5.5.07

ONU considera possível e barato combater o aquecimento

Ricardo Garcia, in Jornal Público

Controlar emissões de dióxido de carbono custaria 0,12 por cento do crescimento económico anual


Combater as alterações climáticas é urgente, possível e relativamente barato. É esta a principal conclusão de mais um relatório da ONU sobre o problema do aquecimento global, divulgado ontem em Banguecoque.

É o último volume de uma trilogia de relatórios concluída este ano pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), criado em 1988 e que a cada cinco ou seis anos passa a pente fino tudo o que se sabe sobre o tema.

O novo relatório conclui que as emissões de gases que estão a aquecer o planeta - como o dióxido de carbono - subiram 70 por cento entre 1970 e 2004. E poderão aumentar mais 25 a 90 por cento até 2030, se nada for feito. Não faltam opções para inverter este quadro. O relatório diz que "existe um significativo potencial para mitigar as emissões de gases com efeito de estufa nas próximas décadas, compensando o crescimento projectado das emissões globais ou reduzindo-as abaixo dos níveis actuais".

A acção tem de ser imediata, diz o IPCC. Para limitar a 2,0 graus Celsius o aumento da temperatura global até 2100 - valor usualmente defendido como tolerável -, as emissões só podem continuar a subir até 2015. Depois, têm de começar a descer. Em 2050, terão de ser 50 a 85 por cento menores do que em 2000.

São números gordos, mas, na avaliação do IPCC, a factura não é muito elevada. Seria preciso abdicar de 0,12 por cento do crescimento anual da economia global. O PIB mundial cresceria três por cento a menos até 2030 e 5,5 por cento a menos até 2050.
"É um prémio baixo a pagar para reduzir o risco de grandes prejuízos pelo clima", disse Bill Hare, assessor da organização ambientalista Greenpeace, citado pela Reuters.

"Podemos limitar e reduzir as nossas emissões de dióxido de carbono sem destruir a economia mundial", comentou Yvo de Boer, secretário-geral da Convenção Quadro para as Alterações Climáticas, da ONU.

O relatório do IPCC faz um balanço das opções para a redução de emissões. Mas um caminho claro está dependente de negociações que definam qual o esforço que deve ser feito e por quem. Os Estados Unidos, o maior poluidor do planeta, recusam-se a aceitar limites para as suas emissões e estão a apostar forte no desenvolvimento de tecnologias limpas.

"É ingénuo acreditar que o mero desenvolvimento de tecnologias em laboratórios será a solução. A não ser que haja um pacote de políticas, que haja forças de mercado, neste caso representadas pelo preço do carbono", disse porém o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, numa conferência de imprensa em Banguecoque.

Do rol de alternativas apontadas pelo IPCC consta a energia nuclear. "Mas a segurança, a proliferação de armas e os resíduos permanecem como obstáculos", diz o relatório.

A indústria nuclear mostrou-se satisfeita. "O que mais há para a maior parte da produção eléctrica que seja livre de carbono?", disse à Reuters o presidente da Associação Nuclear Mundial, Ian Hore-Lacy.