2.1.08

Associação Integrar desafia “ilustres” a apadrinharem projectos

Eduardo Macário, in As Beiras Online

A Associação Integrar procura padrinhos para os seus projectos. Uma forma de alertar a sociedade para a existência de exclusão social em Coimbra. Pedro Roma deu o “pontapé” de saída.

A Integrar já não precisa de apresentação. Pelo trabalho desenvolvido ao longo dos anos, mas também pelos novos projectos que vai lançando como resposta às verdadeiras necessidades dos sem-abrigo, dos toxicodependentes, das prostitutas, das crianças e jovens que, vivendo em família, precisam de boas alternativas para crescerem e se desenvolverem de forma (mais) correcta.

E porque este tipo de trabalho só é verdadeiramente apoiado quando ganha alguma visibilidade, a Integrar decidiu desafiar figuras públicas da cidade de Coimbra a apadrinharem os projectos em curso. A campanha “Um padrinho é um amigo” – “apadrinhar é agir” – pretende, como explicou Jorge Alves num encontro informal no Café Santa Cruz, em Coimbra, “sensibilizar figuras públicas para apadrinharem projectos ou equipamentos da instituição de modo a dar-lhes maior visibilidade”. Ao mesmo tempo, a campanha pretende “pôr ao serviço de uma causa social, um conjunto de boas vontades de personalidades” que o presidente da Integrar acredita serem capazes de se associarem ao objectivo central da campanha.

Equipa de apoio social directo (ou equipas de rua); Centro de Acolhimento e Inserção Social (CAIS); Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental (CAFAP); Projecto “Renovar as Origens); Sessão de Futsal, Loja de Solidariedade e os diversos departamento de marketing e comunicação, de animação e prestação de serviços, de formação e de projectos, são os equipamentos ou projectos da Integrar que procuram padrinhos ou madrinhas capazes de assumir na prática as três exigências fundamentais: capacidade de proteger, de patrocinar e de promover... durante todos os dias do ano e em todas as situações.

E Pedro Roma, o guarda-redes da Académica, deu o “pontapé de saída”. Ao ser confrontado com o desafio lançado pela Integrar, escolheu a Equipa de Apoio Social Directo e saiu à rua numa noite fria de Dezembro deixando algumas palavras de apoio e de estímulo aos homens que, pelas mais diversas razões, se encontram nalguns dos recantos desta cidade alheios à azáfama do Natal e do Ano Novo.

Alheios – ou alheados – será, sem dúvida, o termo certo para explicar a relação dos sem-abrigo com a cidade e vice-versa. Uma relação que apenas sofre alguma mudança durante o mês de Dezembro e, mesmo assim, apenas quando se aproxima o Natal.

Confrontar a sociedade

“Nesta altura, toda a gente se lembra dos sem-abrigo, dos pobrezinhos, das crianças institucionalizadas, das famílias carenciadas. Passado o dia 31 de Dezembro deixa de haver exclusão social, a sociedade regressa à sua vida normal colocando uma cortina sobre o assunto que só voltará a ser realidade no Natal seguinte”, critica Jorge Alves que explica este desafio da Integrar como uma forma de tentar manter à luz do dia uma realidade que existe na cidade de Coimbra e em alguns concelhos vizinhos e que não pode ser relegada para segundo ou terceiro planos.

“É urgente a sociedade conscencializar-se de que há exclusão social de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro, uma situação que a Integrar e outras instituições do género procuram colmatar”, reconheceu, adiantando que “é necessário acabar com a falsa ideia de que não há sem-abrigos ou exclusão social em Coimbra”.

Confirmando que as figuras públicas não podem delegar esta responsabilidade de apadrinhar e acompanhar o projecto escolhido, noutras pessoas, Jorge Alves reconhece que se trata, também, de uma forma de pôr as questões da exclusão social para fora das próprias instituições de apoio.

E foi, também com esse espírito que Pedro Roma aceitou o desafio e não resistiu a escolher a equipa de rua para apadrinhar.

“Quando fui contactado pela associação, este foi o projecto com que mais me identifiquei”, confessou Pedro Roma, reconhecendo que, tratando-se de figuras públicas poderão mais facilmente sensibilizar as pessoas de fora e as de dentro do próprio projecto”. E foi com alguma emoção que o guarda-redes da Académica explicou que o facto de ter colegas que com ele estiveram no mundo do futebol e que hoje vivem nas ruas o sensibilizou para este projecto.

Confessando-se “extremamente sensibilizado” pelo convite, o guarda-redes da Académica disse esperar que os adventos de tal “apadrinhamento” venham a ser muito positivos. “Sempre que for possível estar presente nestes giros de rua, eu estarei”, prometeu... tal como deixou outras promessas que é bom não esquecer.