Natália Faria, in Jornal Público
António Magalhães, presidente da Câmara de Guimarães e recém-indigitado presidente da Associação de Municípios do Vale do Ave, fala em formação frágil, em escalões etários de trabalhadores acima dos 45 anos e em centenas de famílias de desempregados em dificuldades.
Como está hoje a situação social e económica no Vale do Ave?
Naquilo que é o problema do desemprego, as coisas estabilizaram nos 13 e tal por cento. O problema é que falamos de desempregados cuja formação de base é frágil e cujo escalão etário é superior aos 45 anos. Aqui, o que nos preocupa tem a ver com o fim do subsídio de desemprego e com ter de encontrar alternativas que permitam subsidiar as carências mínimas do agregado familiar do desempregado, porque ele não tem condições para entrar logo na reforma ou na pré-reforma. Esse é um problema muito sério. Temos sensibilizado o ministro da tutela, mas continuamos sem nenhum sinal verde do que é que se pode fazer neste particular.
Que "almofadas" espera do Governo para amortecer o impacto do desemprego?
O Governo terá que ponderar seriamente o que fazer às pessoas que não encontram alternativa. No meu concelho, há 300 famílias que têm um cabaz alimentar mensal. Se eu circunscrever os cerca de 10 mil desempregados que há em Guimarães e disser que os mais carentes são apenas 300 famílias - 1100 ou 1200 pessoas - isso também não é verdade, porque aqui não entram aqueles que vão conseguindo encontrar algumas soluções na economia paralela. Em atitudes de carácter pontual, a câmara vai ajudando com dinheiro, remédios, fraldas, mas isso não resolve os problemas de fundo. Por isso, há-de haver aqui qualquer coisa que permita conceder um apoio a essas famílias, em troca de um trabalho para a comunidade, por exemplo.
Há uns anos foi implementado um regime especial que prolongava o tempo do subsídio de desemprego.
Sim, mas não me parece que o Governo queira ir por aí. Mas penso que àqueles desempregados aos quais não é possível dar mais formação - porque a formação de base é tão baixa que não dá para dar um salto qualitativo mínimo para outro lado - o Governo poderá dar uma contribuição em troca de um trabalho compatível ao nível do interesse público: quatro horas por dia nas câmaras, nas escolas, nos tribunais, nas juntas e freguesia... Outro problema igualmente complexo é o dos jovens que têm formação e não encontram trabalho no mercado. Infelizmente, neste momento, não há na região trabalho qualificado para acolher essa mão-de-obra. Nós vamos ter o Ave Park, em Guimarães, e o Instituto Ibérico, em Braga, que terão algumas condições para isso, mas não chega. Nós precisamos de um centro de formação profissional e tenho confiança que o vamos conseguir, para dar um sinal às pessoas que é possível, em função das capacidades que têm, orientarem a sua formação em função da empregabilidade que existe.