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25.9.23

Projeto experimental encaminhou mais de 8.500 utentes para centros de saúde e aliviou urgências

Anabela Góis, in RR

A iniciativa "Ligue SNS24, Salve Vidas" arrancou em maio, para reduzir a afluência às urgências hospitalares. Agrupamento de Centros de Saúde Póvoa de Varzim/Vila do Conde faz balanço muito positivo.

Um projeto experimental na zona de Póvoa de Varzim e Vila do Conde já encaminhou mais de 8.500 utentes para consultas nos centros de saúde.


A iniciativa "Ligue SNS24, Salve Vidas" arrancou em maio, para reduzir a afluência às urgências hospitalares, e o balanço feito pela diretora do Agrupamento de Centros de Saúde (Aces) Póvoa de Varzim/Vila do Conde é muito positivo.

No âmbito deste projeto, o acesso aos cuidados de saúde é feito pela linha de saúde. É ao telefone que os utentes são triados e encaminhados para o tipo de cuidados que necessitam, e não desligam até ter consulta marcada no médico de família, se for caso disso.

“Desde 24 de maio até 18 de setembro, o SNS24 fez 23.968 triagens: 26% dos utentes foram encaminhados para o serviço de urgência. Dos restantes, 12.151 foram considerados elegíveis para este projeto: 8.555 tiveram consultas marcada para o médico de família para próprio dia ou para o dia seguinte, em função da necessidade” diz à Renascença a diretora-executiva do Aces Póvoa de Varzim/Vila do Conde.

“É uma taxa de sucesso de 70%”, sublinha Judite Neves, que adianta que os restantes foram posteriormente contactados para agendar consulta.

Durante a noite, por exemplo, não há serviços administrativos, mas o utente fica referenciado e no dia seguinte é contactado pela Unidade de Saúde Familiar (USF).

Para a responsável, há claras vantagens para doentes e profissionais: “Os utentes podem ficar em casa e chegar só à hora marcada e os profissionais veem a sua agenda muito mais bem organizada com as consultas previamente agendadas e distribuídas ao longo do dia”.

“Na prática não temos mais consultas diárias abertas do que tínhamos antes. Tivemos, foi, que alocar essas vagas a sistemas diferentes para maior conforto dos doentes”, explica Judite Neves.

O resultado, garante, é que as marcações presenciais foram caindo e não há tanta afluência em simultâneo.

tro dado positivo deste sistema, diz Judite Neves, é que as pessoas não faltam. “Dos utentes que foram agendados pela linha Saúde 24, menos de 10% faltaram à consulta” e esse, admite, era um receio que existia à partida, “que as pessoas agendassem a partir de casa e depois, por algum motivo, não comparecessem”. Não aconteceu.

No âmbito deste projeto, quase três mil pessoas – o equivalente a 11,8% - ficaram em autocuidados e, segundo a responsável, “não recorreram aos serviços de saúde num espaço de 72 horas, o que é bastante significativo”.
Médicos de família referenciaram mais de 150 doentes para consultas hospitalares

A nível hospitalar foram criadas consultas abertas para várias especialidades, para os doentes crónicos complexos, que precisam de observação a curto prazo, nomeadamente, em psiquiatria, ortopedia, medicina interna, imunohemoterapia, ginecologia e pé diabético.

Também aqui a diretora-executiva do Aces Póvoa de Varzim/Vila do Conde fala em resultados positivos. “Neste período, 152 doentes foram referenciados para estas especialidades pelo médico de família, ou seja, tiveram consulta agendada num espaço até 72 horas”. A alternativa, sublinha Judite Neves, “era encaminhá-los para o serviço de urgência”.

A ideia da Direção Executiva do SNS é estender este projeto progressivamente a todo o país. Mas no caso do Aces Póvoa de Varzim/Vila do Conde há uma condição que está longe de acontecer no resto do território, é que “toda a gente tem médico de família”, conclui Judite Neves, em declarações à Renascença.

4.8.23

Número de pessoas sem médico de família volta a ultrapassar 1,6 milhões

Alexandra Campos, in Público online

Bastou que saíssem do Serviço Nacional de Saúde seis especialistas de medicina geral e familiar para que quase dez mil pessoas perdessem médico de família.

O número de cidadãos sem médico de família atribuído no Serviço Nacional de Saúde (SNS) voltou a ultrapassar a barreira de 1,6 milhões em Julho, só porque nesse mês havia menos seis clínicos desta especialidade nos centros de saúde do que em Junho, indicam os dados que acabam de ser actualizados na plataforma Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários.

No mês passado, o número de utentes sem médico de família aumentou, assim, ligeiramente (eram mais 9455 pessoas a descoberto, como se diz na gíria), depois de em Junho ter descido de forma substantiva face a Maio – mês em que 1.764 mil inscritos não tinham clínico assistente atribuído nos centros de saúde, um total que representa um recorde nos últimos anos.

Esta diminuição de mais de 170 mil pessoas sem médico de família de Maio para Junho ficou a dever-se à contratação dos novos especialistas em medicina geral e familiar que ocuparam as vagas abertas no primeiro concurso de recrutamento deste ano. Mas, em Julho, o total de médicos de família com listas de utentes nos centros de saúde passou de 5506 para 5500, ao que tudo indica porque as entradas de jovens especialistas não terão compensado as saídas por aposentação, que este ano, tal como em 2022, estão a ocorrer em grande número.

(...)

O problema tem-se agravado nos últimos anos não só porque o SNS não consegue atrair e reter uma parte dos novos especialistas e porque o país estará atravessar um período de picos de aposentações de médicos de família, mas também porque o número de inscritos nos centros de saúde tem vindo a aumentar, com a chegada de imigrantes e o registo de muitas pessoas no SNS, por causa da vacinação, durante a pandemia de covid-19.

O Ministério da Saúde avisa, porém, que os números de Julho podem ser alterados nos próximos dias, uma vez que “a extracção e consolidação de dados do RNU [Registo Nacional de Utentes] está em curso”, prevendo-se que este trabalho “esteja concluído na próxima semana, devido à “tolerância de ponto” concedida esta quinta e sexta-feiras aos funcionários públicos no concelho de Lisboa, no âmbito da visita do Papa.

