2.8.10

Famílias vão ter de recorrer mais ao Banco Alimentar

por Filipa Ambrósio e Sousa, in Diário de Notíciasem>

Instituições assumem que procura de ajuda vai disparar no próximo mês.

"É óbvio que a procura das famílias ao Banco Alimentar (BA) e a instituições de solidariedade social vai aumentar." A certeza é dada ao DN por Eugénio Fonseca, presidente da Caritas. Em causa, o corte nos subsídios e apoios sociais que ontem entrou em vigor e que prevê, entre outras medidas, o cancelamento do apoio aos beneficiários do rendimento social de inserção entre os 18 e 55 anos, caso "recusem emprego conveniente, trabalho socialmente necessário ou propostas de formação". Ou ainda os cortes nas prestações como o abono de família, o subsídio de desemprego, subsídio de parentalidade e ainda os apoios sociais à habitação, que vão afectar mais de dois milhões de beneficiários.

Até agora, segundo Eugénio da Fonseca explicou, as famílias têm estado a viver das poupanças, mas "a partir de Setembro vai ser mais dramático, ainda para mais com o início do ano escolar", diz o líder da instituição de solidariedade social. "Há muita gente em situação de privação e por isso o preenchimento das necessidades básicas vai ser fundamental", explica. Ou seja: alimentação, saúde e habitação. "Não há certezas de que a procura aumente objectivamente por causa desses cortes nos apoios sociais, mas que vai aumentar, isso sim, é uma certeza", concluiu.

Sendo que as próprias instituições de solidariedade social também foram vítimas da contenção orçamental prevista pelo Governo, o que faz com que estas também tenham de definir prioridades "no que respeita a satisfazer primeiro as necessidades básicas das famílias". Já o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, padre Lino Maia, considera "grave" a decisão da Segurança Social de cortar em alguns subsídios de alimentação de algumas crianças nos ATL, o que vai também fazer aumentar a procura de alimentos nas instituições sociais.

Para isso, conta, a ajuda de campanhas como a do BA vai ser fundamental. "Não podemos prever com toda a certeza o que vai acontecer, mas, atendendo ao nível de não empregabilidade das famílias, é muito provável que haja mais procura ", diz ao DN Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar. Já este ano a procura tem vindo a aumentar, tanto que a recolha de alimentos feita pelo BA neste último semestre foi superior - mais 3,9% - face aos dados de Dezembro de 2009. "Por isso, a tendência é cada vez mais a subida", concluiu Isabel Jonet.

Ontem, Pedro Marques, o secretário de Estado do Trabalho e da Solidariedade Social, esclareceu que "o que está em causa é que nós continuaremos a ter despesas muito acima das que tínhamos antes da crise, portanto, não está aqui alguma ideia de um corte cego no Estado social, muito pelo contrário, nós defenderemos melhor esse Estado se formos mais rigorosos na atribuição das prestações", sustentou.

Estes cortes vão permitir ao Estado poupar 200 milhões de euros, fazendo parte do Programa de Estabilidade e Crescimento, cuja poupança total será de 90 milhões.