Carla Cruz, in Jornal de Notícias
Trabalho no Banco Alimentar assenta sobretudo no voluntariado. O distrito do Porto tem entre 500 e 600 mil pessoas a viver na pobreza, anunciou, ontem, o Bloco de Esquerda
"O nosso objectivo é fechar o Banco Alimentar. Trata-se de uma utopia, porque em todo o Mundo há fome e não há maneira de acabarmos com ela. Se o fechássemos seria um bom sinal. Teria sido eliminada a pobreza". Vasco António, presidente do Banco Alimentar no distrito do Porto, refere-se desta forma ao trabalho desenvolvido em Portugal desde 1996. A procura tem crescido exponencialmente nos últimos anos e a instituição diz mesmo que, actualmente, não consegue responder a todas as solicitações. O distrito tem entre 500 a 600 mil pessoas a viver na pobreza, tornou público o BE, ontem, depois de um ano de contacto com instituições de solidariedade social.
É neste contexto que o Banco Alimentar se apresenta como uma mais-valia para aqueles que nada têm. Vasco António não comenta os números apresentados, mas de uma coisa tem certeza "A pobreza tem aumentado, o número de pedidos que nos chega é disso revelador".
Apesar de toda a boa vontade da instituição, a verdade é que esta já não consegue responder a todas as solicitações. O futuro é preocupante. "A sensação que temos é de que há cada vez mais pobres e que estão cada vez mais dependentes da ajuda do Banco Alimentar, o que não é um bom sinal", explica Vasco António.
Os números parecem, no entanto, não revelar a verdadeir dimensão do problema. "Os dados que temos, de cerca de 69 mil carenciados, são apenas os relativos às pessoas inscritas nas instituições que ajudamos. Na realidade, haverá muitos mais. A situação económica no país não é alhei a isto", afirmou, ainda, o responsável.
Realidade que também se verifica através dos pedidos a título pessoal que chegam ao Banco. "Nesses casos, o que fazemos é verificar qual a instituição mais próxima e entramos em contacto para que esta possa verificar o grau de necessidade da família em questão".
Banco em movimento
O Banco Alimentar é uma instituição que não pára. Por dia sãodistribuídos, em média, cerca de 20 mil quilos de géneros alimentícios e, duas vezes por semana, as várias instituições deslocam-se ao armazém da instituição no distrito do Porto (em Perafita, matosinhos) para se abastecerem.
Durante todo o ano são cerca de três mil os voluntários que trabalham nas campanhas de recolha de produtos na Primavera e Natal, nos 195 supermercados aliados à recolha.Diariamente, são 25 os voluntários que passam parte do seu tempo dedicado ao armazenamento e distribuição dos alimentos recolhidos. "
Temos nove profissionais no momento. Os restantes - voluntários - vêm para cá por vontade própria e sabem que não temos dinheiro para lhes pagar quer despesas de transporte, quer despesas de alimentação", afirmou Vasco António.
As principais fontes de abastecimento provêm do Instituto Nacional de Garantia Agrícola, do Mercado Abastecedor do Porto e e das hortas.