12.4.07

Desemprego nacional ultrapassa zona euro

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Crescimento baixo está a levar a uma criação lenta de trabalho. Em 2007, o desemprego fica acima da média dos países da moeda única, a primeira vez que tal acontece em 25 anos


A economia portuguesa vai continuar, durante este ano e o próximo, a crescer abaixo dos seus parceiros europeus, o que levará a taxa de desemprego a situar-se, pela primeira vez nos últimos 25 anos, acima da zona euro, já em 2007.

As previsões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), ontem tornadas públicas, apontam para a manutenção de um desempenho forte por parte da economia europeia, mas Portugal, apesar da ligeira retoma da actividade, vai continuar a ser uma excepção. O FMI antecipa para este ano uma variação do PIB nacional de 1,8 por cento, o mesmo valor que é previsto pelo Governo, mas, para 2008, a aceleração projectada continua a ser muito moderada, com a taxa de crescimento a passar apenas para 2,1 por cento, um valor mais baixo que os 2,4 por cento esperados pelo executivo.

Com estes valores, o FMI continua a colocar Portugal entre os países da União Europeia (UE) com um ritmo de crescimento mais baixo. Em 2006, a economia nacional foi a que cresceu menos entre os 25 países da UE e em 2007 o melhor que consegue fazer é igualar a Alemanha e a Itália no último lugar. Para 2008, com o crescimento de 2,1 por cento, Portugal ultrapassa estes dois países, mas fica aquém do objectivo da convergência, já que a média da zona euro deverá ser de 2,3 por cento.
Com estes valores ainda fracos de crescimento, é natural que o FMI não esteja muito optimista em relação à redução da taxa de desemprego em Portugal. Dos 7,7 por cento registados em 2006, deverá passar-se apenas para os 7,4 por cento este ano. Esta descida de três décimas de ponto percentual é menor do que a que se regista no resto da zona euro e permite que, pela primeira vez desde 1981, Portugal possa vir a registar uma taxa de desemprego que é mais alta do que a média dos países que utilizam a moeda única. Em 2008, Portugal ainda se afasta mais, uma vez que a descida do desemprego para 7,3 por cento é inferior à dos restantes parceiros. A Espanha, que durante as últimas décadas tem sempre apresentado níveis de desemprego muito superiores aos portugueses (em 1999, a taxa era de 15,6 por cento contra 4,4 por cento em Portugal), já está com valores muito próximos. Em 2008, o desemprego espanhol será, de acordo com o FMI, apenas 0,4 pontos percentuais superior ao nacional. No cenário macroeconómico das Grandes Opções do Plano (GOP), entregues pelo Governo aos parceiros sociais, a previsão do executivo para a taxa de desemprego é, de acordo com a agência Lusa, de 7,5 por cento em 2007 e de 7,2 por cento em 2008.

Défice igual ao Governo

Nas previsões para o défice público, o FMI aceita que os mais recentes objectivos apresentados pelo Governo se irão concretizar. Isto quer dizer que, depois do saldo orçamental negativo de 3,9 por cento do PIB em 2006, o FMI coloca Portugal com um valor de 3,3 por cento este ano e de 2,6 por cento no próximo.

Isto significa contudo que as reduções do défice estrutural (uma das medidas mais usadas para avaliar o esforço de contenção, uma vez que retiram o efeito da ajuda da aceleração da economia) serão, nos próximos dois anos, muito inferiores às de 2006. Depois de uma correcção de mais de dois pontos percentuais no ano passado, as variações deste indicador serão em 2007 e 2008 de apenas 0,5 pontos. Isto significa que, depois do resultado acima das expectativas de 2006, poderá agora verificar-se uma diminuição do esforço de consolidação.

Mais inflação

Outro dos indicadores em que o FMI apresentou, ontem, novas previsões para Portugal é o da inflação. Nas GOP, o Governo diz que a variação dos preços pode passar de 3,1 por cento em 2006 para 2,2 por cento em 2007. As negociações dos aumentos salariais na função pública foram feitos com base numa previsão de 2,1 por cento para este ano que estava inscrita no Orçamento do Estado e que foi muito criticada pelos sindicatos.

O FMI, no entanto, não acredita num abrandamento tão forte dos preços. No relatório publicado ontem, a inflação estimada para Portugal é de 2,5 por cento em 2007, seguindo--se uma ligeira redução para 2,4 por cento no ano seguinte.