Mostrar mensagens com a etiqueta PM. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta PM. Mostrar todas as mensagens

6.9.23

Mais rápido, mais potente: o novo supercomputador é instalado (finalmente) em Portugal

Tiago Ramalho (texto) e Nelson Garrido (fotografia), in Público

Supercomputador português só começará a receber projectos científicos no próximo ano. O Deucalion é inaugurado esta quarta-feira, em Guimarães, com a presença do primeiro-ministro, António Costa.


Passados quatro anos desde a assinatura do contrato, o Deucalion vai ser inaugurado pelo Governo português. É o novo supercomputador, o mais rápido e eficiente (dez vezes mais do que o anterior), e pode significar um salto para a ciência portuguesa na capacidade de cálculo e na velocidade com que analisa dados ou problemas. A equação é simples: um supercomputador demora uma hora a analisar um problema que um computador portátil demorará 20 ou 30 anos.


Depois de vários anúncios de entrada em funcionamento, a inauguração está marcada para esta quarta-feira, às 14h30, no Campus de Azurém da Universidade do Minho, em Guimarães, onde está instalado o Deucalion – e conta inclusive com a presença do primeiro-ministro, António Costa. O tiro de partida deste supercomputador começou por ser anunciado para o final de 2020, depois adiado para o início de 2022 e, ainda, para o início de 2023, até ser finalmente agendado para esta quarta-feira.


Mas o que é um supercomputador? A construção da própria palavra ajuda. Os supercomputadores permitem analisar um conjunto enorme de dados num período de tempo bastante mais curto (que pode reduzir o tempo de uma análise em anos) ou fazer enormes quantidades de cálculos.


Geralmente, podemos encontrar exemplos do seu uso na física, transformando os dados recolhidos em imagens do Universo, por exemplo, ou mesmo na biologia, criando modelos de um vírus que demorariam meses sem a capacidade de processamento destes computadores. Um exemplo quotidiano são as previsões meteorológicas: os modelos actuais de meteorologia são cada vez mais certeiros (mesmo que achemos o contrário) porque conseguem analisar muito mais dados e em muito menos tempo. Em Janeiro deste ano, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera inaugurou também um novo supercomputador que duplica a cobertura e a rapidez das suas análises – importante não só para conhecermos o tempo antes de sair de casa, mas também para prever mais eficazmente o risco de incêndio, por exemplo.

Antes do Deucalion, Portugal já teve outros supercomputadores, como o Bob, instalado em 2019, em Riba de Ave (Vila Nova de Famalicão), o supercomputador mais potente até esta instalação (ainda assim, dez vezes inferior ao Deucalion), e que cessou o seu funcionamento no início deste ano.


“A rede de computação nacional é agora reforçada dez vezes com este novo supercomputador. Hoje, este é um instrumento que qualquer área de investigação tem para poder, de forma mais rápida, simular e calcular dados”, defende ao PÚBLICO Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, acrescentando que este é um projecto para todas as disciplinas científicas – e não só para quem usa programação. E é também para qualquer investigador em Portugal, dado que não é necessário estar ao lado do Deucalion para o utilizar: o acesso é totalmente remoto.


Anteciparia que, ao longo dos próximos cinco anos, estes custos [operacionais] poderão ser por volta de 13 a 15 milhões de euros

João Nuno Ferreira


Apesar de a inauguração estar marcada, o supercomputador Deucalion ainda não está em pleno funcionamento. Depois das obras no espaço onde está acomodado e da configuração da máquina, ainda há passos por cumprir. Nos próximos dois meses, avançará a última etapa de instalação do supercomputador e, depois disso, seguem-se os testes finais. “Entre o final deste ano e o início do próximo, esperamos ter a máquina em velocidade de cruzeiro a receber as centenas de projectos que estou certo que serão submetidos”, afirma João Nuno Ferreira, coordenador da Unidade de Computação Científica da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).


Atrasos provocados pelas condições do espaço

“A primeira experiência com o Bob foi importante para perceber o potencial que a supercomputação oferecia ao nosso país, quer às universidades, quer às empresas – e a resposta foi interessante. Todos olhamos agora com confiança para o sucesso desta nova máquina”, afiança Rui Vieira de Castro, reitor da Universidade do Minho. As expectativas para o Deucalion são elevadas. “É um salto muito significativo face ao Bob”, nota Francisco Santos, vice-presidente da FCT. “[Este supercomputador] permitirá ter projectos em Portugal de uma dimensão que não era possível antes”, acrescenta João Nuno Ferreira. Desde 2019 que as virtudes do Deucalion são elencadas, mas os atrasos na instalação desta máquina de 26 toneladas, distribuídas por 26 armários com dois metros de altura que estão arrumados numa sala da Universidade do Minho, adiaram a entrada em acção deste supercomputador.


A complexidade da instalação do Deucalion e os requisitos necessários para o acomodar são a justificação para os sucessivos adiamentos da instalação. “Passámos por uma sucessão de locais possíveis que não se revelaram viáveis. Ao fim de vários meses, a conclusão que nos diziam era ‘para um equipamento destes, mais vale construir de raiz’”, conta João Nuno Ferreira. Um supercomputador como o Deucalion exige não só espaço físico, mas também um acesso energético enorme, já que consome muita electricidade, e também um sistema de refrigeração com um caudal de cerca de 50 litros de água por segundo – condições que dificultaram a definição de um espaço. “O local foi o maior factor. Depois de identificado este local, os atrasos que se verificaram foram os expectáveis no contexto do fornecimento de equipamentos especializados neste tipo de instalações”, acrescenta. Apesar do esforço energético, o Deucalion tem maior eficiência do que o Bob, por exemplo: consegue dez vezes mais eficiência, com apenas o triplo do consumo energético, avança João Nuno Ferreira.


“Quando cheguei, tinha um problema para resolver e o que fiz foi arregaçar as mangas, constituir um grupo de trabalho, ter uma reunião com todos e dizer: ‘Temos um computador para instalar e temos de o instalar o mais rapidamente possível’. E foi isso que nós fizemos”, diz Elvira Fortunato.


A Empresa Comum Europeia para a Computação de Alto Desempenho (EuroHPC, no acrónimo em inglês), organização da União Europeia criada para conjugar os esforços nesta área, justificava a demora, ao PÚBLICO, em Outubro de 2022, com os próprios processos de contratação pública. À época, Portugal e Espanha eram os únicos dos oito países a quem foram atribuídos supercomputadores em 2019 que não tinham instalado estas máquinas, de acordo com o EuroHPC – agora, sobram apenas os espanhóis.
Será criado um centro de computação avançada

A gestão do supercomputador será feita através da FCT, mas no próximo ano será criado o Centro Nacional de Computação Avançada, como referiu Francisco Santos. Esta organização nasce com o intuito também de “apoiar os investigadores na utilização do Deucalion e, ao mesmo tempo, fazer crescer o financiamento para esta área da computação avançada”, explica o vice-presidente da FCT. Este centro formalizará a Rede Nacional de Computação Avançada, uma plataforma colaborativa de infra-estruturas e pessoas ligadas a esta área, num organismo capaz de concorrer a financiamento europeu ou de atrair projectos internacionais para se desenvolverem no Deucalion, por exemplo.

