6.6.07

País deve debater novo modelo laboral durante cinco ou seis anos

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Antigo primeiro-ministro dinamarquês aconselhou Portugal a criar uma política fiscal mais atractiva


Cinco ou seis anos é o prazo proposto por Poul Rasmussen para que Portugal encontre um esquema de flexibilidade e segurança aceite por sindicatos, empresas e Governo. O antigo primeiro-ministro dinamarquês esteve ontem em Portugal para advogar a necessidade "imperiosa" de mudar o funcionamento do sistema laboral - sob pena de pôr em causa o próprio modelo social europeu. Caso o modelo seja implementado a nível europeu, na sequência do debate em curso na União Europeia, Poul Rasmussen acena com a criação de dez milhões de novos empregos.

Convencer os parceiros sociais a chegar a acordo quanto ao caminho a seguir é imprescindível para que Portugal mude a forma como patrões e trabalhadores se relacionam. "O meu melhor conselho é traçar um caminho para os próximos cinco a seis anos, definir um conjunto de princípios com os quais as pessoas se sintam confortáveis, e depois decidir medidas concretas", afirmou, num conferência sobre flexissegurança promovida pela Unimagem. "Se não aceitarem esta combinação, um equilíbrio justo e consensual entre flexibilidade e segurança, podem dizer adeus ao modelo social europeu", disse.

Sob um cenário de globalização, Rasmussen recomendou aos sindicatos que admitam flexibilidade e pensem na qualificação como pedra-base; e às associações patronais que assegurem investimento de tal forma que a economia cresça o suficiente para que o Governo dê a segurança necessária aos trabalhadores. "Não nos podemos dar ao luxo de deixar alguém pelo caminho", avisou.

Foi este o percurso seguido na Dinamarca, um país com muitas semelhanças com Portugal, lembrou pequeno, sem recursos naturais, aberto à novidade. Muitas semelhanças, mas não todas, já que, por exemplo, Portugal não tem um movimento sindical tão forte quanto o dinamarquês, país onde há mais de um século os trabalhadores e patrões têm uma relação quase paralela. Nem a economia cresce à velocidade suficiente para sustentar um modelo semelhante ao da Dinamarca e que lhe custa mais de 4% do Produto Interno Bruto.

Rasmussen aconselhou ainda Portugal a criar uma nova política fiscal, mais atractiva para os investidores, em particular estrangeiros. Quanto aos portugueses, sugere a criação de um fundo semelhante ao dinamarquês, com dinheiro do Estado e de privados, para ajudar as empresas a ultrapassar a dependência da banca de fundos especulativos, como os hedge funds.