8.3.23

“Estou a envelhecer e agora….?”

Aida  Cristina Pereira Nunes, in Mais Beiras Informação

A influência da tecnologia num envelhecimento ativo

Longe vão os tempos, em que o bem-estar se encontrava intimamente relacionado com o nível
económico. Hoje, os aspetos sociais, ligados ao bem-estar físico e psíquico, tomam proporções
fundamentais e de especial relevância, para o equilíbrio da vida dos nossos idosos.

O envelhecimento deixou de ser apenas associado a um bem-estar de saúde e passou a ser
percebido como um conceito mais amplo, mais abrangente, devido em parte, às necessidades
sentidas pelos indivíduos inseridos num mundo globalizado. Esta nova perspetiva de olhar,
mais holística, onde as pessoas idosas surgem como um todo integradas numa sociedade, por
vezes pouco justa, coloca a tónica num bem-estar geral outrora inimaginável.

Se, por um lado qualidade significa um estado de excelência em que um indivíduo se encontra,
o termo vida vai muito mais além, indica um estado completo de atividade funcional incluindo
o seu comportamento, o acompanhamento e desenvolvimento, ou seja, o seu estilo de vida
em geral. Portanto nesta população, aquilo que se pretende é a junção dos dois conceitos
“qualidade e vida”, na essência da sua designação individual.

A OMS define o conceito de envelhecimento ativo como “um processo de otimização de
oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das
pessoas que envelhecem (…)”. Vivemos numa sociedade envelhecida, em que o número de
idosos supera, em larga escala, o número de jovens, tornando necessário a adoção de medidas
capazes de fazer face a esta situação. Torna-se premente tentarmos definir políticas e
estratégias globais, mas também à escala local, no sentido de se alcançar o primordial objetivo
de um envelhecimento ativo. Tal como refere a OMS, é importante que a população
envelhecida se mantenha ativa, participante e integrada na sociedade.

E é neste sentido, que o Município de Murça, enquanto entidade Coordenadora, em parceria
com os Municípios de São João da Pesqueira e Tabuaço, e os Centros Sociais e Paroquiais de
Trevões e Castanheira do Sul, desenvolveram o Projeto “Idoso Ativo – Abordagens Integradas
para a Inclusão Ativa no Douro”, um projeto pioneiro, no âmbito da intervenção com a
população Idosa, no sentido de potenciar intervenções com caracter inovador, de
experimentação social e de animação territorial, tentando envolver redes sociais sub-
regionais. Esta iniciativa visa uma intervenção integrada para a inclusão ativa, por via de
abordagens locais inovadoras de desenvolvimento social, relacionando estratégias locais em
articulação com as políticas públicas de inclusão social, combate à pobreza e aumento da
empregabilidade.

A razão de ser deste desafio é a existência de vários idosos que vivem sozinhos, alguns em
contextos socioeconómicos difíceis, mas sobretudo porque vivem cada vez mais isolados e
inseguros, devido, em grande parte, às dificuldades físicas que lhes vão criando
condicionalismos diários propícios a um quadro de risco eminente. Ou seja, no fundo o
principal contributo deste projeto, em termos de desafio societal, prende-se com a saúde,
alterações demográficas e bem-estar da população idosa, tentando contribuir para que
tenham um envelhecimento ativo, autónomo e saudável.

Posto isto, neste momento, estão a ser apoiados 20 idosos, por município, que vivem sozinhos
e que manifestaram interesse em participar nesta experiência piloto, sendo que para o efeito foram instalados, em cada uma das habitações, um Sistema Dótima, permitindo que cada
idoso, de forma simples e autónoma, possa controlar e gerir automaticamente a iluminação de
casa, a entrada de pessoas, a emissão de alertas de movimentos e de temperatura excessiva,
entre outras funções específicas a cada situação.

Na realidade o objetivo central deste projeto é assegurar um sistema que lhes permite ter
maior segurança, diminuindo situações de potencial risco ou emitindo alertas quando estas
sucedam, promovendo simultaneamente a autonomia pessoal de cada um, oferecendo uma
resposta individualizada, ajudando assim a combater o isolamento social. Através desta
tecnologia, conseguimos uma abordagem integral e com uma perspetiva holística de cada um,
enquanto indivíduos únicos, reforçando a sua segurança e integridade física, favorecendo e
incentivando a sua capacidade de intervenção, promovendo a aquisição de responsabilidades
e a participação no seu processo de decisão, no que respeita à seleção das opções de
configuração da intervenção.

Outro ponto fundamental tão ou mais importante, na minha opinião, é a constituição das
famílias como parte interessada no processo, uma vez que estas são chamadas à participação,
de forma voluntária, no sentido de acompanhar, intervir e colaborar com uma rede de apoio,
entre parceiros, complementando de forma coordenada toda a intervenção. Foram criadas
condições efetivas para que a própria família possa perceber o dia-a-dia dos seus idosos,
mesmo estando afastados, permitindo-lhes inclusivamente incentivar uma vida mais ativa.

Este projeto, surge como uma solução tecnológica para uma problemática comum a
praticamente todo o nosso território, do interior de Portugal, prosseguido com o
acompanhamento de uma equipa técnica especializada, que trabalha todo o plano de
desenvolvimento individual no que respeita a competências pessoais, sociais e afetivas,
orientando e promovendo atividades que proporcionam a cada idoso, uma vida mais ativa e
socialmente mais rica.

Estes objetivos são prosseguidos e concretizados através de visitas domiciliárias, intervenção
efetuada pelos técnicos municipais, que prestam todo o apoio individualizado na resposta às
necessidades de cada um, nomeadamente no que respeita à alimentação, saúde e
desenvolvimento de atividades concretas, resultantes da concertação de um compromisso
formal entre as partes (Idoso, família e parcerias).

A titulo conclusivo e após ter tentado explicar um projeto socialmente gigante, de uma forma
simplista, acho de facto pertinente referir que, tal como salientou o Prof. Niehans “ não
podemos acrescentar anos à vida, mas podemos acrescentar vida aos anos (…) ”. E é com este
pensamento que eu, enquanto Técnica Superior de Serviço Social do Município de Murça,
tento desenvolver diariamente o meu desempenho tendo por base, não aquilo que
efetivamente temos, mas aquilo que poderemos ter se lutarmos por novas formas, novos
métodos, novas intervenções, mesmo que simples, mas que possam fazer a diferença na vida
de cada idoso.

Não me importa se são 20, 30 ou 40, aqueles que conseguem aceder a estas
intervenções, mesmo que fosse apenas 1 eu estaria feliz porque fiz a diferença…

Aida Cristina Pires Nunes
Licenciada em Serviço Social, pela Universidade de Trás os Monte e Alto Douro
Pós-Graduada em Direção e Sustentabilidade das Organizações Sociais, pela Universidade
Lusíada Vila Nova de Famalicão
Pós-Graduada em Gestão das Organizações Sociais, pela Universidade Lusíada de Vila Nova de
Famalicão
Atualmente a exercer funções de TSSS no Município de Murça