O concurso a financiamento e a projectos ajudará também a arcar com as despesas associadas ao Deucalion. O fornecimento do supercomputador, assinado com a Fujitsu em Setembro de 2020, assume uma despesa inicial de 20 milhões de euros, ficando a empresa originária do Japão com a responsabilidade de fornecer a tecnologia que dá vida ao Deucalion. As verbas dividem-se entre dinheiro da FCT e verba europeia (65% da responsabilidade da instituição portuguesa). Além dos 20 milhões de euros de investimento inicial, há custos de operação. “Têm uma componente grande de energia, bem como a formação de uma equipa de oito a nove pessoas especializadas. Anteveria que, ao longo dos próximos cinco anos, estes custos poderão ser por volta de 13 a 15 milhões de euros”, orçamenta João Nuno Ferreira, deixando um asterisco para os custos de energias, sempre “voláteis”.


Estes custos serão pagos com o financiamento adquirido através de projectos, que podem ser científicos ou industriais. A gestão diária da máquina será um encargo da FCT, apesar de Francisco Santos confiar que poderão existir contributos de várias fontes, desde protocolos com instituições de ensino superior para a utilização do supercomputador a projectos de inovação quer industrial, quer da administração pública.


Deucalion disponível para todos os cientistas

Tal como a repartição de custos, a utilização do novo supercomputador também é 65%-35%. Neste caso, 65% do tempo de uso será dedicado aos projectos portugueses ou atraídos pelo futuro Centro Nacional de Computação Avançada, enquanto os restantes 35% serão para usufruto de cientistas europeus que pretendam utilizar o Deucalion – uma divisão que também acontece nos outros países que receberam supercomputadores.


Os cientistas portugueses serão, ainda assim, o destinatário principal deste supercomputador. “Esta infra-estrutura é transversal, todas as áreas disciplinares podem tirar partido de uma infra-estrutura como esta”, diz Francisco Santos. As oportunidades para concorrer à utilização deste equipamento serão feitas através do concurso de projectos de computação avançada da FCT, que nas candidaturas deste ano já incluirá o Deucalion, mas também nos concursos gerais de projectos científicos – algo que não existia. “O investigador pode dizer que vai fazer isto e aquilo, mas que, além disso, precisa de x horas de tempo de cálculo num computador nacional – e esse tempo de cálculo é atribuído juntamente com o financiamento e, assim, não tem de submeter duas candidaturas”, explica.

As competências nesta área por parte dos investigadores são uma das principais preocupações, mas Francisco Santos descarta que seja um problema. “Do ponto de vista técnico, não é necessário que a pessoa seja informática e a dificuldade estará relacionada com o tipo de aplicação que se pretende fazer. Exige alguma capacidade de utilizar recursos computacionais completos, mas não é algo que invalide ou ponha de parte investigadores fora destas áreas”, diz. É também por isso que existem, em várias universidades do país, centros de competências em computação avançada que dão apoio em matérias como esta.


A visão é similar a Miguel Avillez, astrofísico e responsável pelo supercomputador Oblivion, da Universidade de Évora, que utiliza outras máquinas europeias e norte-americanas no seu trabalho. “Haverá sempre uma aprendizagem por parte do utilizador, mas, para quem está habituado a trabalhar com isto, será simples. Para os que não têm os conhecimentos aprofundados, aí poderão existir alguns problemas – mas também aprenderão rapidamente”, sublinha.


“Nunca conseguimos ter o Bob com a potência máxima”


O Deucalion surge como substituto natural do Bob, o supercomputador mais potente que Portugal teve – antes da entrada em funcionamento deste Deucalion. Apesar de participar numa centena de projectos científicos, o Bob, instalado num centro da empresa Redes Energéticas Nacionais (REN) em Riba de Ave, nunca chegou à sua potência máxima.

“O Bob ajudou-nos a aprender e a crescer rapidamente antes da chegada do Deucalion”, explica João Nuno Ferreira, coordenador da Unidade de Computação Científica da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. No entanto, este era um equipamento doado pela Universidade de Austin (Estados Unidos) e cujos requisitos técnicos não se coadunavam com os centros de dados existentes em Portugal. “A potência e a refrigeração necessária esbarraram nessas limitações [dos centros portugueses], o que nos obrigou a nunca o ter forçado ao limite. Nunca conseguimos ter o Bob com a potência máxima”, lamenta.

Em Março deste ano, o supercomputador Bob marcou o fim da sua produção, como anunciou o Centro de Computação Avançada do Minho, ligado à Universidade do Minho. Este supercomputador tinha começado as operações em Portugal em Julho de 2019.

A “substituição” pelo novo supercomputador Deucalion, que será inaugurado esta quarta-feira, marca um aumento da capacidade portuguesa. “Vamos reforçar em muito a rede de computação avançada a nível nacional. Precisamos de sistemas de supercomputação porque temos cada vez mais dados. Mesmo a emergência da inteligência artificial e a digitalização irão necessitar de computadores que consigam tratar um volume maior de dados e, em simultâneo, uma capacidade de processar esses dados mais rapidamente”, nota a ministra da Ciência, Elvira Fortunato.

A contratualização europeia de supercomputadores coincide também com a aposta em microelectrónica, com o investimento na produção de processadores e semicondutores, presentes em grande parte da tecnologia (como computadores e telemóveis), no espaço europeu – para contrariar a dependência externa, de países como a China ou os Estados Unidos. “É importante que a Europa não fique atrás nestas áreas fundamentais. Como tivemos problemas de energia com a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, nos semicondutores é igual: se a China cortar [o acesso], o mundo pára”, refere a ministra.

[artigo disponível na íntegra apenas para assinantes]
 

24.7.23

Os portugueses estão melhor» e «o País está a melhorar»

in Portugal.Gov

«Os portugueses estão melhor» e «o País está a melhorar», sublinhou o Primeiro-Ministro António Costa no discurso de abertura do debate sobre o estado da Nação, na Assembleia da República.


Os portugueses estão melhor porque «pagam hoje menos 2 000 milhões de euros de IRS», «60 000 crianças já tiveram este ano acesso a creche gratuita»; «a diferença salarial entre homens e mulheres diminuiu um quarto»; 660 000 pessoas libertaram-se da situação de pobreza ou exclusão social; «nunca houve tantos portugueses empregados»; «os aumentos salariais vão além do negociado em Concertação Social»; «as prestações sociais e pensões subiram acima da inflação»; «a inflação já está a baixar, sobretudo nos preços da energia e em muitos bens alimentares».


