12.7.17

Líderes europeus defendem investimento em África para solucionar crise com refugiados

in Diário de Notícias

Os líderes das principais instituições europeias defenderam hoje que a Europa já fez muito em matéria de migrações e acolhimento de refugiados, mas concordaram que muito mais falta fazer, direcionando o foco de atuação para África.

O primeiro recado surgiu pela voz do presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, que, na abertura da conferência de alto nível sobre gestão de migrações que decorre hoje em Bruxelas, defendeu a necessidade de uma "verdadeira estratégia relativamente a África", apontando que isso deve ser uma prioridade nos próximos anos.

Defendeu, por isso, que o próximo orçamento da União Europeia seja reforçado no investimento junto dos países africanos, nomeadamente a Líbia, justificando que só dessa forma é possível fazer aumentar o crescimento e combater a pobreza para que a próxima geração não perca a esperança de viver no seu país de origem.

Ressalvou, no entanto, que não se trata de uma nova colonização de África, mas sim de uma relação entre iguais, sendo necessário "olhar por uma lente africana e não europeia".

"Acredito que (o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude) Juncker será um grande paladino para lidar com estes problemas, para olhar para África, Médio Oriente e zona do mediterrâneo, para mostrar que a Europa quer ser amiga e interlocutora política em que se pode confiar para criar soluções para os filhos de África", desafiou.

Em resposta, o presidente da Comissão Europeia garantiu que a instituição está a levar "muito a sério" a questão da migração, aproveitando para elogiar o papel que tanto a Grécia como a Itália têm tido.

Salientou que foram criadas estruturas para melhorar os processos de registo, mas não deixou de criticar o facto de haver sistemas de asilo mais generosos do que outros e de defender que é preciso lutar para que as pessoas migrantes e os refugiados tenham um futuro melhor no seu próprio país.

Aproveitou para apontar a necessidade de criar melhores relações com África, nomeadamente na luta contra os traficantes de seres humanos, adiantando que para este ano estão destinados 200 milhões de euros para ações de repatriamento para países naquele continente.

"É preciso passar a ações concretas para que África se desenvolva. Em dois anos fizemos muito pra resolver questões migratórias e não é agora o momento de permitir mais fragmentação, mas ainda há muito a fazer", sublinhou o presidente da Comissão Europeia.

Opinião partilhada pela vice-presidente da Comissão Europeia e alta representante da União Europeia para a Política Externa e Segurança, Federica Mogherini, que aproveitou para elogiar o trabalho feito nos últimos dois anos.

"Eu sempre me envergonhei com os mortos que a União Europeia fez de conta que não viu e estou muito orgulhosa com todas as vidas que conseguimos salvar", disse a responsável, ressalvando, no entanto, que todas as vidas salvas são também uma derrota.

Defendeu que é preciso eliminar as causas na base da migração, o que, na sua opinião, significa "um investimento massivo em África" feito pela Europa, já que é o seu vizinho mais próximo, um investimento que se dividiria entre desenvolvimento social, democrático, ambiental e também tecnológico.

Disse estar muito orgulhosa do trabalho que está a ser feito para aceder aos campos de detenção na Líbia, revelando, por outro lado, que, no ano passado, mais de 4.500 pessoas regressaram voluntariamente àquele país e defendendo que esse seja um trabalho apoiado, tal como no Níger.

Presente na sessão de abertura, o primeiro-ministro líbio, Fayez al-Sarraj, lembrou que a Líbia é um país de trânsito para imigrações irregulares, com uma situação económico-social ainda muito vulnerável graças ao aumento constante do número de migrantes, o que "tem impacto no tecido social do país".

Disse estar muito satisfeito com o apoio económico que a União Europeia tem dado à Líbia e pediu que esse apoio continue, ressalvando que só dessa forma o país conseguirá desenvolver-se, criando postos de trabalho e as condições necessárias para que os cidadãos nacionais não queiram emigrar.