Ana Fernandes, in Jornal Público
Depois da bolha dos preços das matérias-primas que se viveu entre 2007 e 2008, os preços dos cereais já caíram mais de 40 por cento desde a Primavera de 2008. No entanto, não voltarão a descer para onde estiveram nas últimas décadas, se bem que as incertezas são enormes. Mas algo se mantém elevado: o preço dos factores de produção, o que está a dificultar a vida dos agricultores.
No V Colóquio do Milho, que decorreu ontem em Tomar, Pierre Bascou, da Comissão Europeia, traçou um cenário incerto sobre os mercados agrícolas da União nos próximos tempos. E embora admita que a situação dos cereais possa manter-se estável, trouxe más notícias para o sector da pecuária, que ficará cada vez mais dependente das importações. Assim como o sector aviário, que passará a comprar cada vez mais em países terceiros.
A queda nos preços dos cereais pode ser explicada pelo aumento da produção - mais 54 milhões de toneladas em 2009 na União Europeia, o que permitirá aumentar os stocks, em Junho de 2009, em 18 milhões de toneladas. Porém, as reservas mundiais continuam numa situação frágil, ainda abaixo do que existiam no início deste século.
Sobre o futuro, muito dependerá da recuperação da situação económica mundial, que pode retrair o consumo, assim como das negociações no seio da Organização Mundial de Comércio e de factores como as alterações climáticas ou os biocombustíveis.
Arlindo Cunha, ex-ministro da Agricultura, considera que os preços continuarão num patamar mais alto do que estiveram até 2006, lembrando que a oferta de cereais poderá não conseguir acompanhar a procura devido às restrições na disponibilidade de terra e ao facto de o efeito tecnológico já não conseguir ter o impacto que teve no passado.
Acusações ao ministro
À margem do colóquio, o ministro da Agricultura foi acusado, por Luís Vasconcellos e Souza, presidente da Associação de Produtores de Milho (Anpromis), de "apenas pretender induzir em erro os contribuintes", usando "mentiras" e "confundindo os números deliberadamente".
O governante tinha dito que os produtores receberam em 2008 75 milhões de euros, mas o dirigente associativo lembra que essa verba não é do Estado, mas sim de Bruxelas, e não se destina ao investimento.
A polémica surge depois de, na véspera, Vasconcellos e Souza ter dito que, ao contrário dos outros sectores, os investimentos na agricultura estão suspensos, não havendo apoios, estando-se assim a perder fundos comunitários a que o país tinha direito. Segundo Vasconcellos e Souza, os números avançados pelo ministro referem-se ao regime de pagamento único que é distribuído com base no histórico das explorações, e que não implica que o agricultor ainda esteja a produzir. Outra coisa são os projectos de investimento, que são também apoiados por Bruxelas mas que exigem contrapartida nacional, tanto com dinheiros públicos como privados. É para estes que se destina o Plano de Desenvolvimento Rural, que vigora de 2007 a 2013, mas cuja aplicação ainda mal arrancou.