Desígnios até 2026

«Cumprido um quarto da legislatura», o Primeiro-Ministro António Costa apontou «os principais os desígnios que mobilizarão a nossa ação nas próximas três sessões legislativas»,


António Costa destacou os seguintes desígnios nacionais:modernização do tecido produtivo através das Agendas Mobilizadoras do PRR.

melhoria do sistema de ensino através da rede de Centros Tecnológicos Especializados no ensino secundário vocacionados para a transição digital, a indústria 4.0 e a transição energética.
combate às alterações climáticas através de investimento na floresta e proteção dos oceanos, na ferrovia, nos metros e nas energias renováveis.
qualificar as respostas sociais, construindo ou modernizar 471 unidades de cuidados de saúde primários e 31 156 novos lugares em creches.
garantir o direito à habitação, disponibilizando 26 000 fogos até 2026 e 6 800 fogos a custos acessíveis.
combate à pobreza e exclusão social, retirando da situação de pobreza mais 660 mil pessoas, das quais 170 mil crianças e 230 mil trabalhadores.
uma década de convergência com os países mais desenvolvidos da UE e reduzindo a dívida pública para menos de 100% do PIB.

No caminho certo

O Primeiro-Ministro afirmou que o Governo tem «bem consciência das dificuldades que os portugueses enfrentam no seu dia-a-dia» e está ciente «que muitos jovens se interrogam sobre o seu futuro em Portugal», mas também tema certeza que os resultados já alcançados provam que estamos no caminho certo.

Para prosseguir este caminho o País dispõe de um elevado volume de fundos europeus para investir nos próximos anos permitindo «acelerar este processo de transformação estrutural da economia portuguesa».

16.5.23

António Costa diz que o reforço do abono de família visa uma "redistribuição justa" do crescimento económico

Por Lusa, in TVI


O primeiro-ministro afirmou esta terça-feira que o pagamento do reforço do abono de família visa partilhar o crescimento da economia que, segundo as previsões avançadas na segunda-feira pela Comissão Europeia, deverá crescer 2,4% este ano.

"O pagamento do reforço do abono de família é mais um passo na redistribuição justa com os portugueses do crescimento da economia", escreveu na rede social Twitter António Costa, que está esta terça-feira em Reiquiavique, na Islândia, para participar na IV Cimeira do Conselho da Europa.


O apoio adicional ao abono de família, que vai abranger 1,1 milhões de crianças e jovens, começa esta terça-feira a ser pago, tendo a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, explicado que o valor inicial será de 45 euros.


“É o primeiro apoio relativamente ao ano de 2023”, disse Ana Mendes Godinho, em Fátima, Santarém, referindo que “é um apoio calculado com uma base mensal de 15 euros por criança”, mas pago trimestralmente.

“Este é o primeiro (apoio) que é feito, pago com retroativos”, e “abrangerá cerca de um milhão e cem mil crianças em Portugal”, adiantou.

Em março, o Conselho de Ministros aprovou um apoio adicional ao abono de família, a pagar a cada criança e jovem beneficiário de abono de família, no montante mensal de 15 euros, pago trimestralmente em 2023.

A Comissão Europeia avançou na segunda-feira uma revisão em alta da projeção de crescimento da economia portuguesa para este ano, para 2,4%, a terceira maior taxa da zona euro, revelando-se mais otimista do que o Governo.

Bruxelas avançou também prever que o défice português diminua para 0,1% este ano, o menor da zona euro.

28.3.23

António Costa lamentou os "contributos destrutivos", após Cavaco e Marcelo terem arrasado o plano do Governo para a habitação

Carla Soares, in JN

Primeiro-ministro responde a ataques com novo programa, articula descida de preços com distribuição e anuncia apoio direto a famílias carenciadas.

Cercado pela Oposição e atiçado pelas críticas de Marcelo Rebelo de Sousa e Cavaco Silva, o primeiro-ministro defendeu-se com o novo programa que será aprovado amanhã. António Costa foi para o Parlamento munido de "um apoio direto às famílias mais carenciadas", de uma redução do IVA que está em preparação para baixar o preço dos bens alimentares e prometeu ainda negociar com os sindicatos novos aumentos salariais para a Função Pública.

"O Conselho de Ministros da próxima quinta-feira terá condições para fazer um programa que será confirmado sexta-feira e terá apoios sociais, intervenção na área dos preços e a dimensão de valorização salarial", disse António Costa em plenário. E reforçou que o programa "será confirmado sexta-feira, em função dos resultados oficiais sobre a execução orçamental do ano passado", como tinha dito na semana passada, quando prometeu mais apoios para além do pacote da habitação. Sobre este, lamentou os "contributos destrutivos", após Cavaco e Marcelo terem arrasado o plano e do atual presidente ter criticado a falta de apoios ao promulgar, anteontem, as ajudas nas rendas e créditos à habitação.

António Costa admite baixar o IVA nos alimentos

in RTP

No debate parlamentar de política geral, António Costa salientou que o Governo e os agentes da cadeia alimentar têm o "objetivo comum" de reduzir e "controlar a inflação sobre os bens alimentares".

O chefe do Governo reconheceu que o valor destes está "claramente acima daquilo que é a média da inflação a nível nacional e mesmo acima do que acontece em outros países europeus".

A chave será um acordo com distribuição e produção alimentar, acrescentou António Costa.

"Vamos trabalhar com o setor para agir sobre preços em diversas dimensões: dimensão ajudas de Estado à produção - para diminuir os custos de produção - e, em segundo lugar, o equilíbrio entre redução da fiscalidade - ou seja, do IVA - e a garantia de que essa redução da fiscalidade se traduz numa redução efetiva e estabilização dos preços", anunciou o primeiro-ministro, em resposta ao PCP.

Segundo o chefe do executivo, essa redução beneficiaria "efetivamente os consumidores".

A redução do IVA nos bens alimentares, a exemplo do que já sucede em Espanha, era uma exigência da oposição perante a subida dos preços, empurrada pela alta dos custos na produção devido à subida dos gastos com energia e fertilizantes.

O primeiro-ministro admitiu na mesma resposta ao PCP vir a rever os aumentos da Função Pública, uma outra novidade aplaudida pela bancada do PS durante o plenário.

Questionado depois pelo Bloco de Esquerda se os aumentos serão implementados com retroativos, António Costa não se comprometeu.

Com Lusa

27.3.23

Medidas para Habitação: Costa "inaugura prática muito boa. Veremos se consegue atingir objetivos"

Carolina Quaresma, in TSF 

Segundo o chefe de Estado, as medidas do Governo para enfrentar a crise na Habitação "acabam por abranger menos portugueses do que aqueles que provavelmente necessitariam de apoio".

