31.8.10

Empresas portuguesas aproveitam crise para investir em Espanha

Maria João Morais, in Jornal de Notícias

Embora a economia espanhola apresente actualmente os mais baixos índices de consumo dos últimos dez anos, o mercado do país vizinho continua a ser prioritário para as empresas portuguesas com objectivos de internacionalização.

Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal e a contracção que vive a sua economia afecta inevitavelmente a balança comercial portuguesa. No entanto, e embora o impacto da crise se faça sentir de forma diferente consoante o sector de actividade, o certo é que o momento difícil pode favorecer também a redefinição de estratégias e a exploração de novas oportunidades. As empresas portuguesas - são perto de 400 as que actuam actualmente em Espanha - têm estado atentas aos novos desafios.

Se a conjuntura económica desfavorável no país se mostrou fatal para algumas empresas, deixou também condições favoráveis para investir e fazer aquisições a preços competitivos.
Foi o caso da Galp Energia, que comprou, ainda em 2008, os postos da ExxonMobil e da Agip em Espanha, igualando as vendas em Portugal e no país vizinho. "Estas aquisições permitiram à Galp Energia crescer no seu mercado natural de distribuição de produtos petrolíferos - a Península Ibérica - de modo a atingir um dos principais objectivos estratégicos: o de aumentar a distribuição sob a marca Galp dos produtos das refinarias", explicou ao JN João Pedro Brito, administrador-delegado da gasolineira em Espanha.

Por sua vez, também a Vista Alegre aproveitou o momento de estagnação do mercado a seu favor, conseguindo recentemente voltar a crescer após dois anos de quebra. Em foco, o sector da hotelaria: "Embora esse mercado esteja bastante parado, houve fábricas espanholas nossas concorrentes que fecharam e nós começámos a ocupar esse espaço", esclareceu Carlos Sousa Machado, director-geral da Vista Alegre em Espanha.

E que estratégias adoptar num momento de quebra generalizada no consumo? "Procuramos constantemente captar novos clientes, fomentar o consumo e inovar em alternativas", destaca José Maria Valades, director-geral da Delta Cafés em Espanha, acrescentando que a acção da empresa "não se limita a vender café", mas passa também por ajudar os seus clientes a vendê-lo.
Também na banca houve movimentações. A mais recente foi protagonizada no início de Agosto pelo BES, quando anunciou a compra de 50% da Pastor Vida, através da Tranquilidade.
Todos os grandes grupos portugueses estão presentes no mercado do país vizinho, mas sobretudo as pequenas e médias empresas contribuem para dilatar a malha de trocas comerciais entre os dois países. E o momento de abrandamento económico não fez diminuir o interesse na exportação.

A agência de publicidade Laranja Mecânica ingressou no mercado espanhol precisamente no ano em que a crise estalou, em 2008. Segundo Jorge Fonseca, responsável pela operação internacional da empresa, a motivação foi a de "criar uma agência multinacional diferente". Cada escritório conta com uma identidade própria, mas a ideia era que ambos fossem "capazes de se apropriar do espírito ibérico". O responsável admite, no entanto, que o impacto da crise está a ser maior em Madrid.
Espanha mantém-se então como o destino natural de qualquer empresa portuguesa que queira internacionalizar-se.

Exemplos:

Vista Alegre
A presença da VA em Espanha contava 16 anos de crescimento contínuo até à quebra registada em 2008. Comprada no ano passado pela Visabeira, a empresa continua a investir no mercado vizinho, tendo aberto uma loja no coração de Madrid.

Galp Energia
Para a Galp, o momento é de consolidação em Espanha. Após a compra das filiais da Agip e da Exxon no país vizinho (2008) e da rede de distribuição de Gas Natural em Madrid (2009), a empresa reforçou a sua quota de mercado em produtos petrolíferos e gás natural.

Delta Cafés
Há mais de 20 anos em solo espanhol, a Delta Cafés tem 16 delegações, das quais Salamanca e Corunha foram as mais recentes aberturas. A marca está no top ten de vendas em Espanha, com uma quota de mercado de 3,8%. O objectivo é al-cançar a médio prazo a quota de 5%.