30.3.23

Estudantes alertam para custos com alojamento. “É urgente que o Governo valorize o estudante do ensino superior”

Daniela Carmo, Público online

Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico montou tendas no exterior do estabelecimento em representação dos alunos sem lugar numa residência universitária.

A Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa alertou esta sexta-feira para o facto de os preços da habitação para os estudantes do ensino superior estarem a tornar-se cada vez mais insuportáveis. No dia em que se assinala o Dia Nacional do Estudante, o espaço exterior daquele instituto foi ocupado com duas dezenas de tendas vazias, em alusão aos muitos alunos que não conseguiram alojamento nas residências universitárias da Área Metropolitana de Lisboa (AML).

O alojamento é “uma das despesas mais representativas”, actualmente, para os estudantes e, com os preços “desregulados” das casas e quartos, “muitos acabam por se ver obrigados a abandonar o ensino superior”, sublinha o presidente da associação de estudantes do Técnico, Bernardo Santos, ao PÚBLICO.

De acordo com este estudante, cada tenda “representa cerca de 1430 estudantes que não ficaram alojados nas residências universitárias da AML”. Além disso, “os estudantes que não são alojados em residências têm de se sujeitar a um mercado desregulado em que a média [de renda] de um quarto é de 400 euros por mês”, desenvolve ainda. A acção da associação de estudantes, que não foi demovida pela chuva desta manhã, vai decorrer até ao final da tarde (cerca das 17h).

Bernardo Santos acrescentou ainda que o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior, apesar de representar uma “conquista”, “tem sido sucessivamente adiado” e é “insuficiente”.

“É urgente que o Governo valorize o estudante do ensino superior, a juventude. No fundo, que valorize o futuro da ciência e tecnologia do país”, frisou. A desvalorização, disse, reflecte-se na apresentação do programa Mais Habitação: “Não é mencionada uma linha sequer em relação ao estudante do ensino superior, ao estudante deslocado...”

A associação de estudantes recebeu relatos de alunos a quem foi pedida uma renda de 750 euros por um quarto ou até por um T0 sem mobília. “Há extremos e a situação só tende a agravar-se...”

Quanto a outro dos temas quentes quando de ensino superior se fala, as propinas, Bernardo Santos reiterou que a associação que representa “subscreve a propina zero”, defendendo, por isso, a sua extinção.

Antigos ministros, deputados do PS, do BE e do PCP, dirigentes estudantis e figuras da academia assinaram um manifesto contra o sistema de propinas por escalões defendido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e a favor do seu fim gradual. Entre os subscritores, encontra-se o ex-ministro do Ensino Superior Manuel Heitor (independente). Foi nessa qualidade que, em 2019, disse que ainda estávamos “longe” desse cenário.