Marcelo Rebelo de Sousa promulgou o decreto-lei do Governo que cria apoios às rendas e créditos à habitação. Pouco tempo depois, António Costa referendou as primeiras medidas do "Programa Mais Habitação". Em declarações à RTP3, o Presidente da República referiu que o primeiro-ministro "inaugurou uma prática muito boa", mas é preciso ver se as medidas conseguem "atingir os objetivos".

"O primeiro-ministro inaugura uma prática muito boa, que é explicar aos portugueses que há outras medidas e que serão aprovadas outras medidas. Esta é a dinâmica da democracia. (...) Veremos se a habitação e o apoio aos inquilinos conseguem atingir os objetivos", afirmou.

Segundo Marcelo, as medidas do Governo para enfrentar a crise na Habitação "acabam por abranger menos portugueses do que aqueles que provavelmente necessitariam de apoio". "Espero que da negociação no parlamento resultem leis que possam passar e que sirvam para resolver problemas", defendeu.

Relativamente ao arrendamento coercivo, o chefe de Estado disse que "ainda há muito debate a fazer no parlamento". "O sistema burocrático é pesado, deixemos a água correr. Há tempo para refletir e melhorar", sublinhou.

Na quinta-feira, o chefe de Estado tinha prometido decidir com urgência sobre as primeiras medidas do pacote da Habitação do Governo sob forma de decreto-lei: "Se são urgentes, chegando a Belém, serão naturalmente decididos, nomeadamente promulgados com urgência."

O decreto-lei promulgado na terça-feira, aprovado em Conselho de Ministros na quinta-feira, procede à criação de um apoio extraordinário designado "Apoio à renda" e de um apoio extraordinário à subida acelerada do crédito à habitação consubstanciado na "Bonificação de Juros".

Segundo o comunicado dessa reunião do Conselho de Ministros, o "Apoio à renda" destina-se a arrendatários com taxas de esforço superiores a 35%, com rendimentos até ao limite máximo do 6.º escalão do IRS e contratos celebrados e registados junto da Autoridade Tributária até 15 de março de 2023, será pago pela Segurança Social, com efeitos retroativos a janeiro de 2023, e poderá ascender aos 200 euros mensais.

A "Bonificação de Juros" assume a forma de bonificação temporária de juros e destina-se aos mutuários de contratos de crédito para aquisição ou construção de habitação própria permanente, e visa dar resposta à rápida variação do indexante de referência, com incidência num dos principais encargos do orçamento familiar.

Na segunda-feira, em visita às instalações da CMTV, o Presidente da República considerou que o pacote do Governo para a habitação, em termos globais, "tal como está concebido, logo à partida, é inoperacional, quer no ponto de partida, quer no ponto de chegada".

Marcelo Rebelo de Sousa equiparou globalmente o pacote de medidas anunciado Governo - muitas delas ainda por aprovar em Conselho de Ministros - às "chamadas leis cartazes", que "aparecem a proclamar determinados princípios programáticos mais panfletários, mas a ideia não é propriamente que passem à prática, não, é que fiquem leis cartazes".

Costa responde a Marcelo. Pacote para habitação "contém diversas medidas fiscais"

Carlos Santos Neves,  in RTP

Ao início da noite de terça-feira, Belém anunciou a promulgação do decreto-lei do Governo que institui apoios às rendas e aos créditos à habitação. Marcelo Rebelo de Sousa considerou estas medidas “necessárias e urgentes”. Mas lamentou que “não sejam mais alargadas”.

“Tratando-se de medidas necessárias e urgentes de apoio às famílias, face ao agravamento da situação económica e social, embora lamentando que não sejam mais alargadas, designadamente por via fiscal, para abrangerem outras situações igualmente muito difíceis, o presidente da República promulgou o diploma do Governo que cria apoios extraordinários às famílias para pagamento da renda de casa ou da prestação de contratos de crédito hipotecário”, lê-se na nota publicada no portal da Presidência da República.

Em declarações proferidas nas instalações da CMTV, Marcelo sustentou que, numa perspetiva global, o Programa + Habitação, “tal como está concebido, logo à partida, é inoperacional”.

Cerca das 23h00, o gabinete de António Costa fez saber, em comunicado, que “o primeiro-ministro referendou o decreto-lei do Governo que apoia as famílias no pagamento de rendas e prestações de crédito à habitação”. Assinalou ainda que “estas são as primeiras medidas do Programa + Habitação, que está em discussão pública desde 16 de fevereiro”.

“Este Programa contém diversas medidas fiscais que o Governo submeterá à Assembleia da República, que, nos termos da Constituição, tem competência exclusiva para legislar sobre esta matéria, tendo em vista a criação de incentivos fiscais ao arrendamento acessível, a diminuição da tributação em IRS para os senhorios e o desagravamento da taxa de IVA para a construção e reabilitação de imóveis destinados ao arrendamento, entre outros incentivos fiscais”, enumera, em seguida, o gabinete do chefe do Executivo”.

“Leis cartazes”

O presidente havia prometido, na semana passada, tomar uma decisão com urgência sobre as primeiras medidas do pacote do Governo para o domínio da habitação. “Se são urgentes, chegando a Belém, serão naturalmente decididos, nomeadamente promulgados com urgência”, afirmava então Marcelo.

Na terça-feira, o presidente da República propugnou que o pacote do Governo para a habitação “é inoperacional, quer no ponto de partida, quer no ponto de chegada”.###1474745###Marcelo Rebelo de Sousa comparou mesmo o programa às “chamadas leis cartazes”, que “aparecem a proclamar determinados princípios programáticos mais panfletários, mas a ideia não é propriamente que passem à prática, não, é que fiquem leis cartazes”.

O que estipula o decreto-lei

O decreto-lei agora promulgado, aprovado em Conselho de Ministros na passada quinta-feira, cria um mecanismo extraordinário denominado Apoio à renda e um apoio extraordinário à subida acelerada do crédito à habitação, por via da Bonificação de Juros.

O Apoio à renda, indicou o comunicado da última reunião do Executivo, visa arrendatários com taxas de esforço acima dos 35 por cento, com rendimentos até ao limite máximo do sexto escalão do IRS e contratos celebrados e registados junto da Autoridade Tributária até 15 de março de 2023. Vai ser pago pela Segurança Social, com efeitos retroativos a janeiro de 2023, podendo atingir os 200 euros mensais.

