7.4.10

Há doentes que morrem à espera de cuidados continuados

Por Catarina Gomes, in Jornal Público

"Há doentes que quando são chamados para entrar numa unidade de cuidados continuados já morreram", admite a coordenadora da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, Inês Guerreiro, notando que nos hospitais muitos médicos e enfermeiros não estão sensibilizados para sinalizar os doentes logo que são internados, o que atrasa o processo.

O ideal é que o doente que precisa de cuidados continuados seja sinalizado até dois dias após o internamento. Ou seja, se os profissionais de saúde constatam que deu entrada, por exemplo, um doente idoso, com uma fractura do colo do fémur - um dos diagnósticos que mais justifica encaminhamentos -, com problemas sociais, devem sinalizá-lo às equipas de gestão de altas que existem nos hospitais.

O relatório anual com os dados de 2009, conhecido ontem, revela que em vez de dois dias a sinalização leva em média 20 dias, mais três dias para a referenciação para uma unidade, os 30 dias que pode levar a identificar uma vaga, no caso da região de Lisboa e Vale do Tejo (a que tem menos oferta), e os cinco dias até à entrada do utente na rede. Contas feitas, os doentes podem esperar bastante mais do que um mês.

Inês Guerreiro diz que também há atrasos na resposta da rede, mas o relatório aponta sobretudo para "a ausência de sensibilidade a nível hospitalar para a preparação precoce da alta e destino do doente após a mesma". Assim, muitos doentes acabam por ser mandados para casa enquanto esperam lugar e "alguns acabam por morrer sem cuidados, abandonados". Dos 20.313 doentes com critérios para ser admitidos na rede, 239 morreram antes de entrar.

Outro problema é a referenciação desadequada, refere a responsável. O relatório diz que do total de 2779 mortes de utentes admitidos na rede - as admissões foram cerca de 17 mil -, 36 por cento aconteceram no primeiro mês; mesmo excluindo mortes em cuidados paliativos, a proporção é de 29 por cento. Muitas mortes acontecem nas unidades de convalescença, onde é suposto entrarem doentes estabilizados que ali deverão permanecer cerca de 30 dias. "É estranho", diz Inês Guerreiro, para notar que pode haver "hospitais que querem livrar-se de doentes e referenciam-nos mal".