30.4.08

Crianças são vítimas do aquecimento global

Ana Machado, in Jornal Público

São as crianças, e principalmente as dos países mais pobres do planeta, as principais afectadas pelas consequências do aquecimento global. A conclusão é de um relatório da Unicef no Reino Unido, publicado no âmbito dos dez anos da assinatura britânica do Protocolo de Quioto.

Segundo o relatório, cheias, secas, doenças provocadas por vectores, como a malária, afectarão também a educação e perspectivas de futuro das crianças dos países mais desprotegidos. Enquanto os países mais desenvolvidos e mais ricos se adaptarão às novas condições climáticas, os povos com menos recursos não terão hipótese de responder.

"É quem tem contribuído menos para as alterações climáticas, os países mais pobres e, acima de tudo as suas crianças, que serão os mais afectados", disse à BBC David Bull, director da Unicef no Reino Unido. "Se o mundo não responder já para minimizar os efeitos das alterações do clima e para se adaptar aos novos riscos, estaremos a colocar em perigo o cumprimento dos Objectivos do Milénio até 2015", acrescentou Bull.

Os oito Objectivos do Milénio, os maiores desafios mundiais, segundo a ONU, compreendem a erradicação da pobreza extrema e da fome, a educação universal, a igualdade de género, a redução da mortalidade infantil, investimento na saúde materna, combate contra o HIV e malária, a sustentabilidade do ambiente e a construção de uma parceria global para o desenvolvimento.

As nações comprometeram-se a alcançar estes objectivos até 2015. Mas o Banco Mundial alertou este mês para o facto de esse compromissos estar em risco de não ser cumprido. Pelo menos a África subsariana falhará os oito objectivos por essa data.
Mas para a Unicef são as alterações climáticas o principal travão a essa conquista. O aquecimento global e as consequências na redução de chuva, o aumento das doenças relacionadas com o consumo de água não potável, como a cólera, e a diminuição da produtividade agrícola reforçam esta tese do organismo das Nações Unidas para a infância.

"Tudo isto tem a ver com o aumento da temperatura global, que cresceu pelo menos um grau em média, desde 1850", disse à BBC Nicholas Stern, ex-vice-presidente do Banco Mundial, conselheiro do executivo de Gordon Brown e autor do Relatório Stern sobre o impacto económico das alterações climáticas. O aquecimento global seria o principal motor de um possível aumento da mortalidade infantil em África, diz Stern.

As alterações climáticas seriam o motor de um possível aumento da mortalidade infantil em África