Já a Bonificação de Juros é temporária e abrange mutuários de contratos de crédito para aquisição ou construção de habitação própria permanente. Pretende dar resposta à rápida variação do indexante de referência.

c/ Lusa

24.1.23

"Se nos querem cá, têm muito trabalho a fazer" — estes 7 jovens escreveram a António Costa, em resposta à sua mensagem otimista de Ano Novo

Ana Marcelino, Bernardo Serôdio, Bianca Castro, Carina Tavares Lage, Kenia Pollheim Nunes, Mariana Carvalho, Tomás Fernandes, in Expresso

No primeiro dia do ano, o primeiro-ministro assinou um artigo no JN dirigido aos mais jovens, garantindo que o país está preparado para lhes garantir o futuro. Mas como é que a chamada "geração mais qualificada de sempre” reagiu às palavras de António Costa? O Expresso desafiou sete jovens a escreverem cartas ao chefe do governo. Estas são as palavras deles

1  
ANA MARCELINO, 18 ANOS, ESTUDANTE DA ESCOLA SUPERIOR DE TURISMO E TECNOLOGIA DO MAR, NATURAL DE RIO MAIOR

Na crónica que o senhor primeiro-ministro escreveu no “Jornal de Notícias”, educação é uma das palavras-chave, dado que esta foi dirigida aos jovens.

Após uma leitura, desde as primeiras frases que uma pergunta não me sai da cabeça: refere inúmeras vezes a educação e os alunos, mas e os professores? Onde ficam os professores no meio disto tudo, senhor primeiro-ministro? Com as condições que o nosso país dá a um professor, uma profissão tão importante, com a qual todos os cidadãos interagem desde tão tenra idade, é perfeitamente compreensível que estes percam a motivação de desempenhar o seu trabalho da melhor forma e, consequentemente, os alunos não recebam a educação que merecem.

Outro tema bastante abordado é a questão do alojamento. É um facto que 433 mil alunos se matricularam em 2022 no Ensino Superior, mas quantos, apesar de aceites, não se chegaram a matricular devida à falta de alojamento? Diz que irão haver mais camas em 2026, aliás, é tudo para 2026. Os problemas que vão ser resolvidos, segundo o Senhor Primeiro-Ministro, estão a acontecer agora e, apesar da probabilidade de acontecerem em 2026 seja grande, têm de ser resolvidos o mais depressa possível. Assim como “…o futuro se constrói hoje…”, os problemas de hoje também se devem resolver hoje, não daqui a três anos.

Com os preços exorbitantes dos alojamentos, é normal que alguns jovens deixem de se matricular nas universidades em que entram, porque muitas vezes, mesmo com bolsa, é complicado conseguir pagar tudo no final do mês.

Fala também de empregos. Atualmente não é propriamente fácil para os jovens conseguirem um emprego, independentemente da licenciatura que tenham. As empresas procuram experiência, mas se nenhuma empresa nos contrata sem termos experiência, onde é que é suposto ganharmos essa experiência?

Espero que estes problemas sejam resolvidos o mais depressa possível para que os professores ganhem um salário mais justo, as gerações futuras não deixem de se inscrever nas universidades simplesmente porque não têm onde dormir e que possamos todos ter um emprego que nos dê a tão procurada experiência.

2
BERNARDO SERÔDIO, 22 ANOS, ESTUDANTE DE ENGENHARIA DO AMBIENTE, NATURAL DE CANHA, MONTIJO. TRABALHA EM PART-TIME COMO FREELANCER COMO FOTÓGRAFO DE EVENTOS

Exmo. Sr. primeiro-ministro António Costa,

Recentemente publicou uma mensagem de Ano Novo dedicada aos Jovens, e essa mensagem causou-me uma certa curiosidade, o que me fez explorar um pouco mais a mesma e expressar a minha opinião nesta carta que lhe escrevo.

Começa por referir a incerteza desta época, algo em que não podia concordar mais consigo, tendo em conta o atual panorama no mundo. De seguida fala sobre a educação, e diz que a diminuição do abandono escolar está ligada à melhoria do emprego e dos rendimentos das famílias, mas também da diversificação da oferta no Ensino Secundário.

Gostava muito de poder concordar com estas afirmações, no entanto, face à minha realidade, vejo este aumento de escolaridade como fruto de uma evolução natural da sociedade. A escolaridade é cada vez mais vista como essencial no dia a dia, e dados os apoios atualmente existentes, o rendimento das famílias não será impedimento para a escolaridade até aos 18 anos, como foi anteriormente.

Não acredito nada, também, que a diminuição do abandono escolar esteja ligada à diversificação da oferta no Ensino Secundário, até porque em muitos locais essa oferta simplesmente não está disponível, especialmente no Interior do país, onde continua a ser lecionado um número reduzido de cursos comparativamente à oferta existente no Litoral.

No entanto há que dar mérito às boas medidas, sobretudo no corte das propinas e no apoio aos estudantes, desde que os mesmos se mantenham. As bolsas de estudo do ensino superior são uma ferramenta que realmente apoia os estudantes e, sendo

eu estudante do ensino superior, vi isso em primeira mão.

Refere ainda vários pontos sobre a empregabilidade, nomeadamente a queda da taxa de desemprego, o aumento de contratos sem termo e o aumento do investimento das empresas.

Quero começar por comentar que realmente não se pode negar a queda da taxa de desemprego, mas pergunto:

Até que ponto é que o vencimento desses novos empregos é digno face ao nível dos custos de vida que vivemos atualmente, especialmente para uma jovem família?

E os ordenados enquadram-se às qualificações de um jovem que acabou de sair do ensino superior, face aos anos de estudo que acumula?

Acredito que caso queira manter os jovens por Portugal, a retenção destes jovens poderia ser feita através da oferta de um primeiro emprego atrativo e competitivo face a outras ofertas quer dentro da Europa quer fora.

Menciona ainda a reorganização das cadeias de valor, referindo pouco depois que Portugal se encontra na vanguarda da transição energética, algo com que não podia discordar mais. Portugal é um dos países europeus com maiores problemas de pobreza energética. A transição energética não passa apenas por trocar as fontes de energia ou começar a importar mais energia de outros países mais poluidores, como por vezes já foi feito. A transição energética deve ser feita com um princípio de justiça para todos os implicados e deve ter grande ênfase não só na forma como se produz energia, mas também na eficiência energética da sociedade e da economia como um todo.

Dito isto, existem alguns pontos que sublinha na sua mensagem que não podem ser negados e a situação atual para os jovens portugueses podia, realmente, estar pior do que está. Contudo, isso não quer dizer que se deva cruzar os braços e nada fazer para melhorar. Peço-lhe que, neste novo ano, procure aprofundar as medidas que retenham os jovens em Portugal e que lhes forneçam a ajuda necessária para terem sucesso nos seus estudos e entrada no mercado de trabalho.

Com os melhores cumprimentos,

Bernardo Serôdio

3
BIANCA CASTRO, 21 ANOS, ATIVISTA PELA JUSTIÇA CLIMÁTICA, NATURAL DE LISBOA

“Hoje construímos o país que será neutro em carbono em 2050”. Estas foram algumas das palavras introdutórias na mensagem que o primeiro-ministro nos deixou, aos jovens do país. Mais à frente, lê-se que Portugal está na “vanguarda da transição energética”.

