26.12.07

Autarquia e empresa oferecem uma bilha de gás como prenda de Natal às famílias mais pobres de Beja

Carlos Dias, in Jornal Público

Revendor da Galp Gás e serviços sociais do município fizeram a entrega de três dezenas de bilhas


A entrega das bilhas de gás a famílias carenciadas vai prosseguir até ao final do ano, a idosos que recebem apoio do Centro Social do Lidador de Beja e a famílias que vivem no bairro social da cidade. A Inogás estendeu o seu gesto aos concelhos de Castro Verde e Ourique e no total vai fazer a entrega de quase uma centena de bilhas de gás e de outros tantos seguros. Vítor Madeira, da firma distribuidora, salienta que a iniciativa "não é mais uma forma de publicidade à custa dos mais pobres", mas antes "um agradecimento aos que contratam os serviços da empresa através dos mais pobres".

a As famílias mais carenciadas de entre os pobres que vivem no problemático Bairro da Esperança, na periferia de Beja, foram surpreendidas na manhã de sexta-feira com a oferta de uma bilha de gás e de um seguro gratuito até 30 mil euros para cobrir acidentes resultantes da sua utilização.

Uma carrinha de caixa aberta da empresa Inogás entrou na Rua de Fonte Mouro e, no número 7, entregou a Paula da Conceição, mãe de seis filhos com idades entre os três e os 16 anos, uma bilha de gás. A mulher, de 45 anos de idade, que suporta sozinha a responsabilidade de tantos filhos, chorou num misto de comoção e alegria. "Estava à espera do rendimento mínimo [RIS-rendimento de inserção social], mas não veio para comprar qualquer coisita para os miúdos no Natal."

A oferta permite-lhe fazer a comida para os filhos, que se amontoam numa casa com apenas duas reduzidas divisões, com uma sala/cozinha e um quarto (a casa de banho é no descampado em frente). As cores predominantes variam entre o negro e o cinzento.
Vítor Madeira, da Inogás, esperava encontrar probreza, mas não contava assistir às condições em que muitos são obrigados a viver. A iniciativa, explicou, foi uma forma de pensar nas pessoas humildes que, na verdade, são a maioria dos seus clientes. Ajudar famílias carenciadas "é um acto de solidariedade" que deseja ver da parte de outros empresários.

Noutra rua do bairro, Paula Gonçalves, de 27 anos, foi seleccionada para receber uma prenda fora do comum pelas assistentes do Centro Social e Cultural do Bairro da Esperança. A sua casa parecia um infantário. "Tenho a cargo dois filhos meus, mais dois de um irmão e dois de outro que estão presos." Como consegue viver? "Olhe, a Caritas dá-me os alimentos para uma refeição e a reforma de 120 euros da minha mãe mais os abonos de família dos miúdos [entre os cinco e os 12 anos] dá para pagar a água, a luz e os alimentos que faltam", responde a mulher, que também espera o RIS, ao qual se candidatou em Setembro. "Mas até ao momento não recebi nada", acrescenta, como que conformada com a sua sorte.