28.9.15

Portugal é dos países menos “generosos” da Europa na protecção a idosos

Alexandra Campos e Lusa, in Público on-line

Portugal gasta apenas 0,1% do seu Produto Interno Bruto com os cuidados de longa duração a pessoas com 65 ou mais anos. Habitualmente, são os familiares que cuidam dos idosos.

Portugal é dos países menos “generosos” da Europa na protecção dos idosos. Tem poucos profissionais especificamente dedicados às pessoas com 65 ou mais anos e um das despesas nesta área das mais reduzidas do mundo, conclui um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado esta segunda-feira.

Intitulado Long-term care protection for older persons: A review of coverage deficits in 46 countries (Protecção continuada dos idosos: uma revisão dos défices de cobertura em 46 países), o estudo calcula que faltam 13,6 milhões de profissionais para que se consiga atingir a cobertura universal dos idosos dos países referidos (cerca de 300 milhões de pessoas, 80% da população mundial com 65 ou mais anos ).

“Destacamos estas lacunas, apesar do grosso do cuidado – mais de 80% da protecção de longo prazo – ser actualmente garantido por familiares dos idosos (sobretudo mulheres) que não são pagas. O seu número ultrapassa em muito o total de profissionais desta área em todos os países”, sublinha em comunicado Xenia Scheil-Adlung, coordenadora da política de saúde da OIT e autora do estudo.

Os dados relativos a Portugal indicam que, na Europa, é dos que têm percentagens mais reduzidas de trabalhadores formais desta área por cada 100 idosos, apenas 0,4, enquanto a Espanha tem 2,9 e a Noruega 17,1. Uma realidade que deixa 90,4% dos idosos sem acesso a uma protecção de longo prazo com qualidade por ausência de profissionais dessa área.

A seguir a Portugal, surgem a França e a Eslováquia, onde 73,5% dos idosos não têm apoios de qualidade, seguindo-se a Irlanda (56,6), a República Checa (49,4) e a Alemanha (22,9). Do lado contrário estão o Luxemburgo, a Noruega, a Suécia e a Suíça, onde a taxa de cobertura é de 100%.

A ausência de protecção fica patente também na percentagem da despesa em cuidados de longa duração com os idosos em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). Apesar de ter uma das mais elevadas percentagens de idosos do mundo (perto de 19% em 2013), Portugal dedicava apenas 0,1% do seu PIB a esta área, o valor mais baixo dos países analisados, à excepção da Turquia (com 0).

No fundo da tabela estão também a Estónia (0,2% do PIB), a República Checa (0,3%) e a Espanha (0,5%). No lado oposto perfilam-se a Holanda e a Dinamarca, que dedicam 2,3 e 2,2% do PIB à protecção dos idosos, respectivamente

Calculando o valor em euros que cada pessoa gasta com os idosos do seu país, as diferenças são ainda mais impressionantes: em 2013, por exemplo, cada norueguês contribuía com cerca de 8400 dólares (7533 euros) para cuidados continuados com qualidade para as pessoas com 65 ou mais anos, enquanto cada português gastava apenas 136 dólares (117 euros).

“Encontramos em todas as regiões países onde entre 75 e 100% da população está excluída do acesso devido a falta de recursos financeiros”, lê-se no estudo, que coloca Portugal a par do Gana, do Chile, da Austrália ou da Eslováquia.

Havendo muitas carências de cobertura de cuidados de longa duração na maioria dos sistemas de segurança social, apenas 5,6% da população mundial vive em países que oferecem uma cobertura universal a este nível, especifica Xenia Scheil-Adlung.

As legislações dos vários países ou não protegem de todo os idosos ou estabelecem regras tão estritas que limitam a cobertura apenas aos mais pobres, o que faz com que muitos tenham que pagar do seu bolso estes serviços, acrescenta.

Há, assim, "discriminação" não só em função da idade, mas também do género (por serem basicamente mulheres os familiares que cuidam dos idosos sem serem pagos por isso), afirma, observando que um investimento neste tipo de cuidados poderia criar "muitos empregos".