis, deixaram de existir utentes precários, mas as áreas dentro do perímetro de rega aumentaram. E, nalguns casos, a soma das áreas de cultivo dentro e fora dos blocos de rega em 2020 “é igual ou muito aproximado dos valores enviados relativos ao ano de 2021”.

A ABM informou que os dados apresentados resultam de "instruções internas do serviço relacionadas com as restrições ao consumo impostas na campanha de 2021, assim apenas foi permitido a inscrição de áreas beneficiadas contabilizando-se para efeitos estatísticos apenas dentro do Aproveitamento Hidroagrícola do Mira.”

Para o planeamento da campanha de rega de 2023 “ainda não foram definidos” os critérios de atribuição dos 14,3 hectómetros cúbicos de água que este ano foram destinados à agricultura de regadio, apesar de já estar a decorrer.

A DGADR não se conformou com a resposta e a troca de argumentos entre as duas entidades manteve-se ao longo de quase seis meses. Até que em Dezembro de 2022 a ABM informou que “… procedeu novamente à verificação dos dados relativos às culturas permanentes do AHM, tendo-se concluído que os valores indicados no relatório e contas de 2021, nos quadros das áreas regadas, contêm um lapso…”, que será corrigido para ser incluído no relatório e contas de 2022. A DGADR continua a aguardar que lhe seja enviada a alteração prometida.

Entretanto, para o planeamento da campanha de rega de 2023, “ainda não foram definidos” os critérios de atribuição dos 14,3 hectómetros cúbicos de água que este ano foram destinados à agricultura de regadio, apesar de já estar a decorrer.

O volume de água a debitar para o regadio está sujeito aos critérios de atribuição plasmados no Plano de Contingência para Situações de Seca, adaptado às condições actuais de reduzidas disponibilidades de água, de “forma a reduzir o impacto económico e social na área beneficiada pelo AHM”, explica a direcção-geral.

Neste sentido, a DGADR, entre as várias directivas e instruções que diz já ter transmitido à ABM, salienta que o planeamento de rega “deveria ratear áreas a regar, considerar as inscrições para os beneficiários que regaram na campanha de 2022, excepto caso haja investimentos já comprometidos, e divulgar de forma activa a impossibilidade de regar novas áreas”. Ficam assim impedidas novas culturas em estufa.

E a campanha de 2023?

O planeamento da campanha de 2023 deixará de atribuir a dotação de rega “igual para todos os tipos de usos, uma vez que não são usos igualmente prioritários e com necessidades de água equivalentes”. Foi, igualmente, dada orientação na priorização do tipo de culturas, onde, por exemplo, “as culturas não agrícolas não seriam prioritárias (relva e floricultura)”, decisão que abrange a empresa Camposol Lda.

Da falta de implementação atempada do Plano de Contingência (PC) e da garantia na operacionalidade do Plano de Investimentos (PI), “poderão advir consequências extraordinariamente gravosas para a actividade das empresas agrícolas instaladas no perímetro de rega” que poderão ser “geradoras de responsabilidade civil extracontratual para a entidade gestora e para o Estado português”, assinala o despacho da DGADR.

Este organismo entende que deverão ser tomadas “medidas urgentes para pôr cobro a esta situação”, revelando que já está em curso um Inquérito Administrativo por “existir uma deficiência grave na actuação da direcção da ABM”. O despacho conclui que esta entidade “mostra-se incapaz de implementar e concretizar os PC e PI e não possui uma visão estratégica que permita, pelo menos, assegurar a campanha de rega de 2023”.

Assim, a direcção-geral propôs ao Ministério da Agricultura a “destituição da direcção da ABM e a nomeação, em sua substituição, de uma comissão administrativa que assegure com urgência a campanha de rega de 2023”.

Nos esclarecimentos prestados ao PÚBLICO, o presidente da direcção da ABM, Miguel Figueira, adiantou que o procedimento administrativo, iniciado pela DGADR, com vista à “eventual demissão” do órgão a que preside “foi oportunamente e tempestivamente respondido”, acrescentando que foram refutados “todos os factos que lhe eram apontados”.

