28.4.08

Mediador de etnia cigana é caso de sucesso no hospital

Teixeira Correia, in Jornal de Notícias

A integração é o melhor remédio para combater a exclusão. Esta foi a "receita" encontrada pelos responsáveis do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja, onde, à semelhança de outras unidades do país, havia a necessidade de responder da forma mais conveniente às situações específicas que, por razões de índole cultural, rodeiam a admissão de um doente de etnia cigana.

Entradas extemporâneas no Serviço de Urgência, visitas aos pisos fora de horas ou viaturas mal estacionadas eram constantes dificuldades com que os profissionais da saúde se debatiam. A resposta chegou através Centro de Formação Multiprofissional do Centro Hospitalar do Baixo Alentejo (CFM/CHBA) - que abarca as unidades de Beja e Serpa - ao propor um mediador da mesma etnia, que pudesse gerir os conflitos e emoções. O sucesso não se fez esperar, com as situações mais problemáticas a serem resolvidas pela "via diplomática", herdada directamente do conhecimento dos hábitos, crenças e costumes das suas gentes.

Através do Centro de Estudos de Intervenção Social (CESIS) e apoiado pelo programa comunitário EQUAL, com base no projecto "P'lo sonho é que vamos", começava um processo de selecção que levaria à resolução do problema.

"Só tenho a 4.ª classe"

Da sua humilde casa de madeira, construída no quintal da casa dos pais, na pequena aldeia de Mombeja (a cerca de 20 quilómetros de Beja), chegou, em Julho de 2007, o jovem João Pedro, que acabou por ser o escolhido para a função, em detrimento de dois "conterrâneos" - como chama às gentes da sua etnia. "Só tenho a 4ª classe, mas, sou uma pessoa inteligente e interessada em aprender", disse ao JN o jovem que frequentou aulas de português, ministradas por um professor contratado pelo hospital.

Durante seis meses, João frequentou um estágio interno. Ficou a saber qual a sua função, conheceu todos os cantos do hospital, contactou com médicos, enfermeiros e administrativos, familiarizou-se com linguagem da saúde, e tornou-se no mediador sócio-cultural que o CHBA procurava. "Vivia do Rendimento de Inserção Social, e, de vez em quando, fazia una "biscatos" na agricultura", conta.

O Serviço de Urgências ou o átrio principal do hospital são os lugares onde mais se sente a sua presença. De fato e gravata, telemóvel na mão, trato fácil e uma delicadeza impar, João Pedro leva muito a sério o seu trabalho. "É um emprego que me agrada. Sinto-me orgulhoso pela forma como todos me respeitam", diz sorridente, ainda que um pouco envergonhado.

Contrato para renovar

Quando chegou, teve conhecimento dos problemas relacionados com os seus "conterrâneos". Chegou a ser maltratado por uma rapariga da sua etnia, mas garante já ter esquecido as ofensas.

O contrato com o Centro Hospitalar termina no próximo mês de Junho, mas já tem a garantia de Rui Sousa Santos, presidente do Conselho de Administração, que vai ser renovado por mais seis meses". "Tem dado volta ao hospital na vivência e relação com uma comunidade com que tínhamos problemas", disse ao JN, o responsável.