21.3.23

"Queremos fazer as coisas direitinho": Diocese de Lisboa admite afastar padres preventivamente

 in SIC

O bispo auxiliar de Lisboa e presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023 (Jornada Mundial da Juventude) garante que a Igreja tem o dever de tudo para homenagear as vítimas dos abusos, e a diocese de Lisboa não será exceção.

O bispo auxiliar de Lisboa assegura que depois do anúncio da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) cada diocese vai agir em conformidade com as listas que receber. Isso mesmo, deu como exemplo, já fizeram as dioceses do Funchal, Évora e Açores. E “nós, Lisboa, contamos fazer o mesmo”.

Questionado sobre se as decisões já tomadas por essas dioceses não contrariam as declarações de D. Manuel Clemente, o bispo auxiliar de Lisboa explicou que não. “Vou esclarecer tudo direitinho. [O que] não se deve é utilizar a linguagem suspensão mas sim ‘proibição do exercício público do ministério’”, disse.

“No que diz respeito a Lisboa, a lista é hoje entregue à comissão diocesana e nos próximos dias irá recomendar ao senhor cardeal patriarca o que deve fazer. Isso significa que se as pessoas A, B e C devem ser afastadas, elas serão”, garantiu Américo Aguiar aos jornalistas, vincando que: “não queremos fazer juízos nem tomar decisões que não respeitem todas as regras, não podemos correr o risco de a vítimas correrem riscos por desrespeito da nossa parte. Queremos fazer as coisas direitinho”.

Mas está a Igreja unida ou dividida entre uma ala mais conservadora e outra mais progressista? "Não conheço alas, peço é que aguardem. (…) Compreendo que os portugueses se possam sentir baralhados com alguns pronunciamentos que à primeira vista possam não ir ao encontro das expectativas [mas] tudo isto tem de ser refletido na escala do tempo”.

“Hoje o tempo é para refletirmos sobre o essencial. Demos durante um ano voz ao silêncio, nasceu um relatório, agora é o tempo da justiça, da verdade e da ação”, afirmou, citando o Papa Francisco que declarou que “não basta pedir perdão".

O bispo auxiliar de Lisboa insistiu na explicação de que há “duas frentes: a civil e a canónica”. No último caso, e naquele que diz respeito à Igreja, “a recomendação à Igreja é que o bispo e a sua comissão, avalie e tome decisões. Desde o início temos entregue todas as denúncias ao Ministério Público e vamos fazer o mesmo – simbolicamente –, o que estamos a fazer é cumprir as recomendações e tomar as decisões certas no respeito que as vítimas merecem”.

Ao contrário de D. José Ornelas e D. Manuel Clemente, Américo Aguiar admite a possibilidade de indemnizações em duas situações. “Temos uma pessoa que comete um crime, é condenada por isso, mas se (…) não tiver condições, a Igreja deve suprir [o pagamento dessa indemnização", referiu.

“Segundo, numa situação em que ficou claro que da parte da Igreja houve encobrimento, colaboração, um assobiar para o ar, nesse caso, a Igreja deve assumir a indemnização a essa vítima”, acrescentou, dizendo tratar-se não de um “favor mas como obrigação” por o condenado ser um "agente seu".

Ainda assim, sublinhou, “a experiência que temos é que nenhuma das vítimas” colocou essa possibilidade, “e até a negou”.