21.9.15

Há menos 87 mil desempregados à procura de trabalho

Ilídia Pinto, in Dinheiro Vivo

Se é engenheiro mecânico e está desempregado saiba que há uma empresa de Sever do Vouga à procura de alguém para chefe de assistência técnica e manutenção do ramo automóvel e industrial. O con- trato é sem termo e o salário é de três mil euros brutos por mês. Mais alimentação, alojamento e viagens. Não, não são as deslocações para que se mude para Sever do Vouga. Quem aceitar o emprego terá de se mudar para Angola e a empresa compromete-se a pagar três viagens por ano a Portugal.

Este é apenas um dos exemplos das mais de 20 mil ofertas disponíveis no site do Instituto do Emprego e Formação Profissional. Só em agosto, destaca o IEFP, o número de novas propostas de emprego cresceu 30% face a igual período do ano passado, o que ajuda a explicar a descida do desemprego. Os dados mostram que, em agosto, estavam inscritos nos centros de emprego 536 581 desempregados, são menos 87 649 pessoas do que há um ano. Uma quebra de 14%.

Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP, garante que os números oficiais são marcados pelo fenómeno crescente da emigração, pela precarização do mercado de trabalho e pela sazonalidade. Os dados do IEFP mostram que o desemprego baixou em todas as regiões mas não de forma homogénea, tendo sido em Lisboa e no Algarve que se verificou a maior descida, com menos 17,2% e menos 20,6%, respetivamente. Regiões com grande peso do turismo, o que leva Arménio Carlos a vaticinar que o aumento significativo da procura turística do país terá levado à criação de "empregos precários que não são mais do que a antecâmara do desemprego".

Em valor absoluto, é o Norte que ostenta a maior descida do número de desempregados (são agora menos 33 587 do que um ano antes). Esta região continua, no entanto, a ser aquela onde há mais desempregados (são 235 743), seguindo-se Lisboa com 155 977. Os números observados em agosto aproximam-se dos de 2011, o ano em que Portugal começou a aplicar o programa de ajustamento na sequência do pedido de resgate. Em maio, quando a troika chegou a Lisboa, contavam-se 530 616 desempregados inscritos, tendo este número aumentado para 533 372 no verão.

O secretário-geral da CGTP lembra que tal se deve à "limpeza dos ficheiros do IEFP, com a retirada das estatísticas dos muitos milhares de portugueses que deixaram de usufruir do subsídio social de desemprego e que, não deixando de estar desempregados, deixaram só de fazer parte das estatísticas".

Arménio Carlos até admite que as ofertas de emprego possam estar a aumentar, o que não aumenta, garante, são os salários. "Os dados oficiais comunicados pelas empresas à Segurança Social entre outubro de 2013 e junho de 2015 mostram que 84% das contratações foram a prazo e com uma média salarial de 540 euros. Isto é uma linha de retrocesso profundamente preocupante, porque tem efeito ao nível da proteção social, mas também, mais tarde, nas reformas."

Em relação a novas inscrições, os dados do IEFP revelam que, em agosto, os centros de emprego registaram a entrada de 52 955 novos desempregados, o segundo valor mais baixo desde janeiro. com LUCÍLIA TIAGO