Em relação à interposição da providência cautelar requerida pela empresa Campo Sol, Lda., Miguel Figueira disse que a acção da empresa se enquadra “no exercício dos normais direitos vivenciados em democracia, cabendo aos tribunais aferir a sua procedência ou improcedência”, frisando ainda que a direcção da ABM “actuou sempre dentro das suas competências estatutárias e de acordo com os limites que as leis lhe impõem”.

O PÚBLICO questionou a Campo Sol Lda. sobre as decisões tomadas pela ABM e as consequências resultantes para a empresa, mas até ao momento não recebeu qualquer resposta.

3.11.20

Portugal tem a maior pegada alimentar do Mediterrâneo

in Público on-line

Se todas as pessoas no mundo consumissem como os portugueses, precisaríamos de 2,3 planetas Terra, concluiu estudo da Universidade de Aveiro.

Portugal importa 73% dos alimentos e é o país mediterrânico com a maior pegada alimentar per capita, conclui um estudo da Universidade de Aveiro (UA), divulgado esta segunda-feira. “A alimentação pesa 30% na pegada ecológica dos portugueses, mais do que os transportes ou o consumo de energia, percentagem que faz de Portugal o país mediterrânico com a maior pegada alimentar per capita”, referem os investigadores.

De acordo com os dados constantes daquele trabalho científico, a pegada ecológica nacional, por habitante, é superior à biocapacidade do país ou do próprio planeta. “Significa que, se todas as pessoas no mundo consumissem como os portugueses, precisaríamos de 2,3 planetas Terra”, refere o estudo, revelando que 20% dizem respeito aos transportes e 10% à habitação.

“A pegada alimentar avalia em hectares globais (gha) a quantidade de recursos naturais que necessitamos para produzir o que comemos num ano. Sabendo que o país tem anualmente um ‘orçamento natural’ de 1,28 gha por habitante [valor de 2016], percebemos que só para nos alimentarmos ‘gastamos’ 1,08gha, ou seja, 84% desse orçamento”, aponta Sara Moreno Pires, professora do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da UA.

Segundo a investigadora, grande parte da biocapacidade necessária para a alimentação da população portuguesa provém de outros países, como Espanha, França, Ucrânia ou mesmo China e Senegal, o que implica uma pressão e uma dependência desses ecossistemas. “Portugal é, por esses motivos, o pior país de 15 países do Mediterrâneo no que diz respeito à pegada alimentar”, alerta.

Portugal é o terceiro maior consumidor de pescado do mundo, com cerca de 61,7 quilos consumidos por pessoa em 2017, e 60% da biocapacidade para produzir esse pescado vem de outros países, sendo Espanha um dos principais parceiros comerciais. “A elevada intensidade da pegada ecológica de peixes como o atum, espadarte e bacalhau e a sua força cultural na alimentação portuguesa salientam ainda mais o impacto elevado do consumo de peixe na pegada alimentar”, destaca o trabalho.

O estudo identifica a dependência da biocapacidade de países estrangeiros (como a Espanha, França, Brasil, ou mesmo a China) para produzir recursos alimentares, de modo a satisfazer a procura dos portugueses, sendo as categorias mais dependentes as de “pão e cereais” (em que se importa quase 90% dos hectares globais necessários à sua produção), “açúcar, mel, doces e chocolate” (com um importação na ordem dos 80%) ou “gorduras alimentares” (com cerca de 73%).

Para além da relação comercial com países europeus, o estudo aponta a dependência de países como Uruguai na carne, África Ocidental e Senegal no peixe, EUA no leite e produtos lácteos, Argentina, Canadá e Brasil nas gorduras alimentares ou frutos e China nos frutos e nos vegetais.

O estudo intitulado Transição alimentar sustentável em Portugal: uma avaliação da pegada das escolhas alimentares e das lacunas nas políticas de alimentação nacionais e locais, assinado por investigadores da UA e da Global Footprint Network, conclui pela insustentabilidade dos padrões alimentares dos portugueses e a ainda frágil estrutura de políticas públicas para inverter essa tendência. Para além de Sara Moreno Pires, assinam o trabalho pela Universidade de Aveiro Armando Alves e Filipe Teles.

