Carla Aguiar, in Diário de Notícias
As diferenças de qualificações entre homens e mulheres em Portugal destoam da média comunitária. Ao contrário do que se passa na generalidade dos países europeus, há mais mulheres portuguesas com um nível de ensino secundário do que homens, no grupo etário compreendido entre os 25 e os 64 anos.
Tomando apenas como exemplo o nível de "ensino secundário", as mulheres portuguesas ultrapassam os homens, representando cerca de 27% da população neste nível de ensino, contra cerca de 23% dos homens.
De acordo com dados do Eurostat, relativos ao ano de 2005, a média da União Europeia a 25 aponta precisamente para resultados inversos. Nesse universo de países, são os homens que estão na dianteira, com uma diferença de cerca de cinco pontos em relação às mulheres. Este padrão mantém-se quer estejamos a falar da Europa a 15, a 25 ou a 27 estados membros.
Os mesmos indicadores deixam ainda claro o fosso substancial que separa as qualificações dos portugueses com os restantes europeus. Enquanto em Portugal a frequência do ensino além do 9º ano de escolaridade não é verdade para mais de 25% da população adulta, na média dos 25 estados membros essa realidade diz respeito a mais de 65% da população. Ou seja, o nível educacional dos portugueses equivale a menos de metade da dos seus congéneres europeus.
A excepcionalidade das mulheres portuguesas dissipa-se, no entanto, se baixarmos de escalão etário. Na população entre os 20 e os 24 anos, a prevalência feminina torna-se regra para a generalidade dos países europeus. No grupo dos jovens da União Europeia a 25 estados, as mulheres que obtiveram algum nível de ensino secundário (10º. 11º ou 12º ano) representam 80%, enquanto os homens não vão além dos 75%.
Alguns especialistas em sociologia da educação têm relacionado a prevalência do abandono escolar masculino e das respectivas taxas de insucesso com a excessiva feminização do ensino. Ou seja, a grande maioria do corpo de docentes é composta por mulheres, o que pode dificultar a identificação dos rapazes, e também o nível de respeito e obediência, uma vez que estes tendem a respeitar mais a autoridade de homens. Por outro lado, o número crescente de divórcios - que dão lugar a cada vez mais famílias monoparentais - geram dificuldades acrescidas às mães para imporem a disciplina, sobretudo aos rapazes em idade adolescente.
Várias teorias podem ajudar a explicar um fenómeno que pode ameaçar o desenvolvimento da próxima geração. No entanto, como conclui o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Nuno Crato, os dados são ainda insuficientes para compreender este fenómeno.