17.12.07

Cidade de Aveiro tem mais de duas dezenas de casos de sem-abrigo assinalados

Maria José Santana, in Jornal Público

Apoio a quem não tem um tecto é assumido pelas instituições particulares de solidariedade social. Pela primeira vez, a cidade tem um programa de distribuição de refeições na rua


Passam despercebidos à grande maioria dos habitantes da cidade de Aveiro, mas estão lá: nas ruas ou a viver debaixo dos tectos frágeis e perigosos das casas devolutas. Os números contrariam a ideia generalizada de que o fenómeno dos sem-abrigo é algo ainda distante, um cenário exclusivo das grandes metrópoles. Só em termos de casos assinalados e que estão a ser devidamente acompanhados, as instituições que dão resposta a este problema avançam com um número superior às duas dezenas. Na certeza de que o retrato real deve ser mais grave.

A câmara municipal ainda aguarda pela revisão do diagnóstico social para ter dados concretos e mais recentes em relação a este e outros problemas sociais. Contudo, e tendo por base os últimos registos conhecidos, Capão Filipe, vereador do pelouro da Acção Social, garante que o fenómeno se encontra "estabilizado", mas faz fé nos números apurados pelas instituições com as quais a autarquia tem vindo a trabalhar, em rede.

Por que razão a comunidade não os vê? Essencialmente, porque não pernoitam em bancos de jardim, às portas dos prédios ou dos edifícios públicos. "A grande maioria deles está em casas abandonadas, mas também tem de ser considerada como de pessoas sem-abrigo", explica o padre João Gonçalves, das Florinhas do Vouga, instituição da Diocese de Aveiro que acaba de lançar um novo serviço de apoio a quem vive na rua. No seguimento do seu projecto da Cozinha Social, que serve refeições diárias a quem mais precisa, esta instituição particular de solidariedade social decidiu mobilizar-se num programa de rua, o primeiro do género a surgir em Aveiro, distribuindo ceias a quem mais precisa (ver texto ao lado).

Esta instituição diocesana acompanha, actualmente, um total de 15 pessoas sem abrigo, apesar do seu responsável ressalvar o facto de este fenómeno ser um pouco flutuante e variável. A este número acrescem também os dez casos que estão a ser acompanhados pela Cáritas de Aveiro, no seu alojamento temporário para os sem-abrigo, bem como os "casos que são desconhecidos", alerta o padre João Gonçalves.
Ainda não há muito tempo, os técnicos e responsáveis das Florinhas do Vouga assinalavam um total de 48 sem-abrigo, só na cidade. Dados respeitantes ao ano transacto, na altura em que Aveiro se via a braços com o problema gritante do edifício da antiga Empresa de Pesca de Aveiro (EPA). As dores de cabeça causadas pelo imóvel já não diziam apenas respeito aos impactes visuais negativos para quem entrava na cidade: o prédio era habitualmente ocupado por mais de uma dezena de sem-abrigo.

A Câmara Municipal de Aveiro avançou com a demolição do imóvel, garantindo que ia dar resposta social aos seus ocupantes, mas, para o Padre João Gonçalves, "o problema não ficou resolvido". "Alguns foram encaminhados, mas outros desapareceram", conta, com a certeza própria de quem contacta diariamente com este tipo de problema, seja na Cozinha Social seja na rua.