[artigo disponível na íntegra só para assinantes]

Portugal oferece a médicos brasileiros um salário bruto de 2800 euros e “casa de função”

in Público

Dirigentes sindicais reclamam oferta de casas de função também aos médicos de família portugueses que trabalham em locais carenciados.

O recrutamento de médicos estrangeiros para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) já está em curso. A Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) quer cativar médicos brasileiros para trabalharem em centros de saúde nas regiões com maior carência de médicos de família oferecendo-lhes um salário ilíquido de 2863 euros por mês, mais seis euros diários de subsídio de refeição, acrescidos de “casa de função” atribuída pela autarquia do local para onde forem contratados.

No “aviso” que está a ser divulgado no Brasil e a que o PÚBLICO teve acesso, a ACSS especifica que “o Ministério da Saúde está interessado em recrutar médicos para os cuidados de saúde primários”, oferecendo-lhes contratos com a duração de três anos em centros de saúde das regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. A carga horária será de 40 horas semanais (“com possibilidade de concentrar a semana de trabalho em quatro dias”) e terão direito a 22 dias úteis de férias.

(...)

Sindicatos contestam

Por estes valores, dificilmente haverá interessados em vir para cá, antevê um médico brasileiro, lembrando que, com os descontos, a remuneração mensal oferecida baixa substancialmente – para pouco mais de 1800 euros líquidos - e que a média salarial praticada no Brasil, apesar de variar muito de região para região, é mais elevada.

Por que é que o Governo não dá casa também aos profissionais formados em Portugal? - perguntam os dirigentes das duas estruturas sindicais que representam os médicos e que têm convocado várias greves como forma de protesto pela não resposta às suas reivindicações de melhores condições de trabalho e aumentos salariais. “Vamos reivindicar casas de função para os jovens especialistas na próxima reunião com os representantes do Ministério da Saúde”, avisa Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), lembrando que, em Lisboa, isso representa "mais mil euros por mês".

“Infelizmente o Governo, em vez de fazer a sua obrigação, que é a de cativar médicos portugueses para o SNS, pretende contratar no estrangeiro profissionais que, naturalmente, irão ser médicos assistentes dos governantes e dos seus familiares e assessores”, ironiza.

Frisando que a remuneração mensal agora oferecida aos brasileiros é semelhante à auferida pelos médicos especialistas no primeiro escalão em Portugal, quando os primeiros virão para cá como generalistas, Roque da Cunha lembra que há ainda outra diferença - "os especialistas portugueses não têm direito a casa de função".

Na mesma linha, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Joana Bordalo e Sá, quer saber "por que motivo não dão também casa aos médicos cá”, defendendo que estas medidas são "discricionárias" e constituem "uma falta de respeito pelos médicos formados em Portugal".

“É com estranheza que vemos este tipo de anúncio. Não há falta de médicos em Portugal, há é falta de médicos no SNS. Temos cerca de 60 mil médicos inscritos na Ordem, mas só 31 mil estão no SNS. Isto só revela o desespero do Ministério da Saúde que não consegue contratar para o SNS. Mas há soluções: o Governo tem que investir nas condições de trabalho e na melhoria dos salários dos médicos que se formam em Portugal", reclama.

Esta tentativa de recrutamento de médicos no Brasil avançou ainda antes de ter sido publicado o decreto-lei - aprovado no início de Julho em Conselho de Ministros - que prevê um regime excepcional para o reconhecimento automático dos graus académicos que visa agilizar o recrutamento de médicos estrangeiros para reforço do SNS.

Previsto para vigorar até ao final de 2026, este regime vai simplificar e acelerar o demorado e complicado processo de reconhecimento das habilitações académicas pelo qual os médicos de países não comunitários são obrigados a passar antes de se poderem inscrever na Ordem dos Médicos e começarem a exercer a profissão. Para revalidarem o diploma numa das oito faculdades de medicina portuguesas, estes têm que submeter-se a várias provas.


Apesar de sublinhar que ainda "não há nenhuma decisão sobre os contingentes de médicos estrangeiros" que o Governo tem intenção de contratar para centros de saúde mais carenciados, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, esclareceu na comissão parlamentar de saúde que o número rondará entre "duas a três centenas" e que os profissionais serão recrutados em "vários países da América Latina".

O ministro tem repetido que o objectivo do decreto-lei que prevê este regime excepcional é trazer para os cuidados de saúde primários, de regiões como o Alentejo, o Algarve e Lisboa e Vale do Tejo, profissionais que possam ajudar a suprir temporariamente a falta de médicos de família, assegurando "consultas abertas nos centros de saúde".

Quanto às nacionalidades, Manuel Pizarro explicou que o Estado português "não pode ir" buscar médicos a países onde há falta destes profissionais, prevendo que apenas deverá ser possível recrutar em "Cuba, Colômbia e mais alguns países da América Latina". O ministro - que foi buscar médicos ao Uruguai e a Cuba em 2008 e 2009 quando era secretário de Estado da Saúde - tem insistido que o que está em causa não é nada de novo, recordando que sucessivos Governos recrutaram clínicos não só nestes dois países mas também na Colômbia e na Costa Rica.

O problema da falta de médicos de família tem-se agravado nos últimos anos porque está a ocorrer um elevado número de aposentações de especialistas em medicina geral e familiar e porque uma parte dos novos especialistas prefere não ocupar as vagas abertas nas regiões mais carenciadas. Além disso, com a chegada de imigrantes a Portugal, tem crescido o número de inscritos no SNS. A conjugação de todos estes factores faz com que o total de cidadãos sem médico de família continue a aumentar e que se tenha tornado de novo comum a acumulação de filas de pessoas, de madrugada, à porta de vários centros de saúde.


