25.2.08

Pobreza em Portugal coloca crianças em risco

Lígia Silveira, in Agência Ecclesia

Pe. Agostinho Jardim Moreira afirma que governo não capacita pessoas para saírem do círculo de pobreza


A pobreza deixou de chocar as pessoas que se habituaram a viver com a injustiça. Um quadro que, em Portugal já se tornou “normal, como de se uma realidade se tratasse”, aponta à Agência ECCLESIA o Pe. Agostinho Jardim Moreira, Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal.

Dada esta normalidade, é também sem surpresa que o Presidente da REAPN recebe os dados da União Europeia que apontam que uma em cada cinco crianças portuguesas está em risco de pobreza.

O Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal traça um quadro no qual os pais trabalhadores auferem um rendimento “muito pequeno, insuficiente para satisfazer as necessidades”.

A maior parte das famílias pobres “não tem formação, qualificação nem auto-estima capaz de despertar nos filhos uma vontade de lutar por um futuro diferente dos seus pais”. Neste quadro, a “pobreza torna-se herdeira e contínua”, aponta.

O Pe. Agostinho Moreira sublinha também que o Rendimento Social de Inserção falha nos seus objectivos, pois “não tem sido suficientemente aplicado”.

Esta medida do governo, de natureza pecuniária e de carácter transitório visa dar às pessoas e aos seus agregados familiares apoios adaptados à sua situação pessoal, que contribuam para a satisfação das suas necessidades essenciais e que favoreçam a progressiva inserção laboral, social e comunitária.

O Presidente da REAPN Portugal sublinha que “este subsídio não acompanha a inclusão”, nomeadamente “não favorece a formação dos pais e família”.

“O RSI apenas faz dos pobres consumidores”, dando-lhes subsídios e “não aposta na sua capacitação para os incluir na vida activa”.

O Pe. Agostinho Moreira aponta que as crianças que se encontram no limiar da pobreza concentram em si “vários factores sociais”.

O Presidente da REAPN Portugal acompanha agradavelmente as políticas que o Governo têm vindo a desenvolver, nomeadamente as que se dirigem aos idosos que, “apesar de não alterar substancialmente a sua vida, favorece uma maior qualidade”, aponta.

Mas frisa que “é preciso mudar as políticas, pôr as pessoas em primeiro lugar e pensar que não é com dinheiro que se resolve, mas antes com formação e qualificação para que as próprias pessoas possam intervir no seu processo”.

“Ficarmos no subsídio do dinheiro não resolve os problemas”, explica, apontando que as pessoas encaram outras situações graves, nomeadamente de “problemas afectivos, familiares e de integração”.

O Pe. Agostinho Moreira aponta que neste sistema capitalista “as pessoas passaram para segundo plano, pensando que o dinheiro resolve tudo”. O dinheiro é necessário “mas é preciso primeiro dar atenção às famílias, para que resolvam os seus problemas e integrem as suas crianças”.

Portugal é um dos oito países da UE onde se registam os níveis mais elevados de pobreza nas crianças, nomeadamente nas que vivem com adultos empregados, segundo um relatório da Comissão Europeia, a que a Lusa teve acesso.

De acordo com o relatório conjunto sobre a protecção social e inclusão social, que vai ser apresentado hoje, dia 25, e deverá ser adoptado no dia 29 pelo Conselho de Ministros do Emprego e Segurança Social, em Portugal há mais de 20 por cento de crianças (uma em cada cinco) expostas ao risco de pobreza.

O risco abrange tanto crianças que vivem com adultos desempregados como as que vivem em lares onde não há desemprego.

Relativamente à pobreza das crianças, Portugal está em penúltimo lugar e é apenas ultrapassado pela Polónia - ambos com mais de 20 por cento de risco de exposição à pobreza - de uma tabela liderada pela Finlândia e Suécia, com sete por cento de risco.

O grupo de países onde se registam níveis relativamente altos de pobreza nas crianças, extremamente elevados em trabalhadores e uma fraca assistência social, inclui Espanha, Grécia, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Polónia e Portugal.

O relatório exclui a Bulgária e a Roménia, os últimos a aderir à União Europeia.

Com Lusa