in Jornal de Notícias
JN | O lóbi é, muitas vezes, tido como sinónimo de algo ilícito. Como definiria, afinal, esta prática?
O lóbi é o conjunto de actividades que visa pressionar os poderes públicos, governos e parlamentos, na defesa dos interesses de uma região, país, sector de actividade, empresa ou instituição, no plano legislativo.
Há muito que defende a regulamentação da actividade em Portugal. O lóbi continua a ser tratado do mesmo modo?
Continua. Há cinco anos que tento sensibilizar os nossos políticos, governantes e deputados para a necessidade de regulamentar a actividade. Já na Grécia antiga se fazia lóbi e há-de continuar a fazer-se. Pelo menos, que se definam os parâmetros, que se controle a actividade, em prol de maior transparência a nível interno e de maior competitividade a nível externo.
É um lóbi à moda antiga?
Continua a ser feito à antiga portuguesa. Por isso, aproveitando o facto de assumirmos a presidência portuguesa da União Europeia, achei por bem sensibilizar os governantes para as vantagens de colocar na agenda a transparência.
Apresenta-se como consultor ou como lobista?
Em Portugal, evito dizer que sou lobista. Nos gabinetes dos ministros e secretários de Estado, o nome assusta. Aliás, tem-se discutido se não será melhor mudar o nome, já que está tão imbuído de negativismo.
Há apenas a ideia de que o lóbi é compadrio ou, efectivamente, é só feito dessa forma?
Não, felizmente. Mas também é feito dessa forma. Quando não há regulamentação, cada um faz à sua maneira. Regulamentar não acaba com a corrupção, mas torna-a mais difícil. Não temos que ter medo de falar em pressionar, na democracia é legitimo pressionar poderes instituídos, desde que com ética e transparência. E o lóbi é facilitador da democracia. Se todos têm a mesma hipótese de chegar junto dos poderes de decisão, há maior equilíbrio.
É possível, com o lóbi, inverter o declínio de uma região como o Norte, marcada por pequenas e médias empresas (PME)?
Sem dúvida. Os governos nunca dão muita atenção às PME porque não é espectacular. É difícil ter visibilidade política. Em Portugal, estão um pouco adormecidas. Uma das armas da gestão é exactamente o lóbi. E as PME têm tendência a querer imitar os grandes grupos e vão fazer o lóbi caseiro. Também não vejo as associações muito profissionalizadas na área.
Uma região pode fazer lóbi conjunto, unindo sectores?
Pontualmente, pode fazer-se uma gestão da coalizão. É quando interesses convergentes se aliam e têm mais poder. Mas, para uma região avançar para o lóbi, todos têm de estar de acordo.