[artigo disponível na integra só para assinantes]


7.7.22

Marta Temido anuncia novo Estatuto do SNS: centros de saúde terão autonomia para gerir e contratar, tal como os hospitais já fazem

Joana Ascensão, in Expresso 

Marta Temido apresenta o que mudará na Saúde, com os investimentos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a Saúde e na nova lei da Saúde Mental. O novo Estatuto do Serviço Nacional de Saúde foi aprovado em Conselho de Ministros

Nas instalações do Infarmed, esta quinta-feira Marta Temido apresenta o novo estatuto do SNS, aprovado em Conselho de Ministros.

Segundo a ministra da Saúde, terá três linhas de intervenção essenciais: mais organização, mais autonomia para hospitais e centros de saúde e maior motivação dos profissionais de saúde.


2.3.22

Com o fim da pandemia à vista, que futuro para o SNS e para a saúde em Portugal?

Ana Maia, in Público on-line

Vários ex-ministros da Saúde ouvidos pelo PÚBLICO consideram que este é o momento para se avançar com mudanças. Apontam a maior autonomia das unidades, os incentivos aos profissionais e o assegurar do acesso aos cuidados de saúde como questões fundamentais.

A 2 de Março de 2020, a ministra e a directora-geral da Saúde confirmavam, numa conferência de imprensa, os dois primeiros casos positivos de covid-19 em Portugal. Dois anos depois e com mais de 3,2 milhões de casos confirmados e mais de 21 mil mortes associadas à pandemia, o país vive uma nova fase. Com cada vez menos restrições, e uma elevada taxa de vacinação, a situação de emergência atenua-se e abre espaço para olhar o futuro da saúde e do Serviço Nacional de Saúde (SNS). O que se aprendeu e o que é preciso mudar?

Para Adalberto Campos Fernandes, há movimentos que se iniciaram, ganharam força e já não voltarão para trás. Dá o exemplo da transformação digital, com a prescrição electrónica e o centro de contacto do SNS – o SNS 24 –, que “foi um instrumento poderoso” quer para a marcação de testes, quer na vacinação contra a covid-19. Também “dificilmente a telessaúde volta para trás”, assim como a hospitalização domiciliária, programa que considera “estruturante e reformista”.

Mas é da opinião que, “apesar da perturbação da pandemia”, teria sido possível “ir um bocadinho mais longe em algumas reformas estruturais”. “Foi possível dar maior autonomia aos hospitais durante a pandemia. Várias unidades responderam a mais autonomia com mais responsabilidade. Não descontrolaram as contas, não diminuíram a actividade, o que significa que não há razão objectiva para que as Finanças tenham esta preocupação tão grande com o processo de autonomia da gestão dos hospitais”, afirma.

“Quando há um incêndio, lançamos a água para cima das chamas para apagá-lo. Foi o que aconteceu na pandemia. Agora é preciso dizer que não temos mais tempo para não fazer essas alterações estruturais”, diz Adalberto Campos Fernandes. É nesta linha da organização que salienta a criação dos centros de responsabilidade integrada (CRI), modelo que “permite introduzir diversidade dentro dos hospitais, premiando o desempenho dos melhores”.

As estruturas do SNS têm de ser responsabilizadas pelos direitos de acesso. Ou conseguem responder ou têm de garantir acesso prestado complementarmente por alguém Adalberto Campos Fernandes

A reforma, continua o antecessor de Marta Temido no cargo, passa também “pelo capital humano”. O SNS “não conseguirá manter a sua vitalidade, nomeadamente através da retenção dos talentos, sem uma reforma das carreiras profissionais”, considera o ex-ministro, que aponta outro ponto nevrálgico que é preciso garantir: o acesso. “As estruturas do SNS têm de ser responsabilizadas pelos direitos de acesso. Ou conseguem responder ou têm de garantir acesso prestado complementarmente por alguém”, afirma, considerando que o direito ao acesso à saúde não pode ser limitado por ideologias.

Prioridade ao doente

Também para o ex-ministro da Saúde António Correia de Campos, o momento actual pode ser o ideal para avançar com reformas estruturais. Entre as várias medidas em que considera que é preciso apostar, estão a continuidade de reformas “em curso e que são certas”: cirurgias de ambulatório, a hospitalização domiciliária, a generalização dos CRI e completar a rede de cuidados continuados. Neste último caso, “sem perder o reforço do sector social e privado, completar a rede com unidades públicas de qualidade excelente que sirvam de referência”.

O ex-presidente do Conselho Económico e Social considera que é preciso dar prioridade ao doente, o que “significa reforçar os direitos dos doentes com programas de prevenção geral e prevenção secundária”, assegurando pontos de contacto que facilitem o acesso ao hospital sem ser pelo serviço de urgência. Na lista de prioridades está também o “retomar do planeamento da saúde”, que não deve ser apenas do sector público, mas também do sector privado e social, de forma “a evitar redundâncias e desperdícios”.

É preciso termos os recursos humanos planeados a 20 anos. Não podemos ter uma situação como a dos anos 1980/90 António Correia de Campos

Para Correia de Campos, é preciso também “articular o sistema de informação” de hospitais, cuidados de saúde primários e cuidados continuados, assim como “ampliar o número de consultas não presenciais e desenvolver apoio domiciliário remoto”. Os recursos humanos são também uma pedra basilar. “É preciso termos os recursos humanos planeados a 20 anos. Não podemos ter uma situação como a dos anos 1980/90”, afirma, acrescentando que “o Ministério da Saúde tem de retomar a capacidade de definir vagas de internato”.

Dá o seu exemplo, quando determinou o aumento das vagas para medicina geral e familiar numa altura em que a especialidade era pouco procurada. “Com as unidades de saúde familiar (USF) e a qualidade de formação, os jovens inscreveram-se. Neste momento está a recuar porque não vêem abrir USF modelo B. É preciso lançar mais destas USF que pagam incentivos proporcionais com o desempenho”, diz, considerando que os incentivos são fundamentais para premiar o bom desempenho dos profissionais de saúde e fixá-los no serviço público.
Uma reforma de fundo

Luís Filipe Pereira, ex-ministro da Saúde, considera que é preciso “uma reforma profunda, sem a qual irá manter-se o panorama que se tem hoje”, e refere que “há dados objectivos” que o demonstram. “Se todos temos direito a cuidados de saúde tendencialmente gratuitos, por que é que há quase quatro milhões de pessoas que pagam seguros de saúde e subsistemas? Porque o SNS não responde do modo e da forma que as pessoas querem”, afirma, referindo que a ineficiência leva a que os custos sejam superiores ao necessário.

