28.9.07

Gabinete de apoio social combate exclusão na Quinta da Princesa

Sandra Brazinha, in Jornal de Notícias

Combate à exclusão social e à solidão é objectivo do serviço de proximidade que apoia idosos e jovens


O Bairro da Quinta da Princesa, no Seixal, usufrui há 12 anos de uma valência personalizada de apoio social. Único no concelho, o Serviço de Proximidade da Quinta da Princesa permite à Câmara Municipal trabalhar directamente com a população mais carenciada. Combater a solidão é uma das apostas fortes. Numa sala exclusiva para esse fim, cerca de 20 mulheres encontram-se três vezes por semana para conversar. "O objectivo é partilhar experiências, ocupar os tempos livres e combater a solidão e a exclusão social", explica a técnica do município, Clarisse Guerreiro.

Para estas mulheres, que têm problemas monetários e de saúde, as sessões funcionam como uma espécie de terapia. "A gente conversa, ri e distrai-se. Sozinha em casa ficava muito triste", disse ao JN Antónia Ferreira, de 71 anos. "Quando temos qualquer problema vimos logo para aqui, porque eles ajudam-nos", realça a cabo-verdiana, que vive em Portugal desde 1977.

"Estas pessoas são maravilhosas. Gosto muito de vir para cá, porque convivo e esqueço tudo", diz Mariana Fernandes, de 69 anos, de Moçambique, que mora no bairro há mais de 30 anos. Isabel Campos, de 58 anos, reside há 28 anos no bairro e adora as sessões de convívio. "Sou viúva, tive várias depressões e desde que estou aqui sinto-me muito melhor", salienta, acrescentando que chega a casa "mais leve e desanuviada".

Mileida de Brito Gomes é a mais nova do grupo. "Gosto de estar aqui e conversar com estas senhoras para me divertir um pouco", frisa a jovem de 15 anos que veio de Cabo Verde há sete meses para ser operada ao coração.

"Conversamos e fazemos umas visitas a locais bonitos", observa, por outro lado, Fernanda Carvalho, de 83 anos. A moçambicana defende que "as pessoas deviam frequentar mais estas sessões".

Por outro lado, as crianças e jovens têm direito ao serviço de apoio ao estudo e a actividades de tempos livres, numa sala que acolhe um total de 100 alunos. "Fizemos a articulação da escola com o Programa Escolhas e todos os dias trabalhamos com uma turma", conta a coordenadora Soraia Issufo, que defende o prolongamento do horário do gabinete que normalmente encerra às 18 horas " Há pais que chegam a casa só às 20 horas", justifica

Bairro de imigrantes
O Bairro da Quinta da Princesa foi edificado há mais de 30 anos, depois do 25 de Abril de 1974. Segundo um levantamento oficial, efectuado há cinco anos, viviam 1300 pessoas no bairro. A população é maioritariamente composta por imigrantes, oriundos de Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau, Brasil, e mais recentemente da Ucrânia.

Problemas frequentes
A situação económica ou habitacional, a regularização de documentação e a integração dos menores em estabelecimentos de ensino, creches ou jardins-de-infância são os problemas que levam a comunidade a pedir ajuda. Afectados pelo desemprego, são poucos os que usufruem do Rendimento Social de Inserção. Muitas famílias vivem de pensões que rondam os 200 euros.

Crianças sozinhas
Há uma média de três pessoas por apartamento, sendo que no mínimo o agregado familiar tem apenas um indivíduo e no máximo nove. Cerca de metade dos pais trabalha e deixa os filhos sozinhos em casa. Segundo a Câmara há sempre pessoas a sair e a entrar, sejam legais ou ilegais, o que revela uma grande mobilidade no bairro.