8.4.10

Reacção - Pastoral dos Ciganos alerta que dinheiro europeu é mal aplicado na integração

in Público Última Hora

Apesar do dinheiro investido na Europa na integração da comunidade cigana, há “poucos avanços” porque os fundos são mal aplicados pelos governos, que não ouvem os ciganos, afirmou o director executivo da Pastoral dos Ciganos.

“O progresso das populações ciganas na Europa face ao investimento que tem sido feito é realmente muito pouco. Tem de se ter uma atenção muito particular à maneira como esses dinheiros são aplicados”, disse Francisco Monteiro. “As populações ciganas continuam na sua miséria, na sua pobreza, na sua marginalidade”, disse Francisco Monteiro, afirmando que “os dirigentes da União Europeia não aplicam correctamente os dinheiros, não ouvem as pessoas que devem ouvir: os ciganos, que já têm líderes suficientes a nível europeu para poderem ter uma palavra”.

“Os fundos europeus não chegam às bases e não são adaptados às bases culturais dos ciganos. Vão parar não se sabe onde e não têm em consideração os próprios projectos dos ciganos, que querem desenvolver projectos da base para cima e não são financiados”, lamentou. No Dia Internacional dos Ciganos que hoje se assinala, a União Europeia discute os problemas de integração da comunidade numa cimeira em Córdova, Espanha, enquanto em Lisboa se realiza um Fórum Ibérico na Fundação Calouste Gulbenkian

“Os problemas de exclusão não estão a ser resolvidos, a começar na habitação, a continuar na educação, depois a própria formação e o emprego, de que estão excluídos”, acrescentou Francisco Monteiro. No mês passado, o comissário dos Direitos Humanos do Conselho da Europa, Thomas Hammarberg, alertou o Governo português para as condições de alojamento “deploráveis” dos ciganos, reclamando medidas e realçando com “preocupação” a discriminação de que são alvos.

“O problema da habitação é o primeiro ponto de qualquer inclusão dos ciganos, como já foi cá em Portugal, apesar de neste momento estar infelizmente bastante parado esse ponto do realojamento”, comentou.

“Os projectos de inclusão social que existem em geral não têm em consideração a realidade particular e específica dos ciganos, e por outro lado não há incentivos suficientes para que os ciganos eles próprios se aproximem da sociedade maioritária”, defendeu. Segundo o director executivo da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, estes são “a maior minoria da Europa”. “Não são a maior minoria em Portugal mas em Espanha já são. Sobretudo no leste da Europa é uma minoria apreciável, mas muito separada, sem que se cumpram os princípios europeus da coesão social”, indicou.

Contra a integração está também o “problema das mentalidades, que são mais difíceis de mudar”. “Há preconceitos, discriminações, que existem na Europa de Leste mas que também temos cá e que são gritantes, terríveis. As leis são feitas para atacar esses problemas mas não são implementadas suficientemente”, argumentou. Com a participação de representantes governamentais, dirigentes de associações de ciganos portuguesas e europeias, o Fórum Ibérico decorre hoje e amanhã.