1.4.08

Famílias travam consumo para pagar a habitação

João Paulo Madeira, in Jornal de Notícias

Mais de metade das despesas das famílias estão relacionadas com alimentação, transportes e habitação


Mais de metade das despesas totais das famílias portuguesas são realizadas em habitação, alimentação e transportes. De acordo com o inquérito quinquenal aos orçamentos familiares do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), divulgado ontem, 55% dos gastos dos agregados concentram aqueles três grupos de bens e serviços, com o peso da casa a registar o aumento mais significativo. Em 2005/06, os custos associados à prestação da habitação e das contas de água, gás e electricidade constituíram 26,6% da despesa total, ao passo que em 2000 representavam 19,8%. As despesas com bens de consumo estão a encolher.

De acordo com o inquérito do INE, que contém dados de 2005 e 2006, registaram-se quebras no peso de todos os grupos afectos ao consumo de bens, ao passo que as despesas em serviços ganharam importância. O estudo destaca a manutenção da tendência de quebra na categoria de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, cujo peso se reduziu para metade, em duas décadas e meia (representavam 29,5% da despesa total, em 1989/90, e passaram para 18,7%, em 2000/01, e 15,5% em 2005/06).

As despesas com bebidas alcoólicas também diminuem (2,8% do total para 2,3%), tal como as relacionadas com vestuário/ calçado (6,6% para 4,1%) e com móveis e artigos de decoração (7,2% para 4,8%). Esta evolução contrasta com a subida generalizada dos gastos com serviços. À excepção dos transportes e das comunicações, que sofrem um recuo no peso relativo dos orçamentos das famílias (15% para 12,9%, no primeiro caso, e 3,3% para 3%, no segundo), todos as outras categorias de serviços sofrem aumentos.

É o caso da saúde, cujas despesas representaram em 2005/06 6,1% dos gastos, contra 5,2% em 2000, e do Ensino, que representa 1,7% das despesas, face a 1,3% cinco anos antes. As despesas com hotéis, restaurantes e cafés também aumentaram, de 9,5% para 10,8%.

De acordo com o INE, a despesa média anual dos agregados familiares foi de 17 607 euros. Uma vez que o rendimento anual médio se situa em 22 136 euros (1845 em termos mensais) significa que quase 80% do rendimento foi directamente para aquisição de bens e serviços. Lisboa e Algarve são as únicas regiões em que a despesa está acima da média nacional (18% acima da média, no primeiro caso, e 4%, no segundo).