Tem de se passar do conceito de SNS para o de sistema nacional de saúde. O Estado deve continuar a ter produção, mas pode contratualizar também com o privado e o social com a vantagem de pagar por resultados e aumenta a eficiência Luís Filipe Pereira

O antigo responsável pela pasta da Saúde do governo de Durão Barroso salienta o aumento das listas de espera entre 2015 e 2019 e que são as pessoas com menos recursos as que acabam por esperar mais por uma resposta. São motivos que o levam a falar da necessidade de mudanças de fundo, que “não é mudar o acesso tendencialmente gratuito”. “Tem de se passar do conceito de SNS para o de sistema nacional de saúde. A diferença é que no sistema entram todas as iniciativas. O Estado deve continuar a ter produção, mas pode contratualizar também com o privado e o social com a vantagem de pagar por resultados e aumenta a eficiência”, diz, justificando-a com uma forma diferente de gerir. “No privado existem incentivos e penalizações e no público não existem”, diz, considerando que este é um processo que deve existir no público, tal como financiamento associado a metas a cumprir.

O ex-ministro defende “um sistema com uma componente pública, social e privada”. “A privada e social é contratualizada. A componente pública, para a gerir tem de haver uma grande organização, um instituto público, com um CEO com competências definidas na lei, que gere do ponto do vista técnico e organizacional e responde ao Ministério da Saúde. Com a vantagem de o ministério poder dedicar-se cada vez mais ao lado preventivo”, diz.
Cuidados de proximidade

“Acho que tem de haver um reforço do SNS e que se deve definir para onde devemos ir e a relação que se tem com o privado e o social no contexto do sistema. Sempre existiu colaboração, mas as fronteiras têm sido muito difíceis de manter ou definir”, diz a ex-ministra Ana Jorge, que considera que “só pode haver uma boa resposta quando se tem um lado público com uma capacidade forte”. Afirma que não se deve ter receio de estabelecer contratualização com o privado e o sector social, até porque existem mecanismos fortes de monitorização, mas considera que este apoio não deve limitar a existência de um rumo bem definido a seguir.

Deve haver um aumento de enfermeiros nas USF para haver uma maior capacidade de resposta aos doentes crónicos que precisam de acompanhamento. E outros recursos técnicos – psicólogos, assistentes sociais, terapeutas Ana Jorge

E esse rumo passa pela aposta nos cuidados de proximidade, com aumento do número de USF e reforço das unidades de cuidados na comunidade. “Deve haver um aumento de enfermeiros nas USF para haver uma maior capacidade de resposta aos doentes crónicos que precisam de acompanhamento. E outros recursos técnicos – psicólogos, assistentes sociais, terapeutas. É preciso reforçar também o papel dos conselhos clínicos nos agrupamentos de centros de saúde e rever o modelo de contratualização das USF de forma a repensar os indicadores que devem ser mais importantes. É preciso dar resposta aos mais frágeis e isso nem sempre está contemplado nesses incentivos”, considera a ex-ministra da Saúde.

Também na área hospitalar, “os conselhos de administração têm de trabalhar com o corpo clínico” e “é importante” que estas unidades “tenham maior autonomia”. “É importante definir o que cada hospital faz melhor para fazer com que médicos e enfermeiros se mantenham. Não há SNS sem recursos humanos satisfeitos e compensados. Há um vencimento base e depois tem de haver incentivos e não se pode valorizar só o número de actos praticados. Existem especialidades muito importantes que não são mensuráveis em actos, como a medicina interna”, afirma, salientando a necessidade de valorizar também outra profissões na saúde que são fundamentais na construção de equipas multidisciplinares e na melhor resposta aos utentes.


7.9.20

Esperar por consulta à porta do centro de saúde em tempos de pandemia. “Então não assusta?”

Ana Maia (textos), Rui Gaudêncio (fotos), in Público on-line

O relógio está próximo às 9h20 e cerca de duas dezenas de pessoas ainda esperam junto da porta do Centro de Saúde de Algueirão, em Sintra, por uma marcação para o dia ou pela consulta. Dizem que nesta quinta-feira, dia em que o PÚBLICO esteve junto do centro de saúde, foi “um dia bom”.

Manuela Pinto chegou às 7h30. Há três meses que pergunta como pode conseguir o atestado multiusos para o marido, que está com cancro. Foi renovar a baixa e tentar mais uma vez ter resposta sobre o atestado. “Têm um serviço de delegados de saúde pública dedicados à covid. Não estão a tratar destes pedidos. É um direito fundamental”, lamentou.

Em tempo de pandemia, a recomendação é que as pessoas não se desloquem aos centros de saúde sem telefonar. Mas ali a recomendação cai por terra. O problema é velho e a pandemia não ajuda. “O telefone está sempre impedido. Quando foi para a marcação da primeira baixa, enviei um email. Responderam três dias depois. Já tinha vindo cá marcar”, contou.

“Não marcam consultas a longo prazo. O que facilitam são as vacinas, os pensos, as consultas das crianças e das grávidas. Há centros de saúde que funcionam bem. Acho que o problema é daqui. Sempre foi assim e está pior com a pandemia”, afirmou Manuela, que diz que “nestes três meses” nunca foi atendida num consultório. “É o espaço que há livre. Há uma coisa boa: pelo menos não se paga a consulta.”

Alexandrina Simões, 67 anos, não chegou muito antes de Manuela. E, tal como ela, já tinha assegurado uma consulta para o dia. Só esperava que já não demorassem muito mais a chamá-la. À porta do centro, um edifício de habitação, não se cumpre com rigor o distanciamento dos dois metros, mas todos usam máscara. Sempre que o segurança ou um dos médicos chegam à porta, as conversas acabam até se ouvir o nome de quem pode entrar.