25.6.13

"Não podemos esperar dos políticos toda a mudança"

por Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral, in Diário de Notícias

Hoje há mais consciência sobre a necessidade de proteger o ambiente, mas as pessoas ainda acham que "não podem fazer a diferença", destaca a ativista Jane Goodall, alertando que "todos temos mais do que precisamos".

Em entrevista à Lusa, em Lisboa, onde participou numa sessão de cinema e será oradora numa conferência internacional, a ativista britânica, de 79 anos, sublinhou que há "uma consciencialização crescente".

Mas "a pobreza descomunal" persiste "em muitas partes do mundo", enquanto noutras se mantém um "estilo de vida não sustentável", compara, alertando: "Todos temos mais do que precisamos e muitos têm muito mais do que precisam."

"Quando se é muito pobre, cortam-se as últimas árvores para tentar cultivar alimentos, compram-se os produtos mais baratos, ainda que tenham implicações no ambiente e nas pessoas", realça.

Tudo está interligado: pobreza, fome, sobrepopulação, destruição ambiental. "Estamos num planeta com cada vez menos recursos naturais, mas ninguém parece perceber que todo este desenvolvimento económico a expensas do ambiente significa, muitas vezes, os ricos ficarem mais ricos e os pobres ficarem mais pobres", diz.

Os cidadãos não podem esperar dos políticos toda a mudança necessária, porque "há uma espécie de ligação entre companhias farmacêuticas, agroindústria, indústria de armamento e governos", sobre a qual pairam o suborno e a corrupção, observa.

Isso explica, em parte, que países em desenvolvimento estejam a cometer "os mesmos erros" do que os países desenvolvidos. Mas o que deixa Goodall triste é ter conhecido líderes africanos que percebiam a importância de proteger o ambiente e de subordinar o desenvolvimento à preservação da vida selvagem, mas depois, quando foram eleitos, deixaram-se "corromper pelo poder".

"Satisfeita" com o papa Francisco, por este ter abordado, num discurso perante os seus "milhões de seguidores", a importância do ambiente, a ativista não duvida de que, "só quando organizações como as Nações Unidas e indivíduos com poder assumirem uma posição forte, caminharemos na direção certa".

"Ainda não estamos aí", reconhece. A consciencialização ambiental existe, mas ainda pode ser reforçada.

Goodall critica o "pobre desempenho" da educação pública "na maioria dos países", que "obriga as crianças a memorizar e a fazer testes estúpidos".

Fundadora do programa educativo Roots&Shoots, que transmite aos jovens o conhecimento para melhorar a vida de pessoas e animais, Goodall foi convidada por Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, para ser Mensageira da Paz.

Presente em 130 países, desde o pré-escolar à universidade, o Roots&Shoots "tem feito uma grande diferença", apesar das "dificuldades de financiamento", diz.

"A minha missão é tentar ajudar as pessoas a perceberem que cada um de nós tem influência, todos os dias, e faz uma escolha sobre o impacto que produz", adianta, observando que os cidadãos estão perante "uma imagem tão horripilante que se sentem inúteis e não fazem nada".

"Se conseguirmos pôr centenas, milhares, milhões, eventualmente milhares de milhões de pessoas a pensarem nas consequências do que fazem todos os dias e do que compram -- onde foi feito, envolve exploração infantil, sofrimento animal, prejudica o ambiente? --, começaremos a dirigir-nos para a mudança", acredita.

Admitindo que uma só pessoa "não pode fazer a diferença", a ativista garante que "milhões de pessoas normais podem".

Goodall aprendeu "a humildade" com os chimpazés. Estudou-os durante anos e passou a entender melhor os humanos. Basicamente, o que distingue os humanos de outros animais é "o desenvolvimento impressionante do intelecto". Portanto, "a questão de um milhão de dólares é: como é que a espécie mais inteligente que alguma vez viveu no planeta está a destrui-lo?", atira.