23.2.08

Presidente da República convoca portugueses "a trabalhar para vencer dificuldades"

Filomena Fontes, in Jornal Público

Alerta da Sedes recebido com críticas pelo ministro do Trabalho, que se insurge contra "dramatismo"


Directamente interpelado a agir perante "a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado" para o qual a Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) alertou, o Presidente da República convocou o país a ter confiança em si próprio para não se deixar submergir pelo desalento. "Não nos podemos resignar perante as dificuldades. É preciso mobilizar os portugueses para as vencer", declarou. "Convido os portugueses a trabalhar para vencer as dificuldades", apelou ainda Cavaco Silva, escusando-se a tecer comentários sobre as questões concretas que o documento da Sedes suscita, por não o conhecer, e que ontem levantou um clamor de reacções, desde a Igreja a todas as forças partidárias.

Num diagnóstico sombrio sobre os bloqueios que o país enfrenta, a Sedes constatou "um mal-estar-difuso", que "alastra e mina a confiança à coesão nacional" e alertou para "a emergência de uma crise social de contornos difíceis de prever, se a espiral decadente continuar".

"Não conheço quais as razões, os estudos ou indicadores que permitam uma afirmação com esse dramatismo", reagiu o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, lembrando que "o investimento voltou, as contas do Estado estão hoje a caminho de estarem na ordem, e mesmo a criação de emprego registou os melhores sinais desde 2000". Insurgindo-se contra quem "cria um clima de desânimo", Vieira da Silva sustentava ser "tão prejudicial para o país esquecer os problemas, como dar-lhes uma dimensão que aparece aos portugueses como inultrapassável".

"Importante" foi como o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, recebeu o alerta da Sedes, mas sobre o qual entende dever reflectir-se "sem alarmismo". "Deve ser acolhido por todos e em particular pelos responsáveis do país para prevenir que essa crise aconteça", afirmou.

Para o padre Lino Maia, que preside às IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), o mal-estar deve-se a um "Estado que abafa as iniciativas da comunidade e das instituições de solidariedade".

Visados, também directamente, no documento da Sedes, os partidos com assento parlamentar reagiam, entre um comedido "diagnóstico correcto" pelo líder parlamentar do PSD, Santana Lopes, e a responsabilização do Governo socialista pela iminência de uma crise social de proporções imprevistas. "É um facto que existe na sociedade portuguesa um enorme mal-estar em resultado das políticas de cerceamento de direitos sociais, laborais e até políticos", avaliava Rui Fernandes, da comissão política do PCP, para quem é ao PSD e ao PS que se deve pedir responsabilidades. E criticando, por isso, que a Sedes tratasse os partidos por igual.

Para João Semedo, do BE, é no "crescimento económico medíocre" e no "desequilíbrio estrutural dos rendimentos" que se fundam as razões da crise , para a qual, diz, contribuiu" a redução significativa das despesas sociais do Estado" a que se assistiu nos últimos anos. Preocupado manifestou-se o deputado Nuno Melo, do CDS, não só pelo desconfiança no sistema político, mas também na justiça. "Devemos estar atentos a estes sinais", reagiu. Admitindo que as reformas lançadas pelo Governo "têm impacto" na vida das pessoas, o porta-voz do PS, Vitalino Canas, garantia que há também "resultados".

"Não nos podemos resignar perante as dificuldades. É preciso mobilizar os portugueses para as vencer"