10.9.15

Serviços de Uber gratuitos e aplicações: como os europeus ajudam os refugiados

Olivia Becker, in Vice

Enquanto os líderes europeus permanecem estancados na sua abordagem à pior crise de refugiados desde a II Guerra Mundial, os cidadãos europeus assumem algumas das necessidades provocadas por esta situação dramática.

Nas últimas semanas houve um incremento de iniciativas promovidas pela cidadania para resgatar, instalar, e oferecer ajudas alternativas aos milhares de pessoas que chegam às fronteiras europeias todos os dias. Um dos exemplos mais significativos foi o anúncio do Papa, no domingo passado, no sentido de albergar duas famílias de refugiados no Vaticano, acompanhado de um apelo a que cada paróquia e convento católico façam o mesmo.

"A palavra de Deus veio até nós e pediu-nos para sermos os vizinhos dos mais vulneráveis e abandonados, para dar-lhes esperança", disse o Papa Francisco durante a sua oração dominical na Praça de São Pedro. Não basta dizer "aos milhares de pessoas que fogem da guerra e da fome que sejam fortes e pacientes", acrescentou.

Na Alemanha (que se transformou no destino mais solicitado) um casal de Berlim criou uma organização chamada "Refugees Welcome", que é um tipo de Airbnb para refugiados. A organização coloca os refugiados em contacto com pessoas que oferecem as suas casas para acolhê-los. Os fundadores dizem que não têm mãos a medir com as ofertas vindas do Reino Unido, Áustria e Alemanha.

Cerca de 20.000 pessoas chegaram à Alemanha na semana passada, segundo o ABC News. O país espera receber um total de 800.000 refugiados em 2015.

Um grupo semelhante, chamado Citizen UK, promove uma iniciativa para que cada uma das autoridades britânicas locais se comprometa a alojar 50 pessoas, ou 10.000 no total, nos próximos dois anos. Algumas celebridades britânicas ofereceram-se a fazê-lo nas suas próprias casas.

Mais de 380.000 pessoas chegaram ao litoral europeu em 2015, das quais pelo menos 3.000 morreram ou desapareceram, segundo a agência para os refugiados da ONU. Um terço destas pessoas chegou no passado mês de Agosto.

Na terça-feira, o multi-milionário norueguês Petter Stordalen disse que acolherá refugiados por 5.000 noites nos seus hotéis, de forma gratuita. O departamento de imigração disse que está a considerar subir a oferta de Stordalen se os seus centros de acolhimento alcançarem a lotação máxima, informaram fontes norueguesas.

Outros utilizam métodos mais directos para ajudar os refugiados. Uma caravana de voluntários austríacos formada por 140 veículos arrancou rumo à Hungria durante o fim de semana, para recolher refugiados e levar-lhes comida, medicamentos e tendas. Migration Aid, uma organização húngara com uma ampla base social está a enviar voluntários para a fronteira, para que ajudem os refugiados no processo de realojamento.

"Durante a semana passada, assistimos a um crescimento sem precedentes, na ajuda recibida", disse Tim Jenner, porta-voz do International Rescue Committee, que esteve presente na coordenação dos voluntarios na ilha de Lesbos. "A contribuição dos cidadãos foi massiva", acrescentou Jenner.

Muitas pessoas se ofereceram para estender uma mão aos refugiados no complicado processo de distribuição depois da sua chegada à Europa. Uma universidade alemã anunciou que oferecerá aulas gratuitas aos refugiados durante o outono. Engenheiros de software em Dresden desenvolveram uma aplicação chamada Welcome to Dresden, para proporcionar informação práctica sobre como registar-se nos serviços sociais e mover-se pela cidade. Até a Uber se uniu ao esforço, organizando os conductores para que estes levem os refugiados aos seus pontos de destino, mediante contribuições e donativos.

Muitos daqueles que se implicaram nestas iniciativas dizem que actuaram porque viam como os seus governos não tinham vontade, ou eram incapazes de fazer o necessário para abordar esta crise humanitária.

"Os refugiados precisam de comida, dinheiro e lugares onde passar a noite" assegurou à BBC, Diana Henniges, uma trabalhadora social de Berlim que faz voluntariado para ajudar a instalar os refugiados na Alemanha. "As pessoas estão a tentar ajudar naqueles pontos onde a administração não consegue chegar". O esforço do voluntariado é muito significativo e determinante, diz Jenne, "se não tivesse sido assim não teríamos construído projectos sustentáveis para ajudar as pessoas que estão a sofrer este drama".

Organizações humanitárias, incluindo a Human Rights Watch e ACNUR, instam os países a fazer um maior esforço no acolhimento de refugiados, especialmente aqueles procedentes da Guerra Síria. A Amnistia Internacional qualificou de lamentável a resposta mundial à crise. Um número cada vez maior de países europeus respondeu à pressão internacional ao largo da semana. Na quarta-feira, o presidente da Comissão Europeia, Jaen-Claude Juncker, anunciou um sistema de quotas para que os países da UE acolham cerca de 120.000 refugiados, a juntar aos iniciais 40.000. A Venezuela anunciou este domingo que o governo está disposto a acolher 20.000 refugiados, uma iniciativa que surgiu depois da proposta da Austrália de acolher 12.000. O plano da UE de aumentar a quota de refugiados, tal e como Juncker indicou, situará o número de refugiados num 0,11% do total da população europeia. No Líbano a percentagem chega aos 25%.

As ideas inovadoras e criativas que surgiram na cidadania são importantíssimas para cobrir as necessidades que não foram atendidas,disse Melissa Fleming, porta-voz da ACNUR, mas não podem resolver os aspectos mais essenciais da crise dos refugiados. "Apenas os governos podem prevenir e pôr fim a uma guerra", disse Fleming. "E são os governos que têm a responsabilidade de proteger os refugiados que chegam às suas fronteiras".