Ninguém atende o telefone. Vim para conseguir consulta para mostrar exames e pedir uma credencial para terapia da voz”, disse, explicando que os problemas que tem resultaram de uma operação mal feita que lesou as cordas vocais. Já a opção da Internet, pouco lhe serve: “Não percebo nada disso.” E assusta estar ali em tempo de pandemia. “Então não assusta? Mas isto não é de agora. Só que antes ficava tudo lá dentro [do centro de saúde] e agora é cá fora. Que havemos de fazer?”, lamentou. Sem médico de família atribuído, o mais provável que mostre os exames a um médico diferente daquele que os pediu.

Marleide e Hélio vieram de comboio da Rinchoa. Chegaram às 6 da manhã. Hélio está com muitas dores abdominais. Anda assim há quatro meses. Já foi visto no centro de saúde, esteve nos hospitais de Cascais e Amadora-Sintra, mas ainda não sabe o que tem. Não tentaram marcar consulta por telefone. “É difícil atenderem e como a dor é muito forte não quisemos esperar”, disse Marleide. Pouco passava das 10h00 quando Hélio saiu do consultório médico. Irá fazer uma endoscopia.

Apesar do reconhecimento do esforço dos profissionais, Elsa Martins, 72 anos, considera as condições do centro de saúde como “péssimas”. “Sabemos que vai haver um novo centro de saúde com condições. Resta saber se terá médicos, porque os que há, não chegam para aqui.” Chegou por volta das 9h00 e espera para ver se conseguirá uma consulta do dia.

Sem senhas, perguntou quem era a última pessoa na fila. “Não querem ajuntamentos e depois estamos aqui”, salientou, admitindo que a situação “mete um pouco de medo”. Tem o coração nas mãos por ela, mas sobretudo pelo marido, doente de Alzheimer, que teve de ficar sozinho em casa. Contou que já desmaiou “ao sol” à porta do centro de saúde em tempo de pandemia. Foi assim que se percebeu que estava com uma infecção urinária. Naquele dia queria mostrar os exames.
“E quando chegar o inverno com chuva e frio, como vai ser?”

“Temos um número muito significativo de habitantes e poucas unidades de saúde para dar resposta às necessidades da população”, apontou Paula Borges, da Comissão de Utentes de Saúde do Concelho de Sintra. O que se passa no Centro de Saúde de Algueirão não é caso único, mas será a situação mais difícil. “Serve a maior freguesia do concelho, com o número de utentes muito significativo, sem pessoal administrativo suficiente”, disse, lembrando que a procura de cuidados que não se fez em Março e Abril poderá estar agora a desestabilizar mais a situação.

“Estes problemas prolongam-se há muitos anos. A pandemia veio expor o que se passa e acentuar as diferenças sociais. Quem tem acesso à Internet e informação consegue resposta. Quem não está a conseguir são as pessoas que mais precisam no imediato. Idosos, pessoas sem Internet ou com fracas condições socioeconómicas”, considerou.

Mais próxima do início da fila para pedir uma consulta estava Lurdes Curva. “Tenho exames feitos há dois meses e quero marcar uma consulta. Já cheguei a estar cinco horas. Ligamos e desligam o telefone. Está cada vez pior. E quando chegar o inverno com chuva e frio, como vai ser?”, perguntou.

Essa é uma questão que a direcção do Agrupamento de Centros de Saúde (Aces) de Sintra, a que pertence este centro de saúde, já trata de resolver com a articulação da Câmara Municipal de Sintra, como explicou em resposta por escrito. Vão colocar estruturas amovíveis à entrada “por forma a permitir que os utentes não fiquem desprotegidos enquanto esperam pela triagem que continuará, salvo ordens superiores em contrário, a ser feita”.

FotoVárias pessoas esperam à porta do Centro de Saúde de Algueirão para pedir uma consulta para o dia ou para serem vistas pelo médico

O Aces de Sintra tinha, em Julho, 357.241 utentes inscritos frequentadores, dos quais 96.021 (26,8%) não têm médico de família atribuído. “30 % destes utentes (28.784) estão inscritos na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) Algueirão, onde representam 67% dos inscritos naquela UCSP”.

“O edifício onde funciona a UCSP Algueirão está há vários anos desadequado à finalidade e à dimensão, pelo que as medidas de prevenção impostas pela covid-19 obrigam à triagem de todos os utentes que ali recorrem. Para minimizar este facto, e considerando que os recursos humanos existentes não permitem um atendimento telefónico eficaz, foi reforçada, junto dos utentes, a vantagem da utilização do mail da unidade para pedidos de marcação de consultas, renovação de receituário crónico, colocação de dúvidas ou pedidos de informação”, diz a direcção.

As condições do edifício, acrescenta ainda a direcção do Aces, são pouco atraentes para os novos médicos, deixando cerca de 50% das vagas para contratação por preencher. A direcção espera que o novo centro de saúde, que deverá abrir no próximo ano, mude este cenário e salienta “o esforço e o verdadeiro espírito de sacrifício com que todos os profissionais que ali trabalham tentam, todos os dias e apesar de tudo, fazer o seu melhor”.

31.7.20

Centros de saúde não conseguem atender telefones. Quebra nas consultas presenciais é de três milhões

Alexandra Campos, in Público on-line

Ministra da Saúde diz que se fizeram menos 1,1 milhões de consultas nos cuidados de saúde primários, mas Ordem dos Médicos só leva em conta na contabilidade que faz entre Março e Maio os atendimentos presenciais, não pelo telefone, e defende que a diminuição é superior a três milhões.

Começou por tentar marcar pela Internet uma consulta presencial com o seu médico assistente no Centro de Saúde de Oeiras, em Junho, como costumava fazer antes da pandemia, mas não conseguiu. Uma mensagem no ecrã do computador esclarecia que o médico não tinha “agenda disponível para este tipo de consulta” e mandava contactar “directamente” o centro de saúde se o problema fosse “grave” ou não pudesse “esperar pelo contacto”.

Tentou telefonar vezes sem conta, sem sucesso. Ninguém atendia do outro lado. Foi então que decidiu ir ao centro de saúde para marcar uma consulta que seria feita pelo telefone. O episódio pode parecer inverosímil mas o homem, que pede para não ser identificado, garante que nesse dia eram várias as pessoas na sala de espera que se tinham deslocado expressamente ao centro de saúde para marcarem teleconsultas.

