Roberto Dores, in Diário de Notícias
Crise. A solução não é aumentar salários, assume economista
Aos 60 anos o economista Daniel Bessa está a assistir à maior crise económica de sempre. Contudo recusa-se a aceitar que a actual recessão sirva de pretexto para que as empresas procedam a despedimentos quando apresentam margens de lucro. Numa conferência que ontem teve lugar em Azeitão (Setúbal) até fez questão de deixar um alerta aos empresários deste país: "Este é um tempo de sofrimento, mas a regra de ouro é sobreviver. Quem sobreviver, no final disto tudo, estará muito melhor."
A crise é "particularmente dura", assume Daniel Bessa que se insurgiu contra a proposta apresentada pelo secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que apontou os aumentos salariais como uma saída para a recessão em Portugal, melhorando o poder de compra dos portugueses.
Aliás, o economista sublinhou que os 2,9% anunciados para a função pública "estão em cima da cabeça de toda a gente, mesmo no privado", mas recuou à década de 90 para classificar de "erro" e "disparate" os aumentos salariais. Já em relação à proposta de Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, o ex-ministro da Economia de António Guterres não podia estar mais de acordo. "Este é o pior dos momentos para despedir. Não estou a falar de quem tem credores à porta e não tem um cêntimo para lhes pagar, nem de quem para não morrer mata, porque isso é a vida. Até porque não me importo de receber algum em Certificados de Aforro, ou que me cortem uma parte do vencimento. Eu não posso é aceitar que a crise seja um pretexto para agravar a vida seja a quem quer que seja."
Daniel Bessa não arrisca apontar o fim da crise, a qual Portugal tem resistido sem quebras no consumo, sublinhou, mas não tem dúvidas que quem resistir vai colher dividendos. "As empresas não dão lucros suficientes para remunerarem os accionistas aos preços a que estão capitalizadas em Bolsa." Entre as previsões, o economista admite que no final da recessão, os banqueiros passem a "andar atrás" dos clientes para venderem crédito.
"As taxas já estão a cair e com os spreads também vão baixar." Daniel Bessa comparou a actual crise a uma espécie de "purga que elimina um conjunto de erros e desconformidades", admitindo que ficam criadas condições que favorecem "salários mais baixos e produtividades mais altas".