O tópico não foi estendido muito além destas afirmações - tópico este que, dada a sua urgência e gravidade, necessita de ser transversal a qualquer outra ambição descrita.

Ondas de calor, secas, cheias, intensificação e aumento de incêndios florestais são apenas algumas das consequências que Portugal sentirá cada vez mais. A crise climática já não é uma previsão futura mas uma sucessão presente de catástrofes cada vez mais devastadoras.

De acordo com um relatório elaborado em 2021, e pressupondo que o governo irá implementar políticas para cumprir as metas apresentadas em documentos como o Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050, o Plano Nacional de Energia e Clima 2030 ou as Leis de Bases do Clima, descobrimos que o orçamento de carbono ficará esgotado já entre 2026 e 2037. Isto significa que nos próximos 4 a 15 anos Portugal vai emitir todo o CO2 a que tem direito até 2100, em qualquer cenário global compatível com a manutenção da temperatura média abaixo dos 1,5 ºC. E numa perspectiva de justiça climática, a neutralidade carbónica até 2030 não é negociável.

Há cerca de um mês, os governos de Portugal, Espanha e França reuniram-se sobre a construção da terceira conexão via gasoduto entre Portugal e Espanha. Em plena crise climática, discute-se a expansão da infraestrutura fóssil. Este gasoduto não vai transportar energia renovável nem vai levar a preços de energia e gás mais baratos; na verdade, vai é bloquear uma transição energética real. E para quando o decrescimento da aviação? E para quando soluções reais para regiões como o Sudoeste Alentejano, onde a destruidora agricultura intensiva, a falta de água, a exploração de mão-de-obra migrante são questões repetidamente ignoradas?

Questiono-me: qual será então a transição da qual estamos na vanguarda? Neste momento, e sublinhando que a única transição energética real é uma transição justa, o rumo continua a ser o do colapso.

Há anos que o movimento por Justiça Climática sai às ruas em Portugal. No último ano, percorreu mais de 400km a pé de encontro a algumas das zonas mais afetadas pela crise climática; apresentou um plano para a transição justa na região de Sines; fez greve, protestou, invadiu, bloqueou, ocupou; fez-se ouvir.

Ora, quatro ativistas das ocupações pelo Fim ao Fóssil foram condenadas a multas por ocuparem pacificamente a sua faculdade em protesto contra a economia fóssil. Somos milhares e milhares de jovens que se vêem obrigados a lutar por um presente, por um futuro, por uma vida digna. Somos milhares e milhares a repetir mensagens como “Mais ferrovia, menos aviões”, “Transição justa, justiça climática”, “O planeta está a arder e o governo só a ver”. E os ponteiros do relógio não param de girar.

Senhor primeiro-ministro, nas suas palavras, “é importante lembrar que o futuro se constrói hoje, com e para as novas gerações”. A que futuro se refere? Um futuro de colapso climático, no qual eventos extremos se normalizam, e em que somos condenados quando não nos resignamos? Afinal de contas, numa mensagem direcionada a nós, jovens, não esqueça o que ecoamos pelas ruas: “Mudar o sistema, não o clima”. Eis um cântico que não será dito em vão.

4
CARINA TAVES LAGE, 18 ANOS, ESTUDANTE DE ENGENHARIA ELETROTÉCNICA NA UNIVERSIDADE DO PORTO, LUSO-BRASILEIRA


Sua Excelência o primeiro-ministro, Dr. António Costa,

Muito se fala sobre planos, sobre o que deve acontecer até ao ano X ou até o mês Y, mas pouco efetivamente se faz. No passado dia 1, o senhor primeiro-ministro, perante a chegada de um novo ano, partilhou com o povo português a sua mensagem para 2023 – mensagem esta que se focou não na pandemia, que parou não só Portugal, mas também todo o mundo no passado; não na crise política, que assombra o país e preocupa cada vez mais os cidadãos no presente; mas focou, sim, no futuro desta nação: os jovens.

Portugal tem, de facto, o potencial para ser um país para jovens. A alta-qualidade do ensino superior português deve ser destacada, uma vez que o nosso Ensino Superior foi considerado o 35.º melhor do mundo no QS Higher Education System Strength Rankings, que mede a qualidade dos sistemas de ensino de cada país. Temos universidades conhecidas internacionalmente, com corpos docentes diversificados; temos investigadores reconhecidos mundo afora por sua competência, qualidade e ambição. O nosso ensino teórico é fenomenal, o que faz de um ambiente onde seja possível adquirir alguma experiência profissional – nomeadamente em estágios profissionais e de verão – um ótimo ponto de partida para se pôr o lecionado em prática.

No entanto, de nada adianta ter potencial se nada é feito para aproveitá-lo a nível máximo. De nada adianta ter potencial se Portugal falha constante e gravemente com a sua juventude. Nesse sentido, é percetível o quão “à deriva” estão os jovens portugueses neste momento.

É a conversar diariamente com os meus colegas, na sua maioria estudantes universitários deslocados, que percebo o quão solitários estamos neste mundo. Não é incomum ouvir um deles a queixar-se de que paga mais do que 500 euros pelo quarto onde passa as semanas; não é incomum lembrarmo-nos de um dos nossos ex-colegas, que ingressou connosco no curso dos seus sonhos e que, entretanto, precisou de ingressar noutro estabelecimento de Ensino mais perto de casa por não ter conseguido um bom alojamento no nosso Distrito.

É a conversar com alunos de terceiro ano da Faculdade de Engenharia que me apercebo da extensão das dificuldades que um dia enfrentarei. Atualmente, a falta de estágios disponíveis preocupa qualquer estudante universitário; a dificuldade de se conseguir experiência profissional significativa nas nossas respetivas áreas de estudo é um claro indicador de que o panorama não é positivo. Um engenheiro eletrotécnico nunca poderá projetar um gerador sem saber como este funciona na prática, bem como um médico nunca poderá exercer a profissão sem antes ter passado por um período de residência.

Portugal jamais será um país para jovens enquanto os estágios forem, na sua grande maioria, não-remunerados.

Portugal jamais será um país para jovens enquanto a obtenção destes próprios estágios – sejam ou não remunerados – seja uma dificuldade por si só. Portugal jamais será um país para jovens enquanto um estudante de Engenharia, após ter investido pelo menos cinco anos da própria vida a realizar uma Licenciatura e um Mestrado, saia da universidade a saber que não irá ganhar muito mais do que mil euros ao mês; Portugal jamais será um país para jovens enquanto um quarto nas grande cidades custar quase um ordenado mínimo, impossibilitando, portanto, o acesso de muitos à universidade dos sonhos. Infelizmente, faço parte da geração mais qualificada de sempre, mas que irá ter uma qualidade de vida pior do que as anteriores.