“Então pedem-nos para sermos responsáveis, para evitarmos deslocações desnecessárias, para ficarmos em casa, para não irmos aos centros de saúde por causa da covid, e afinal obrigam-nos a ir lá para marcar uma consulta pelo telefone?”, revolta-se.

Diz que alertou para o problema a Direcção-Geral da Saúde, o Ministério da Saúde e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, sem obter resposta. Do centro de saúde explicam que o problema é da central [telefónica]: “Nesta fase pandémica, há uma sobrecarga da central, há muitos telefonemas, há que insistir.”

O problema foi ultrapassado, entretanto, já é possível marcar de novo consultas através da Internet neste centro de saúde, mas fica uma pergunta. Os cuidados de saúde primários são a porta de entrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e começaram já a retomar a actividade assistencial normal, mas quantas pessoas terão ficado sem acesso por esbarrarem no silêncio do outro lado, quantas terão desistido de tentar telefonar, quantos atendimentos ficaram por fazer?

A resposta a esta pergunta diverge substancialmente se o autor for o Ministério da Saúde ou se for a Ordem dos Médicos. É uma questão de interpretação porque os dados são basicamente os mesmos. Na semana passada, a ministra da Saúde revelou na Comissão Parlamentar de Saúde que houve menos cerca de 1,1 milhões de consultas nos cuidados de saúde primários (sendo que, durante todo o ano de 2019, se fizeram 31 milhões de consultas, enfatizou) mas os números que a Ordem dos Médicos (OM) contabilizou, entre Março e Maio (os que estão disponíveis no portal da transparência do SNS), são bem superiores: menos cerca de três milhões de consultas nos centros de saúde do que em 2019. Dados fornecidos ao PÚBLICO pelo Ministério da Saúde indicam que em Junho já houve uma recuperação assinalável (ver infografia).

A explicação para uma diferença tão exuberante é simples: o Ministério da Saúde agrega tudo, as consultas não presenciais e as feitas pelo telefone, enquanto a OM só leva em conta a quebra das consultas presenciais por considerar que muitos dos atendimentos pelo telefone não terão sido consultas médicas propriamente ditas.

O gabinete da ministra sublinha que a retoma da actividade prevê não só o recurso "a meios não presenciais, utilizando mecanismos de telesaúde”, mas também “desfasamento de horários de atendimento e o agendamento por hora marcada”, além da deslocação ao domicílio do utente, quando tal se revele necessário. 

Só dá para atender três chamadas em simultâneo

Sejam quais foram os números contabilizados, a diminuição de atendimentos nos cuidados de saúde primários é muito relevante. Abril passado, aliás, foi o mês com o número mais baixo de consultas, tanto presenciais como não presenciais, desde 2017. A situação está a melhorar, em Junho já se notou uma inversão da tendência e em grande parte dos centros de saúde a actividade normal foi retomada, mas há locais onde as dificuldades de acesso subsistem e estão a levar ao desespero de doentes e familiares.

Maria João Pereira, que só tinha elogios a fazer à Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Agualva, onde a sua mãe está inscrita desde Março – “era espectacular, mesmo não tendo a minha mãe médico de família marcavam a consulta para o dia seguinte” –, não consegue desde há semanas contactar a médica, apesar de a sua mãe ter entretanto sofrido “uma síncope” no início deste mês e de ter saído do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, onde foi atendida, com indicação para fazer com urgência um ecocardiograma e um holter (um exame para medir os batimentos do coração). “Dizem, por email, que as consultas programadas continuam suspensas, que, se quisermos, temos que vir à consulta não programada às 8h de dia, e que o critério de urgência é do médico”, lamenta.

No Agrupamento de Centros de Saúde de Sintra, a que pertence esta unidade, nã0 foi possível falar com a directora, porque esta estava de férias, mas um funcionário assumiu que, no caso de o contacto ser urgente, é necessário alguém deslocar-se à unidade pela manhã, e recomendou à utente o envio de um email para o gabinete do cidadão.

Numa rápida incursão pela plataforma “Centros de saúde” não é difícil, aliás, encontrar críticas ao funcionamento de muitos centros de saúde. Só um exemplo: esta semana, João Triunfo, utente do Centro de Saúde de Algueirão Mem-Martins, relatava que nesta unidade “os médicos estão sem trabalhar desde Março e que há pessoas na rua à espera de uma consulta que nunca acontecerá”. E criticava, agastado: “Não existe a possibilidade de se realizar agendamentos perante as prioridades! Doentes de risco sem medicamentos. Médicos sem disponibilizarem agenda!”. Mas os exemplos multiplicam-se em muitos noutros centros de saúde do país.

As dificuldades no atendimento telefónico já eram um dos principais problemas dos cuidados de saúde primários antes da pandemia, e, com o extraordinário aumento das consultas pelo telefone, naturalmente a situação piorou, admite o presidente da associação nacional das Unidades de Saúde Familiares (USF-AN), Diogo Urjais. O problema é que “o sistema instalado não permite que fique gravado na nuvem que o utente ligou” e a maior parte das unidades não têm linhas nem postos telefónicos suficientes e só é possível atender três chamadas em simultâneo, explica. A agravar, acrescenta, as unidades não têm telefonistas, só secretários clínicos que são os profissionais mais em falta, mais até do que médicos de família.

Não foi possível fazer videoconsultas

Outro grande problema com que os profissionais dos centros de saúde agora se debatem é o da sobrecarga que representa o seguimento dos casos positivos e suspeitos de covid-19, uma plataforma informática designada Trace-covid que os obriga a todos os dias, ao longo de 14 dias, telefonar para estas pessoas. E são milhares os casos activos, frisa Rui Nogueira, presidente da Associação Nacional de Medicina Geral e Familiar, para quem os exemplos de mau funcionamento serão episódicos, “saem da regra”. Os centros de saúde até estão a dar uma resposta “incrível”, defende. E avança com os últimos dados: as consultas programadas aumentaram 65% e as não programadas (que incluem contacto telefónicos, renovação de receituário, ver exames) subiram subiram 8,7% de Abril para Junho.

