18.9.07

Portugal é um dos países onde tirar um curso mais compensa

Isabel Leiria, in Jornal Público

Um trabalhador licenciado ganha em média mais 80 por cento do que uma pessoa que só tenha concluído o ensino secundário

Na faixa etária entre os 25 e os 34 anos, 19 por cento já tem uma licenciatura em Portugal. Na OCDE a média é de 32 por cento


a É um facto que a relação está presente em todos os países da OCDE: quanto mais altas as habilitações académicas, mais elevado é o salário. Mas em Portugal esta ligação é particularmente forte. Em média, um licenciado recebe 80 por cento mais do que um trabalhador que apenas concluiu o secundário. É uma das maiores diferenças encontradas entre os 25 Estados-membros da organização, só superada na Hungria e na República Checa.

Outro dado que comprova que estudar compensa: em nenhum outro país um trabalhador que apenas completou o ensino básico é tão penalizado em termos de rendimentos. Em média, recebe 57 por cento do salário de quem tem o 12.º ano. E em ambos os casos as diferenças têm-se acentuado ao longo dos anos. O que se tem mantido é a diferença salarial entre homens e mulheres, com prejuízo para elas.

Mais um recorde: em Portugal quase 60 por cento das pessoas que recebem duas vezes mais do que a média nacional são licenciadas. Entre os que apenas completaram o 9.º ano, só 7,5 por cento podem dizer o mesmo. As baixas qualificações da população portuguesa podem ajudar a explicar esta valorização.

Estes são alguns dos dados apresentados no relatório da OCDE Education at a Glance 2007, que é hoje divulgado.

Ao longo de mais de 450 páginas, apresentam-se milhares de indicadores relativos aos sistemas de ensino de cada um dos Estados-membros e que permitem constatar algumas características.

Se a valorização das qualificações em Portugal fica demonstrada - igualmente ao nível das taxas de emprego, ainda que de forma muito menos acentuada -, para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico também ficou claro algo de negativo. "A maior selectividade no acesso ao ensino superior encontra-se em Portugal", lê-se no relatório, que analisou (para os dez países para os quais havia dados) em que medida o estatuto sócio-económico dos pais condiciona o prosseguimento de estudos dos filhos.

O relatório concluiu que em Portugal essa relação é determinante. Há uma sobrepresentação de filhos de licenciados no superior e estes jovens têm 3,2 vezes mais probabilidade de vir a tirar um curso do que seria normal.

Já na Irlanda, que a par de Espanha e da Finlândia são apontados como países onde a equidade no acesso à educação está mais garantida, o rácio é de 1,1, o que significa que as habilitações académicas dos pais pouca influência têm no percurso dos filhos.
Outro indicador que demonstra essa selectividade prende-se com a ocupação dos progenitores. Por exemplo, se em Portugal os denominados "trabalhadores operários" ("blue-collar" na designação inglesa) representam mais de metade da população masculina entre os 40 e os 60 anos, já os filhos deste grupo constituem menos de 30 por cento dos universitários.

Mais inscritos
Apesar destes constrangimentos, a verdade é que o ensino superior tem registado um aumento significativo do número de inscritos e Portugal não foge à regra. Na faixa etária entre os 25 e os 34 anos, 19 por cento já tem uma licenciatura. O número contrasta com os 32 por cento de média na OCDE. Mas a verdade é que entre os 35 e os 44 anos essa percentagem é apenas de 13 por cento.

Quanto às denominadas taxas de sobrevivência - percentagem dos que se inscrevem num curso superior e não o concluem, pelo menos no tempo normal -, os dados mostram que 34 por cento dos alunos falham este objectivo. A média da OCDE encontra-se nos 30 por cento.