20.9.07

Portugueses figuram entre os que mais cedo saem da escola

Alexandra Inácio, in Jornal de Notícias

Educação em Portugal não consegue libertar-se da cauda da Europa


Apenas 26% dos portugueses, entre os 25 e 64 anos, possui o ensino secundário. Menos de metade da média dos restantes países da OCDE (68%). Abaixo de Portugal, só o México (21%).

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico divulgou ontem o relatório "Panorama da Educação de 2007" e a baixíssima taxa portuguesa de conclusão do secundário, associada ao abandono escolar, é, apenas, uma das conclusões.

A média sobe se estreitarmos a faixa etária. Quarenta e três por cento dos portugueses entre os 25 e 34 anos concluiram o secundário. Mesmo assim, Portugal continua muito longe da média da OCDE (77%) e a "anos-luz" de países como a República Checa, onde 94% dos jovens concluem o secundário. Espanha e Itália são os países mais próximos, com taxas de 64 e 66%, respectivamente. Neste ítem, Portugal só acompanha os restantes países na tendência de serem cada vez mais as mulheres a concluirem os estudos - 37% dos portugueses contra 49% das portuguesas.

Basta de "super-reformas"

O lugar na cauda da Europa não é novo. Para Álvaro Domingues, geógrafo da Universidade de Arquitectura do Porto, trata-se de "uma chaga" já estrutural da nossa sociedade. E, em vez de cada Governo anunciar "super-reformas", o país deveria esperar pelos resultados das experiências testadas, para definir estratégias.

"Têm de ser criadas alternativas" ao sistema de ensino tradicional, insiste, defendendo que a aposta nos cursos tecnico-profissionais deverá ser determinante, assim como arrasada a "fractura entre politécnicos e universidades. O sistema tem de ser muito abanado". Como? Por exemplo, através da dignificação da formação profissional, defende o docente, reconhecendo que essa é uma mudança socio-cultural que o país tem de realizar, se quer diminuir as taxas de abandono e insucesso escolar.

Álvaro Domingues considera que a discussão sobre o ensino em Portugal está"bloqueada". Resume-se ao "embate entre sindicatos e ministra e a esfera pública não discute as expectativas sobre o papel da escola". O relatório da OCDE refere que é entre os 13 e os 15 anos que mais jovens abandonam a escola e começam a trabalhar. Outro dado, sublinha o académico, que não mudou nos últimos 20 anos. É fundamental que os "mundos do ensino e do trabalho se aproximem", alega.

O documento também analisa a eficiência do sistema de ensino, através da relação directa entre o nível de qualificação e os salários auferidos. A conclusão de que quanto mais altas as habilitações mais elevados os rendimentos é ainda mais evidente no caso português em média, um licenciado recebe 80% mais do que um trabalhador que concluiu o secundário. E os portugueses que só completaram o básico são ainda mais penalisados: de acordo com o relatório, recebem, em média, 57% do montante auferido por quem tirou o 12º.