6.8.10

Os "profissionais da caridade"

Henrique Raposo, in Expresso

A globalização retirou centenas de milhões da pobreza. Ao contrário do que reza o mito vigente, há menos pobres no mundo. E isto incomoda muitos profissionais da caridade e da indignação.

I. Durante as últimas décadas, os media europeus alimentaram-se de uma mentira produzida pela esquerda reaccionária e iliberal. Que mentira? A mentira que descrevia a "globalização neoliberal" como a sarna do mundo. A "globalização predatória", assim rezava a lenda, era um processo que enriquecia o Ocidente e que, por consequência, empobrecia o resto do mundo. Todos os factos e imagens eram filtrados por esta grelha de leitura. Ora, sucede que através da globalização, o terceiro mundo cresceu; milhões e milhões saíram da pobreza. Mas a Europa nunca percepcionou esta realidade. Aliás, para os europeus, esta ascensão não-ocidental nem sequer devia existir, visto que a globalização deveria estar a empobrecer e não a enriquecer o terceiro mundo.

II. É por isso que tantos europeus ficam incomodados com relatórios deste tipo. Como se pode ver, a mortalidade infantil está a cair: no final da década de 80, morriam cerca de 11.9 milhões de crianças em todo o mundo; em 2008, o número desceu para 8 milhões; em 2010, calcula-se que o número volte a descer (7,7 milhões). O número de mortos ainda é gigantesco, claro, mas não podemos deixar de registar a quebra brutal da mortalidade infantil nestas duas décadas (as décadas da globalização).

III. Porém, os "profissionais da caridade" não gostam de ouvir estas coisas. Porquê? Porque acham que esses factos positivos podem confundir o público e, sobretudo, os doadores. Os "profissionais da caridade" passam a vida a dizer que o Apocalipse está ao virar da esquina, e depois não gostam dos factos que desmentem essa narrativa. Meus amigos, os factos não podem ser escondidos, sobretudo quando são factos positivos. E é, no mínimo, estranho verificar que os "profissionais da caridade", os donos da virtude e da bondade, ficam incomodados com factos positivos.

IV. Quem quiser saber alguns podres sobre os "profissionais da caridade" devia ler este livro.