3.8.10

Há mais portugueses a mudar de emprego

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

É um sinal da fraca qualidade do emprego: entre 2006 e 2008, ainda antes da crise, diminuiu o número de pessoas que começaram a trabalhar e subiram as trocas de emprego. Nos três anos, mais de 600 mil pessoas começaram a trabalhar noutro sítio.

De 2006 a 2008, um quinto dos mais de 3,3 milhões de trabalhadores analisados pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho mudaram de emprego. Por outro lado, também ganhou maior peso o grupo dos que se mantiveram no mesmo local, mas baixou o número de pessoas a entrar pela primeira vez no mundo do trabalho.

Poderia ser sinal de dinamismo e saúde da economia, mas não deverá ser essa a explicação. Aurora Teixeira, professora da Faculdade de Economia do Porto, recorda os já vários estudos feitos em Portugal para indicar que a larga maioria dos empregos que vão surgindo são criados na área dos serviços não qualificados, de fraca qualidade, frágeis e precários.

António Monteiro Fernandes, docente no ISCTE, recorda também uma das conclusões do Livro Branco das Relações Laborais, a que presidiu: "Os empregos estáveis são sempre estáveis e os móveis perpetuam-se", afirmou. E a tendência, acredita Aurora Teixeira, é para que o número de empregos estáveis diminua, sendo substituídos por empregos "flexíveis". Da mesma forma, não é com optimismo que interpreta o facto de a larga maioria dos trabalhadores ter mantido o emprego. "É um reforço da inércia do mercado laboral", admite.

Reflexo desta realidade é o salário pago. Quem se manteve na empresa ganhava mais, mas teve aumentos mais baixos; em contrapartida, quem mudou de emprego conseguiu saltos maiores, em termos de salário, mas ainda assim ganhava menos do que as pessoas que não trocaram de trabalho - facto explicado por Aurora Teixeira com a noção de que quem começa uma carreira o faz partindo de nível salarial mais baixo do que teria recebido se tivesse começado há uns anos.

Em todo o caso, os quatro factores conjugados - mais flexibilidade ou precariedade (consoante a perspectiva), menos saídas (por exemplo, reformados que poderiam dar lugar a pessoas com competências mais actualizadas), mais permanência no emprego estável e, sobretudo, menos entradas - levam os dois professores à mesma conclusão. Nem antes da actual crise, que fez disparar o desemprego, a economia portuguesa tinha capacidade para criar empregos de qualidade, "úteis", na expressão de Aurora Teixeira.