26.2.08

Violência das últimas semanas deixa dezenas de milhares em risco

Sofia Lorena, in Jornal Público

No Darfur, há cidades que são destruídas pela segunda vez por soldados e por milícias e pessoas que estão a perder "qualquer esperança"


O balanço refere-se apenas à violência das últimas semanas: há perto de 60 mil civis numa situação "muito vulnerável" no Darfur Ocidental. A ONU está especialmente preocupada com 20 mil deslocados que fugiram de aldeias atacadas e se refugiram em Jebel Moun - no domingo, tivera garantias de que poderiam sair em segurança; horas depois, Jebel Moun era alvo de bombardeamentos. E há ainda 10 mil a 12 mil que fugiram para o Chade e estão encurralados perto da fronteira - o Governo chadiano não autoriza que se movimentem para o interior do país; as agências humanitárias não conseguem chegar até eles por causa da violência.

"Quase metade das casas está destruída. Há mulheres e crianças desaparecidas, mães que não encontram os filhos. As milícias a que os civis chamam janjaweed passaram e destruíram tudo. Houve violações, houve de tudo. Foi parecido com o que aconteceu há três anos às mesmas pessoas", descreveu ontem por telefone ao PÚBLICO Orla Clinton, responsável da OCHA (Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU), em Cartum.

A descrição diz respeito a Sirba, cidade atacada pelo Governo no dia 8 de Fevereiro e onde agências da ONU estiveram no fim da semana passada.

Apesar da violência étnica e tribal anterior - na mesma região, no Chade e nas zonas de fronteira -, geralmente aceita-se que a actual guerra do Darfur começou faz hoje cinco anos, quando um grupo de rebeldes atacou uma caserna no Norte do Darfur, queixando-se de marginalização política e económica, lembra a AFP. Para além das suas Forças Armadas, Cartum respondeu recrutando e armando milícias - os janjaweed.
Observadores internacionais dizem que o conflito já fez 200 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados.

Combates desde Dezembro

"Estamos muito preocupados. A violência aumentou muito desde Dezembro, especialmente no Darfur Ocidental. Os rebeldes atacaram e o Governo respondeu como sabíamos que ia responder. Apesar dos nossos apelos para que todas as partes diferenciem entre combatentes e civis, nenhum dos lados olha para o impacto nas populações. E quando há combates, é muito difícil chegarmos a quem precisa", diz Clinton.

A boa notícia, depois de meses de negociações e recuos sudaneses, foi a aprovação da UNAMID, que, em Janeiro, substituiu oficialmente a missão da União Africana no Darfur e ali deveria proteger civis e agentes humanitários. Deverá ser a maior operação de paz da ONU, com 26 mil soldados, mas ainda só estão 9 mil no terreno.
"Nós precisamos da UNAMID tanto quanto os civis", sublinha Clinton, antes de enumerar os nove veículos roubados ao PAM (Programa Alimentar Mundial) e à OCHA só este mês; os oito destruídos; os dois funcionários mortos; e os onze raptados.
As expectativas "eram altas", diz, mas a realidade tem sido outra: "Em Geneina [capital do Darfur Ocidental], por exemplo, a UNAMID tem 150 pessoas. Como é que se pode proteger o Darfur Ocidental e a fronteira do Chade com 150 pessoas?".
Contas feitas, ninguém fala de progressos positivos globais no Darfur. "Em Setembro, Outubro e Novembro, a situação estava pior noutros sítios. Agora é no Darfur Ocidental. Mas temos problemas em todo o Darfur."