Álvaro Vieira, in Jornal Público
Acusação visa forças políticas e instituições religiosas. Famílias ciganas já foram alojadas pela Câmara do Porto em três bairros de Campanhã
A União Romani Portuguesa (URP) congratula-se pelo facto de a Câmara Municipal do Porto ter concluído o processo de realojamento das 14 famílias do acampamento do Bacelo, mas lamenta que "forças políticas" e "instituições de cariz religiosos" tenham procurado protagonismos à custa da situação daquela comunidade cigana, entretanto alojadas nos bairros de S. Roque, Cerco do Porto e Engenheiro Machado Vaz.
O presidente da URP, Victor Marques, declarou ontem ao PÚBLICO que Bloco de Esquerda, Plataforma Artigo 65, PCP e Pastoral Cigana procuraram retirar dividendos da situação. Ressalvando o caso da Plataforma Artigo 65, que considera estar ligada ao BE, o líder da URP afirma que as restantes entidades se limitaram a passagens esporádicas pelo Bacelo, onde, a 27 de Março, a Câmara Municipal do Porto destruiu o acampamento onde viviam as 14 famílias em condições insalubres.
Por outro lado, Victor Marques critica particularmente a Plataforma, que reúne várias organizações, como a SOS Racismo ou a Solidariedade Imigrante, empenhadas na concretização do artigo 65.º da Constituição que consagra o direito à habitação. O líder da URP considerou irresponsável o comunicado que este movimento emitiu há cerca de uma semana, a afirmar que havia um sentimento de revolta entre os moradores do Bairro do Lagarteiro, perante a eventualidade de ali serem realojadas as famílias ciganas do Bacelo, em casas ocupadas por inquilinos com rendas em atraso. Victor Marques afirma que, até a Plataforma levantar a questão, não havia qualquer mal-estar no bairro.
A URP também critica a Pastoral Cigana, acusando-a de se ter limitado a um breve contacto com as famílias do Bacelo, com intuitos exclusivamente relacionados com a evangelização.
Victor Marques reiterou ainda ao PÚBLICO que discordava da opção da Câmara do Porto de destruir o acampamento primeiro e só tratar de realojar a comunidade depois, mediante o compromisso de as pessoas permanecerem 60 dias nas pensões disponibilizadas pela Segurança Social e de frequentarem um curso sobre habitação em apartamentos. O dirigente da URP sublinha que procurou sempre que as famílias cumprissem estas condições, para não dar argumentos à autarquia para não as realojar, e que essa "postura e condução" contribuiu, em larga medida, para que o caso se resolvesse a contento da comunidade do Bacelo.