3.9.15

Criada Plataforma de Apoio aos Refugiados

Instituições portuguesas unem-se para ajudar o Estado português a recebê-los e para apoiar as ONG que estão na linha da frente

Rui Marques tem passado as últimas horas entre telefonemas e emails para que a mensagem passe depressa e bem. Conhecido dos portugueses há mais de vinte anos, desde que tentou que o barco Lusitânia Expresso chegasse a Timor-Leste, numa missão de paz, não é a primeira vez que o atual diretor do Instituto Padre António Vieira se bate por uma causa. Mas esta é-lhe particularmente cara.

Mesmo que não tivesse desempenhado o cargo de Alto Comissário Alto-Comissário Adjunto para a Imigração e Minorias Étnicas, o que se está a passar às "portas" da Europa é mais do suficiente para ele querer fazer parte de uma iniciativa da sociedade civil que tem como eixos de trabalho contribuir para o esforço de acolhimento e integração de refugiados em Portugal e apoiar as ONG que estão na linha da frente, na Síria e noutros países.

"Perante um contexto de crise humanitária gravíssima, a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial, os Estados e a União Europeia têm de dar uma resposta ao desafio de acolher os refugiados, devem liderar o processo. No entanto, a sociedade civil, nomeadamente a portuguesa, não se pode demitir da sua responsabilidade e deve fazer parte desta dinâmica, num esforço complementar e convergente com o Estado", justifica. "Temos a necessidade de dizer 'presente', se queremos uma Europa humanista e solidária."

Uma Europa que não tem nada a ver com aquela que defendeu o primeiro-ministro húngaro, num artigo de opinião publicado esta quinta-feira, 3, no jornal alemão Frankfurt Allgemeine Zeitung, lembra Rui Marques. Sem rodriguinhos, Viktor Orbán fala numa "invasão" de refugiados muçulmanos, numa Europa que "tem raízes cristãs". Uma visão que o diretor do IPAV repudia completamente. "É um discurso muito perigoso", alerta, "que procura levantar o medo, os fantasmas."

A Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) repercute a diversidade religiosa e inclui não crentes. "Esta não é uma questão de matriz ideológica ou religiosa - é uma questão de pessoas, de seres humanos", lembra Rui Marques.

A apresentação formal da PAR está marcada para amanhã, sexta-feira, 4, e aceitam-se adesões até ao final do dia de hoje, mas são já 19 as instituições interessadas em trabalhar em conjunto: Amnistia Internacional, Cáritas Portuguesa, CNIS - Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade, Comissão Nacional Justiça e Paz, Comité Português da UNICEF, Comunidade Islâmica de Lisboa, Comunidade Vida e Paz, Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, Corpo Nacional de Escutas, Conselho Português para os Refugiados, Cruz de Malta, EAPN Portugal / Rede Europeia Anti-Pobreza, Fundação Gonçalo da Silveira, GRACE - Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial, Instituto Padre António Vieira, Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, Serviço Jesuíta aos Refugiados, Obra Católica Portuguesa das Migrações, OIKOS.