6.6.11

Banco de Portugal cumpre papel regulador mas deve recentrar papel da banca

in Público online

Na véspera de fazer um ano à frente do Banco de Portugal, Carlos Costa é criticado e elogiado pelos economistas.

O economista José Reis considerou hoje que o Banco de Portugal deve recentrar o papel da banca enquanto mediador entre a poupança e o investimento, acrescentando que o actual governador não soube defender Portugal junto do Banco Central Europeu (BCE).

José Reis considera que do ponto de vista técnico o regulador “parece” estar a cumprir o seu papel agindo no sentido da “estabilidade do sistema”, mas considerou que o banco central deveria ter agido no sentido de “recentrar” o papel das instituições bancárias.

Para José Reis, estas têm sido um “aforro de lucratividade e de altíssimas remunerações de capital”, estando ainda a “captar recursos que deviam estar ao serviço da economia”, quando o seu papel deve ser outro.

O sistema bancário “deve ser um negócio mas que serve a função social de mediação entre a poupança e o investimento”, disse José Reis.

Para o Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, o papel dos bancos “tem de ser recentrado” já que está actualmente “desequilibrado para um dos lados, a protecção dos capitais bancários”.

A independência do Banco de Portugal face ao Governo é uma das principais heranças do primeiro ano de Carlos Costa como governador, considera o economista e presidente do ISEG, João Duque.

“Não tenho dúvidas nenhumas de que o Carlos Costa tem desempenhado, relativamente à economia portuguesa e aos portugueses, um papel muito relevante, que é o de mostrar que a instituição é independente do Governo, coisa que não estava a ser feita por Vítor Constâncio”, disse à agência Lusa o presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), João Duque.

Já sobre a supervisão financeira, João Duque considera que o reforço que foi feito advém sobretudo das exigências impostas pelas instituições europeias e internacionais, ainda que o BdP esteja a “reforçar equipas” e “esteja mais atento”, no seguimento do “trabalho que Vítor Constâncio já tinha começado”.

Ainda assim, admitiu, “só se dá pela supervisão quando falha”.

Para os próximos três anos de mandato, João Duque espera que o regulador avance com a passagem do modelo tripartido de supervisão para o modelo dualista, mesmo que não concorde com a mudança.

Carlos Costa foi indigitado como novo governador do Banco de Portugal a 07 de Junho, sucedendo a Vítor Constâncio que passou a ser vice-presidente do Banco Central Europeu, depois de dez anos à frente da instituição.

Nascido em 1949, em Oliveira de Azeméis, licenciou-se em economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, em 1973.

Antes de ir para o BdP, Carlos Costa era vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), e foi também membro do conselho de administração e director executivo da Caixa Geral de Depósitos entre 2004 e 2006 e ocupou idêntico cargo no Banco Nacional Ultramarino (BNU) e no Banco Caixa Geral (Espanha).