26.2.08

Associação mendiga subsídios para dar apoio aos sem-abrigo

in Jornal de Notícias

Equipas de rua dos Médicos do Mundo acompanham os sem-abrigo do Porto desde 2002


Todas as segundas, quartas e quintas-feiras à noite saem à rua para ajudar os sem-abrigo, os toxicodependentes, alcóolicos e prostitutas. Às terças-feiras, acompanham os imigrantes em vias de expulsão do país. Prestam cuidados de saúde, medicam, encaminham, distribuem informações e material útil, como cobertores, preservativos e kits de higiene. Mas para darem apoio a quem a sociedade voltou as costas, os Médicos do Mundo têm de mendigar subsídios e "fazer figas" para que os financiamentos dos projectos sejam aprovados. Por ora, e pelo menos até Junho, trabalham no limiar da sobrevivência.

Os projectos de rua que aquela associação desenvolve na cidade do Porto, nomeadamente o "Porto Escondido", estão, neste momento, dependentes da aprovação de uma candidatura da Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA, cujo resultado só deverá ser conhecido no início do Verão, segundo as contas da coordenadora do projecto, Isabel Ferreira. O atraso deve-se a alguns ajustes no processo de financiamento.

A verba de 2007 - ano em que prestaram apoio a quase 700 pessoas - terminou em Dezembro e, desde aí, somam-se as dificuldades. Dos 10 elementos que compunham a equipa, sobra um psicólogo em part-time, o único a quem conseguem pagar, e um punhado de voluntários.

"Não conseguimos dar resposta a novos casos e a qualidade do acompanhamento também diminui", lamenta Isabel Ferreira, coordenadora do "Porto Escondido". A responsável já não pede tantos operacionais quantos já teve, mas o mínimo indispensável um educador social e um psicólogo a tempo inteiro, um médico e um enfermeiro em part-time, o que dá cerca de 3500 euros por mês em vencimentos. Ordenados que só podem ser pagos se a candidatura for aprovada.

Mais pessoas na rua

Para complicar ainda mais a situação, nos últimos meses do ano passado, os técnicos constataram um aumento do número de pessoas nas ruas. Um fenómeno que Isabel Ferreira justifica com o fim do projecto Porto Feliz e com o agravar da situação sócio-económica na região.

"Sentiu-se um aumento significativo, sobretudo em Novembro, mas agora parece que estabilizou", comenta, lamentando o fim do programa de combate à exclusão social da Câmara do Porto.

Optimista em relação à aprovação da candidatura, Isabel Ferreira lembra que esta, por si só, não basta para a sustentar os projectos desenvolvidos pela Delegação Norte dos Médicos do Mundo. É preciso angariar fundos através de campanhas, de vendas de natal e da realização de rastreios, "pedinchar" medicamentos, produtos de enfermagem, kits de higiene oral e íntima, sabonetes e champôs, entre outros. "Muitas vezes são os nossos voluntários que os arranjam, pedindo a um dentista", conta a coordenadora, preocupada em não falhar com a população que segue, depois de lhes ter criado hábitos como lavar os dentes.

Às segundas, quartas e quintas-feiras à noite, cinco técnicos saem para a rua às 21 horas, "rezando" para que os carros velhinhos aguentem mais uma ronda por zonas tão pobres como o centro da cidade e tão nobres como a Boavista e o Campo Alegre. Em todas elas, há sempre alguém à espera de um curativo, de uma manta ou, simplesmente, de uns minutos de conversa.

Números

684 pessoas foram contactadas pelos Médicos do Mundo em 2007. Destas, 512 foram novos contactos. Do total, 412 eram sem-abrigo, 272 dedicavam-se à prostituição e 101 estavam em situação de emergência social.

1000 consultas médicas e de enfermagem em 2007. Deram ainda 279 consultas de psicologia e 282 consultas na área social.

Pormenores

Porto Escondido
O Porto Escondido é um dos principais projectos da delegação Norte dos Médicos do Mundo. Foi criado em 2002 para prestar cuidados de saúde, dar apoio psico-afectivo e encaminhar os sem-abrigo do Porto. Já alargou a sua população-alvo aos imigrantes, toxicodependentes e alcoólicos e a quem vive da prostituição.

Terceira (c)idade
Projecto para combater a solidão dos idosos, com voluntários a ajudá-los em pequenas tarefas como ir às compras, à farmácia ou às consultas.

Gabinete minúsculo
O Centro de Apoio Sócio-Sanitário funciona há um ano e meio num gabinete minúsculo na sede dos Médicos do Mundo, em S. Mamede de Infesta (Matosinhos).

Rondas nocturnas
Começam pelas pensões e depois seguem, às segundas-feiras, para uma ronda na Baixa ruas de Santa Catarina, Bonjardim, Gonçalo Cristóvão, Camões e Campo 24 de Agosto. Às quartas vão à Boavista, Campo Alegre, Hospital de Santo António, Júlio Dinis e Bom Sucesso. Às quintas, a ronda da prostituição passa pela Zona Industrial, Antunes Guimarães, Boavista, Rua da Alegria, entre outras.

Oferta de unidade móvel
Empresa GASIN vai oferecer uma unidade móvel.

Como ajudar
Conta dos Médicos do Mundo na CGD, com o seguinte NIB 003505510000776633031