Uma interação que tive com um aluno do segundo ano de Mestrado do meu curso, no meu primeiro mês no Ensino Superior, marcou-me significantemente. “Não percas tempo: prepara o teu percurso académico de modo a que consigas sair do país assim que puderes. Viver no estrangeiro certamente tem as suas dificuldades, mas ao menos irás ganhar mais e terás mais estabilidade”. Este é, para mim, o exemplo que mais claramente evidencia como o país falha para com os jovens: muitos de nós já começam a licenciatura a pensar em como irão viver e trabalhar para fora. A nova mão-de-obra qualificada abandona o país-mãe, que não os valoriza devidamente, e parte rumo ao desconhecido com a certeza de que as suas qualificações serão devidamente levadas em consideração.

O senhor primeiro-ministro mencionou no seu pronunciamento que “o futuro se constrói hoje”. Na minha opinião, o futuro não só se constrói hoje, mas também começa hoje: é preciso de se tomar ações eficazes e poderosas para se alterar a atual situação. Afinal, é através da mudança que se alcança o progresso e a inovação, e ainda é preciso progredir em diversos aspetos para fazer deste país um centro de oportunidades para os jovens.

Melhores cumprimentos,
Carina Taves Lage

5
KENIA POLLHEIM NUNES, 24 ANOS, TRABALHADORA-ESTUDANTE. VIVE EM LISBOA, NASCEU NO BRASIL E CRESCEU EM MACAU

Ano novo, vida nova, ou pelo menos é o que se ouve. Na mensagem de ano novo de António Costa direcionada às novas gerações, o primeiro-ministro encarna Janus, Deus romano de inícios e transições, conhecido pelas suas duas caras: uma delas tem os olhos postos num Passado que se descreve triunfante, com todos os avanços que se foram edificando em vários sectores, com destaque para a Educação, o Empreendedorismo e a Habitação; a outra face mostra-se esperançosa face a um Futuro reluzente, em que a sustentabilidade será realidade, o PIB estará acima da média europeia, a pobreza erradicada, e o investimento na em investigação e desenvolvimento inegável.

António Costa escreve-nos com certezas e é firme quando acentua a obrigação do Governo em assegurar que Portugal seja a primeira escolha dos seus jovens. O otimismo do PM, outrora bem-vindo, torna-se amargo. Já não sabemos em que leva de “tempos conturbados” vivemos, até a gen-z já perdeu a conta. O louvar das vitórias resume-se a prosa, quando aquilo que vemos à nossa volta continua tão enevoado.

O Portugal que António Costa descreve com espalhafato e aquele em que vivemos não são análogos. Não resta muita expectativa para o futuro quando o presente é turvo. A “paixão pela educação” não supre os programas desatualizados e as infraestruturas precárias. A redução do valor das propinas da licenciatura é certamente bem-vinda – celebraremos com mais afinco quando esse valor chegar a zero –, mas é, sem dúvida, conveniente deixar de fora do discurso as taxas e emolumentos (como ter de pagar por um certificado de conclusão de curso) e, principalmente, o valor discricionário da propina dos mestrados em universidades públicas, sem teto máximo.

O elogio à democratização do acesso ao Ensino Superior empalidece ao lado do habitual subfinanciamento: em 2022, Portugal ficou abaixo da média da OCDE no investimento ao ES. O Plano Nacional para o Alojamento surge quase como novidade, mas falta dizer que foi lançado em há quatro anos, com a promessa de mais 12 mil camas criadas até ao ano passado, e que as 15 mil camas públicas que existem em 2023 são as mesmas desde então.

Fala-se, ainda, de sermos o maior ativo que um país pode ter. Somos a geração mais qualificada, e é vital, segundo o PM, garantir a nossa permanência no país. No entanto, somos a geração mais precária:
falo por mim e por amigos que, no limbo entre a faculdade e o primeiro emprego (estável), cambaleiam de estágio em estágio, recebendo com surpresa a notícia de remuneração garantida, agravando-se a situação quando se trabalha na cultura, área cronicamente subvalorizada. Descrevo a realidade que conheço, e não posso negar que a sorte sempre me assistiu, mesmo que o meu primeiro trabalho a contrato tenha sido numa loja de fast fashion, para ajudar a suportar as despesas durante o mestrado. Mas ver colegas com salários em atraso num profundo desvalor pelo ofício, ou a calcar diariamente distâncias de 80 km para um estágio que nem o passe de transporte paga é caricatural num país que se diz tão benevolente para com as novas gerações.

Os “ecossistemas de startups vibrantes” e “investimento das empresas (...) em máximos históricos” não são suficientes para que não estejamos sempre com um pezinho de fora do país, a sentir a sombra da emigração a engolir-nos. Ou, então, a de vivermos confinados a um pólo caótico e alienante (ironicamente usufruído por millenials estrangeiros, expats em burn-out como porto seguro – e barato), onde as rendas afogam e as prospecções de viver com colegas de casa até aos 30 assustam. Os sucessivos atrasos e não-adjudicações dos Concursos de

Renda Acessível toldam ainda mais as perspectivas de poder sair de casa dos pais ou abandonar o co-living, tornando complicada o que o PM descreve como a “geração de novas gerações”.

Quero viver no país que António Costa descreve com tanta resplandecência. Mas também quero que não se varram as falhas para debaixo do tapete, que se possa falar com honestidade e sobretudo humildade sobre os tempos de crise em que vivemos e que, tão cedo, não vão melhorar. Ainda que se perceba a intenção, neste momento já não chega a bravata das palavras de António Costa. De nada vale ser Janus, com uma cara virada para o passado gabado, outra para o futuro que se promete notório, se o presente é intempestivo e o foco que se lhe dá, insubstancial.

6
MARIANA CARVALHO, 24 ANOS, ESTUDANTE DO MESTRADO EM GESTÃO NA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA, NATURAL DE RIO DE MOURO, SINTRA

Caro primeiro-ministro,

Somos a geração que viveu as crises de 2008, 2011, 2020 e 2022. As duas primeiras como espetadores ativos. Lembramo-nos vigorosamente das dificuldades passadas pelos nossos pais e familiares, despedidos dos seus empregos outrora certos, vendo a progressão das suas carreiras congelada por anos a fio, e com elas os seus salários.

As crises de 2008 e 2011 tornaram a nossa geração um grupo de jovens preocupados, ansiosos e cautelosos. As nossas conversas frequentemente incluíam o tópico da crise, tendo nós apenas 9, 10 ou 11 anos. Cedo aprendemos a “não gastar”. Mas ironicamente permanecemos dos países da Europa com menor literacia financeira, que não é fomentada nas instituições de ensino. A verdade é que toda a nossa vida ouvimos falar dos remotos tempos das “vacas gordas” e de como especialmente naquela altura (tenha ela sido 2008, 2011, 2020 ou 2022) tínhamos de fazer um esforço para poupar. Mas não gastar não é sinónimo de poupar e não temos sistemas postos em prática que nos ajudem a guiar este caminho.

