17.9.07

Famílias alvo do Rendimento de Inserção sofrem estigma

João Moniz, in Destak.pt

Estudo apresentado hoje, em Ponta Delgada, faz balanço de dez anos de Rendimento Social de Inserção (RSI).


As famílias que beneficiam do Rendimento Social de Inserção (RSI) ainda vivem limitadas, mas existem indicadores claros de que esta realidade está a melhorar. Esta é uma das principais conclusões de um estudo que a psicóloga Helena Marujo vai apresentar hoje durante o Fórum Comemorativo dos 10 anos do RSI, organizado pelo Governo açoriano, em Ponta Delgada.

A investigação consistiu num inquérito com 40 perguntas abertas enviado a 1500 famílias das nove ilhas - 1200 responderam.

«Nota-se uma grande evolução dos pais para os filhos na forma de lidar com as situações negativas da vida. A família está sempre no centro, mas as novas gerações têm planos mais concretos para o futuro», revela ao Destak Helena Marujo. Ambições que, por vezes, são dificultadas pelos preconceitos.

Maioria não voltava a casar
A maioria dos jovens destas famílias carenciadas queixa-se do estigma social, desejando apenas «não ser rotulado, mas sim tratado como as outras pessoas».

Já a maior parte dos pais faz uma avaliação negativa do seu papel na família. «Como muitos têm histórias de infância violentas que ainda não conseguiram resolver, acabam por revelar-se incapazes de amar a família como desejavam», explica a psicóloga.

Talvez por isso muitas das mulheres afirmam que se pudessem voltar atrás no tempo não se teriam casado. Isto apesar de muitas delas serem dependentes dos maridos, devido a um défice de educação. Daí que enfatize a necessidade de «investir mais nas escolas, para se fazer uma renovação dos hábitos através do processo educativo». Até porque, insiste, «existem sinais de esperança. Muitas das famílias que já deixaram de receber o RSI apresentam resultados muito equilibrados e existe uma atitude cada vez mais pró-activa destas pessoas».

Quase 300 mil beneficiários
O Pe. Agostinho Moreira, da Rede Europeia Anti-Pobreza, não é tão optimista. «O RSI é importante para ir de encontro à pobreza extrema e deve manter-se desde que bem aplicada», explica à Ecclesia.

No entanto, refere que «falta acompanhamento e fiscalização» para garantir que o RSI cumpre o seu propósito: uma medida transitória que leve à inclusão.

Segundo dados da Segurança Social relativos a Maio, 105 768 famílias, num total de 293 773 pessoas, beneficiavam do RSI. Em média, cada família recebe 224,7 euros.