15.4.07

Cavaco destaca "papel decisivo da família" no sucesso dos esforços para a inclusão

Bárbara Simões, in Jornal Público

Baixo nível de instrução e qualificação dos mais desfavorecidos leva Presidente da República a querer "aumentar as expectativas e as metas de escolarização das novas gerações"


Empresários, escolas, instituições, voluntários - é longo o rol daqueles que podem ter um papel a "contrariar o destino" dos menos favorecidos. Mas as suas acções e os resultados que obtiverem "não dispensam o papel decisivo da família". Sem ela, "sem a sua função de socialização e de entreajuda, dificilmente os esforços de inclusão poderão ter sucesso".

Um ano depois de ter proposto aos portugueses um compromisso cívico para a inclusão social, na hora de fazer o balanço o Presidente da República optou por deixar um outro apelo: "É tempo de abandonarmos a atitude desculpabilizante a que nos habituámos e de questionarmos cada vez mais a responsabilidade dos pais para com as crianças e jovens e as responsabilidades dos filhos para com os seus ascendentes idosos."

O Centro Nacional de Exposições, em Santarém, acolheu ontem durante todo o dia uma conferência patrocinada por Cavaco Silva. Objectivo: fazer o balanço do Roteiro para a Inclusão, iniciativa em quatro etapas que levou o Presidente a tomar contacto directo - e a contribuir para a divulgação - de experiências e pessoas que em 20 concelhos do país ajudam a tornar menos difícil a vida dos pobres, dos idosos isolados, das vítimas de violência doméstica, das crianças maltratadas, dos imigrantes excluídos.

O "baixo nível de instrução e de qualificação de uma parte significativa das pessoas que protagonizam estes casos" de exclusão impressionou o Presidente. Que por isso pede a todos "um esforço no sentido de aumentar as expectativas e as metas de escolarização das novas gerações". A escola, lembrou Cavaco, "tem sido e vai continuar a ser o mais importante instrumento de inclusão social, a oportunidade decisiva de que os jovens dispõem para contrariar o determinismo social e romper com o défice de qualificação das gerações anteriores".

No mesmo discurso o Presidente aproveitou para lembrar algumas das experiências que mais o sensibilizaram neste roteiro: deficientes a trabalhar em empresas; um centro social e uma filarmónica no Alentejo, o combate ao desperdício protagonizado pelo Banco Alimentar contra a Fome; a iniciativa de um grupo de empresários que se juntaram para ajudar escolas e famílias a superar o défice de qualificação.
Durão Barroso precedera Cavaco Silva no encerramento do encontro. Antes de apontar algumas das prioridades para a acção social, a nível europeu, o presidente da Comissão Europeia defendeu que "sem solidariedade social não pode haver União Europeia - uma união necessita de mecanismos que só por si o mercado não fornece".
Ao longo do dia desfilaram pelo anfiteatro diversas experiências, testemunhos, preocupações. Entre outras coisas, ficou a saber-se que a bolsa de voluntariado da Entrajuda recebeu, em quatro meses, mais de 2800 inscrições.

Cavaco Silva, que se ausentou do centro de exposições durante a maior parte dos trabalhos, já tinha dito à hora de almoço aos jornalistas: "É preciso mostrar que, se já se fez alguma coisa, há ainda um caminho a percorrer."

José Alberto, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mértola, está certamente de acordo. Esta zona do Alentejo foi visitada pelo Presidente da República no final de Maio, logo no primeiro dia do Roteiro para a Inclusão, enquanto palco de projectos de luta contra o isolamento, sobretudo de idosos.

Na sexta-feira passada, o provedor não hesitou, quando contactado pelo PÚBLICO, em dizer que "falar nestas questões contribui às vezes para arranjar pistas para resolver problemas". Mas logo a seguir desabafou: "Para quem está no terreno por vezes isso é muito insuficiente. Fala-se, fala-se, fala-se... Em termos práticos há [depois] muito pouca coisa realizada."