Se Abril foi o pior mês, em Junho já houve alguma recuperação. “Os números do primeiro semestre até me surpreenderam. No total houve menos cerca de 6% de contactos, de 15,5 para 14,6 milhões, o que “até é razoável, apesar de tudo”. Mas Rui Nogueira está obviamente preocupado com o que ficou por fazer. O que o preocupa são os doentes que não podem esperar, como os que tem insuficiência cardíaca, doenças oncológicas, pé diabético, exemplifica. E apesar de este cálculo ser difícil, se por exemplo não tivesse sido feito nada em Março, Abril e Maio, teria havido menos 15 mil diagnósticos oncológicos. 

Há máscaras, mas não há pensos e compressas

“Estamos a fazer o melhor possível e a pandemia veio pôr a nu algumas limitações e problemas que já existiam”, diz. “Já andávamos com sapatos apertados para os pés que temos e agora os pés incharam e os sapatos são os mesmos”, ilustra. “A verdade é que neste momento não temos recursos nem condições para dar respostas a todas as solicitações”, admite. Apesar de a medicina à distância ter sido uma das soluções preconizada neste período, os centros de saúde não receberam telemóveis, os computadores disponíveis não têm câmaras e por isso não foi possível fazer videoconsultas. A falta de equipamentos é de tal ordem que os médicos e enfermeiros têm usado muitas vezes os seus próprios telemóveis, exemplifica Rui Nogueira.

Diogo Urjais está convencido de que parte da actividade não realizada em Março, Abril e Maio dificilmente será recuperada.

“Houve unidades que compraram telemóveis com cartões pré-pagos, algumas ARS [administrações regionais de saúde] deram um telemóvel para o coordenador da unidade, foram reactivados equipamentos que não estavam a funcionar, mas alguns profissionais trouxeram telemóveis antigos de casa”, corrobora Diogo Urjais, que reconhece que há falta de resposta e problemas em várias unidades do país mas faz questão de dizer há muitos outras onde a retoma está a correr bem.

“Apesar de ser um país pequeno, Portugal tem assimetrias regionais gigantes. Infelizmente há locais em que se continua a ter salas de espera vazias e ruas cheias. Mas está-se a fazer todas as consultas de grupo de risco ou vulneráveis, diabéticos, grávidas, hipertensos. Todos os outros casos serão mais espaçados numa retoma gradual”, explica.

Ao contrário de Rui Nogueira, Diogo Urjais está convencido de que parte da actividade não realizada em Março, Abril e Maio dificilmente será recuperada. “Houve muitos diagnósticos que ficaram por fazer. Os meios complementares de diagnóstico e terapêutica pararam na rede dos convencionados e os hospitais privados deram uma resposta quase nula.” E há um problema que o preocupa sobremaneira agora. Nos centros de saúde, em geral, não há falta de equipamentos de protecção para fazer face à covid, nomeadamente máscaras, mas “há uma falta gritante de material básico, como pensos e compressas”.
 

26.7.16

Auditoria diz que utentes esperam demasiado por consultas nos centro de saúde

in Diário de Notícias

É preciso esperar em média 59 dias por uma consulta numa Unidade de Saúde Familiar

Em todas as regiões do país os utentes esperam por uma consulta mais do que o definido por lei, 59 dias nas Unidades de Saúde Familiar (USF) e 37 dias nas Unidades de Cuidados de Saúde Primários (UCSP).

Uma auditoria do Tribunal de Contas (TdC) de seguimento de recomendações formuladas anteriormente sobre o desempenho de unidades funcionais de cuidados de saúde primários refere que "todas as regiões de saúde registam uma média do tempo de espera, entre o pedido de consulta programada (efetuado pelo utente) e a realização efetiva de consulta, superior ao tempo máximo de resposta garantido (TMRG)".

Reportando-se ao primeiro semestre de 2015, o TdC indicou que o utente esperava em média 59 dias por uma consulta numa USF, enquanto numa UCSP obteria a consulta em 37 dias.

O documento refere ainda que os utentes na Região de Saúde do Alentejo são os que mais esperam entre a admissão administrativa do doente e o início da consulta: 73 minutos.

Na região do norte os utentes esperavam em média 43 minutos para ser observados pelo médico.

Tendo em conta a média do tempo de espera verificado nas UCSP (62 minutos) e nas USF (43 minutos), os autores do documento apuraram o custo de oportunidade associado ao tempo de espera que um utente no ativo enfrenta desde o registo administrativo de confirmação de presença e o início da consulta com o seu médico: 17,32 euros numa UCSP e 10,99 euros numa USF.

"Considerando o número de consultas realizadas, em 2014, aos utentes entre a faixa etária dos 18 aos 65 anos (5.568.081), nas unidades funcionais, o tempo de espera terá representado um custo de oportunidade global de 74.684.400 euros, correspondente a 0,04% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, traduzido na redução da produção de riqueza pelos trabalhadores/utentes que recorreram à prestação de cuidados de saúde nessas unidades", lê-se no documento.

Relativamente às recomendações que o TDC tinha efetuado, este organismo considera que o Ministério da Saúde não deu resposta aos principais problemas.

"No final do primeiro semestre de 2015 existiam 1.280.425 utentes sem médico de família", lê-se no relatório.

Para o TdC, a falta de médicos de medicina geral e familiar resulta da eventual cedência a interesses corporativos (numerus clausus restritivos à entrada nos cursos de medicina e condicionamento do acesso à formação pós-graduada) e da limitação do número de prescritores (médicos), por parte do governo, com o fim de restringir a oferta de serviços médicos e da ausência de incentivos eficazes à adequada distribuição territorial dos recursos humanos.

"O rácio de utentes inscritos por médico degradou-se. Registou-se uma diminuição de 71 médicos nos cuidados de saúde primários entre 2013 e o primeiro semestre de 2015", prossegue o Tribunal.