Desde 2020 que experienciamos na pele a vivência da palavra “crise” no seu exponencial, já adultos, muitos a terminar cursos, outros a começar a trabalhar. Nessa altura, passados quase 10 anos desde 2011, quando achávamos que todo o esforço, poupança e dedicação que praticamos nos últimos anos seria recompensado, sofremos o abalo de uma crise pandémica, que veio piorar um conjunto de condições que por si só já não satisfaziam as nossas necessidades: salários precários e enormes custo de habitação. A falta de literacia financeira anteriormente sentida reflete-se agora no que evoluiu para ansiedade financeira na nossa geração.

Nesta época de incerteza, nada é mais importante que a confiança no futuro. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Os jovens portugueses, cada vez mais qualificados, querem sentir-se respeitados e acarinhados pelo seu país. Tal como uma mãe ou um pai que providenciam os recursos para o sucesso do seu filho, que o felicitam quando corre bem e o abraçam quando corre mal, os jovens portugueses precisam de ser abraçados pelo seu país. A nossa geração quer ficar em Portugal, mas vê-se encurralada por trabalhos que frequentemente excedem as horas diárias legais em troca de salários precários. Continuamos a ser a geração dos incontáveis estágios curriculares não remunerados, a geração que se tem de provar continuamente em troca de condições que nem sequer lhe asseguram uma renda de alojamento, uma habitação, quanto mais a criação de património próprio, de uma vida, no nosso país?

Os nossos vinte anos passam fugazes, somos uma geração trabalhadora e criativa. Cada vez mais temos ideias de negócios, mas onde está o apoio ao desenvolvimento das empresas em Portugal?

Queremos construir uma vida aqui, contribuir para o nosso país, mas como podemos construir património nosso, quando nem sequer uma casa conseguimos alugar aos 25 anos?

Somos a geração mais instruída de sempre, mas a compensação não reflete o nosso trabalho. E começamos a contentar-nos com pouco, dizem-nos que é mesmo assim que deve ser. Trabalhamos longas horas por salários mínimos e achamos que esta é a normalidade. Como é que continuamos a achar que um salário de 1200 euros brutos, considerado um bom salário para início de carreira em Portugal, é sequer digno quando nem metade dos nossos custos são cobertos? Quando bem sabemos que a perspetiva de aumento e progressão é cada vez mais horizontal do que vertical? Quando os empregadores nos olham de lado se pedirmos mais?

Vivemos em constante ansiedade e conflito. Não sabemos o que nos espera. Mas temos fé e fazemos o dia-a-dia com resiliência e perseverança. Precisamos de um país consciente dos nossos sentimentos e que nos apoie neste caminho.


7
TOMÁS FERNANDES, 17 ANOS, ESTUDANTE DO ENSINO SECUNDÁRIO DE LÍNGUAS E HUMANIDADES, MORA EM SETÚBAL

O senhor primeiro-ministro fez uma mensagem de Ano Novo muito focada nos jovens e nas suas conquistas para connosco. Infelizmente, esqueceu-se de mencionar os seus fracassos. Esses fracassos podem ser apontados em diversas áreas: infra-estrutura, habitação, mas principalmente, na educação.

O senhor primeiro-ministro afirma que devemos ter “confiança no futuro”, mas pergunto aos jovens, que confiança num país em que o desemprego jovem é de 15,9% e nada é feito para alterar isso?

Na área da educação foi onde encontrei mais situações engraçadas (para não dizer trágicas). Falam de escolas com acessibilidade, sendo que muitas escolas, inclusive a minha, ainda hoje, não garantem elevadores e outros mecanismos para pessoas com deficiência.

António Costa afirma, também, que democratizou o acesso ao ensino superior, reduzindo o preço das propinas, mas esquece-se da habitação. Hoje em dia, um aluno que seja, por exemplo, do Alentejo e que os pais trabalhem na agricultura, por muito bom que seja, dificilmente chegará à universidade, nomeadamente em cidades como Lisboa e Porto, porque os quartos rondam os 400 euros. O alojamento estudantil não é uma realidade, porque, como se diz popularmente, das duas, uma: ou não se consegue vaga, ou não há condições.

O Chefe de Governo afirma também que houve uma “diversificação da oferta do Ensino Secundário”; eu ainda estou à espera dessa oferta, porque para ter as disciplinas que queria teria de estar em Cascais, porque, na maioria das escolas, só abrem as “disciplinas populares”.

Eu tenho Sociologia porque conseguimos ter o mínimo para se formar turma, mas a minha escola, como não tem a disciplina de Sociologia há quatro anos, nem manual adotou. Já para não falar que, no ensino secundário, as turmas estão sobrelotadas por falta de professores, que se recusam, e com toda a razão, a trabalhar a centenas de quilómetros da família quando, muitas vezes, faltam professores no seu concelho de residência ou em concelhos limítrofes.

As greves estão cada vez mais recorrentes devido, também, ao tratamento que os professores têm. Senhor primeiro-ministro, tem planos para descongelar as carreiras dos professores, dar-lhes salários dignos e repor os anos de serviço que tiveram cortados?

Mesmo com a, citada pelo primeiro-ministro, “melhoria do emprego e do rendimento das famílias”, o poder de compra do português diminuiu. E os jovens são os mais afetados com isso, porque recebem salários mais baixos.

António Costa fala-nos também de que Portugal deve ser um destino que os jovens queiram trabalhar, apontando que o desemprego tem vindo a diminuir nos últimos sete anos, resta ver o próximo ano, em que, ao que tudo indica, o desemprego vai aumentar.

As empresas que estão a chegar a Portugal, que Costa aponta como um benefício, facilmente saem e levam consigo os jovens, que são os profissionais mais qualificados, e levam-nos para destinos onde, dificilmente, ganharão tão pouco como ganham aqui.

Em Portugal, a maior dificuldade dos jovens é a conseguir comprar uma casa para chamar de sua. O senhor primeiro-ministro afirma que o PRR tem 2,7 mil milhões de euros previstos para a área da habitação, mas senhor primeiro-ministro, nós jovens estamos fartos de previsões e de possibilidades, queremos ação e apoio no que necessitamos. O programa especial de arrendamento jovem ainda não saiu do papel, mas será que algum dia sairá?

Concordo consigo senhor primeiro-ministro, quando diz que o futuro se contrói hoje, mas o futuro somos nós, e temos de ser tratados como cidadãos que somos, porque se nos querem cá (em Portugal), neste momento, têm muito trabalho a fazer.

Este texto faz parte de um conjunto de conteúdos que o Expresso publica para falar diretamente com os leitores mais jovens e sobre aquilo que os afeta mais de perto. Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail.