30.8.10

"Paz podre" domina Quinta da Fonte

Carlos Varela, in Jornal de Notícias

O ambiente ao fim da tarde de ontem, domingo, na Quinta da Fonte era de “paz podre”, depois dos confrontos entre elementos ciganos e africanos que provocaram três feridos a tiro, um por agressão, e um carro incendiado. Os confrontos poderão estar ligados aos de 2008.

A PSP mantinha no local um forte dispositivo de vigilância, com meios de Intervenção Rápida em patrulha permanente no bairro e na protecção de elementos da comunidade cigana. “Nós temos medo, dêem-nos uma casa fora daqui”, pedia, ao JN, Gisela, uma das duas mulheres ciganas agredida por jovens africanos.

O ambiente tenso traz à memória os incidentes graves ocorridos em Julho de 2008, que levaram à saída daquele bairro de Loures de vários elementos de etnia cigana, também por confrontos com elementos de origem africana e há várias fontes locais que admitem que os incidentes de anteontem e os de 2008 poderão estar ligados.

Desta vez, os problemas começaram, anteontem à noite, quando um carro – conduzido por alguém apontado como sendo cigano – passou a alta velocidade na avenida principal do bairro. Da viatura foram disparados tiros de pistola contra um grupo de jovens africanos que estavam na esquina da Rua Andrade Corvo.

Três dos jovens ficaram feridos e pouco depois, numa acção de represália, um grupo de amigos das vítimas começou a procurar um cigano de nome David Pinto, pensando que tinha sido ele quem tinha disparado. Não o encontraram e viraram-se contra a mulher, Lídia Pinto, que passava na rua.

“Eram muitos a bater na minha mãe”, contou Joel, de cinco anos, que ia com a mãe quando as agressões começaram. “Ela caiu no chão e eles batiam-lhe sempre”.

David estava numa festa no bairro de uma família de amigos e pouco depois o grupo de agressores virava-se contra a carrinha de que era proprietário. “Não tive nada a ver com os tiros, foi um cigano, parece, mas eu não fui”, disse ao JN. Na carrinha tinha todo o material para vender na feira, “e eles incendiaram tudo, lançaram aquelas garrafas com gasolina”, frisou, referindo-se aos cocktail molotov.

O grupo ainda lhe arrombou a casa à procura dele e o ambiente só acalmou com a chegada da PSP.