Este organismo recorda que, em junho de 2015, a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) estimava uma necessidade entre 629 e 770 médicos de família e alerta para a carência de médicos que tenderá a "agravar-se pelo crescimento acentuado das aposentações previsto para o período 2016-2021, num total de 1.761 aposentações".

"Permanece a necessidade de libertação do tempo médico de tarefas administrativas e de outras em que possam ser substituídos por outros profissionais de saúde, tal como recomendado pelo Tribunal".

O TdC aborda ainda a questão da prescrição eletrónica de medicamentos que "introduziu benefícios, mas igualmente demoras, associadas a ineficácias dos meios informáticos utilizados, ocupando entre quatro a 10 minutos de cada consulta".

Outra falha apontada é a ausência da "partilha de competências com o enfermeiro de família".

Neste documento, o TdC aponta para o crescimento dos seguros de saúde, "em resposta a dificuldades de acesso ao Serviço Nacional de Saúde -- tempos".

"Existem mais de quatro milhões de subscrições de seguros e de subsistemas de saúde, o que contribui para o facto de mais de um terço dos utentes inscritos nos cuidados de saúde primários não ter recorrido às unidades do SNS".

22.4.16

Um quarto dos centros de saúde com médicos dentistas

Alexandra Campos, in Público on-line

Governo prevê contratar 500 médicos aposentados para compensar a falta de clínicos nalgumas especialidades.

Vamos ter 91 centros de saúde (cerca de um quarto do total) com médicos dentistas e 28 agrupamentos de centros de saúde com rastreios oftalmológicos, em experiências-piloto. Para compensar a falta de médicos nalgumas especialidades, pretende-se contratar 500 aposentados, que agora têm um regime mais apetecível para regressarem ao SNS. Só estas três medidas, previstas no Programa Nacional de Reformas, implicam uma despesa superior a 176 milhões de euros.

Nos cuidados continuados, os gastos previstos no documento ascendem a cerca de 70,4 milhões de euros, a distribuir pelo apoio domiciliário e em ambulatórios a idosos e pessoas dependentes (180 equipas e 4800 lugares), além de oito mil novas camas nas várias tipologias de internamento. Os cuidados paliativos terão um aumento de 164 lugares, enquanto os paliativos pediátricos, sem resposta actualmente, passam a ter 300 lugares/camas. Para a saúde mental estão previstas 109 equipas e 1528 camas.

O programa inclui estimativas dos utentes beneficiados com o alargamento das isenções de taxas moderadoras e reitera a redução, já em vigor, de 25% da receita global com estes pagamentos nas urgências, consultas e meios de diagnóstico. A reposição do direito ao transporte de doentes não urgentes, que se estima venha a abranger cerca de 554 mil transportes, vai implicar um gasto suplementar de 30,4 milhões de euros.

Em contrapartida, só no sector do medicamento, o Ministério da Saúde prevê uma poupança da perto de 518 milhões de euros, graças à revisão dos preços e aos estímulos ao aumento da utilização de genéricos — pretende-se que a quota destes fármacos mais baratos (custam 6,5 euros, em média) ascenda a 63%. Uma maior aposta nas compras centralizadas pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde poderá corresponder, estima-se, a uma poupança de 729 milhões de euros, enquanto o combate à fraude renderá cerca de 200 milhões de euros aos cofres do Estado.

Como já anunciado pelo PÚBLICO, está previsto o pagamento da dívida vencida (a mais de 90 dias) dos hospitais públicos, no valor de mais de 1,3 mil milhões de euros. com Lusa

18.11.15

Aumento de lista de utentes dificulta resposta nos centros de saúde

in Público on-line

Alerta é feito pela Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiares, que está preocupada com o acesso dos utentes aos cuidados primários.

O presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiares (USF-AN) considerou nesta quinta-feira que um aumento, ainda que voluntário, da lista de utentes atendidos nestes centros de saúde "não reúne condições técnicas para dar uma resposta com a acessibilidade e a qualidade devidas".

João Rodrigues, que falava a propósito do 4.º Encontro de Outono das USF que se realiza nesta sexta-feira, no Porto, defendeu que "não chega aumentar listas, tem de haver condições de trabalho, tem de haver rácios profissionais/utentes que sejam minimamente adequados à produção de uma acessibilidade diária e qualificada".

"Tudo o que passe de uma média de 1700 utentes, do nosso ponto de vista, é tecnicamente inadequado porque cria, obviamente, iniquidades, porque não cria acesso e não há resultados de qualidade, que é o que se pretende", sublinhou. As USF representam um novo modelo de centros de saúde, com um foco maior nos indicadores de saúde da população e no trabalho por objectivos.

O dirigente da associação referiu também que no encontro serão apresentadas duas novas funcionalidades do “projecto BI USF”, destinado a dotar as USF de um instrumento que as apoie e sustente no seu desenvolvimento. O objectivo é contribuir para que as USF tenham acesso a uma ferramenta para tornar mais fácil a investigação feita nas e pelas Unidades de Saúde familiares e a um outro instrumento destinado à "a melhoria contínua da qualidade organizacional e partilha de boas práticas".

O presidente da Comissão Organizadora e Científica do evento, José Luís Biscaia, explicou que o módulo de investigação vai estar disponível para todas as USF com profissionais dedicados a esta actividade. A primeira linha de investigação vai ser lançada sexta-feira e será a caracterização do risco cardiovascular na população portuguesa, que "além de ter todas as características epidemiológicas (hipertensão, diabetes ou outras), também vai caracterizar o perfil terapêutico, ou seja, o que é que as pessoas estão a fazer, o que é que os médicos prescrevem", referiu.

"É um estudo que vai ter com uma dimensão que hoje não há", sublinhou José Luís Biscaia, referindo que os resultados de 2015 deverão ser conhecidos no primeiro trimestre de 2016. "Amanhã [na sexta-feira] será feito o lançamento e depois a recolha de dados será feita com os dados de 2015. Além do estudo, a ideia essencial é ter uma ferramenta que de uma forma muito simples e acessível a todos permite desenvolver ou promover a investigação nos cuidados de saúde primários", acrescentou.

Esta ferramenta "não gera a investigação, propriamente dita, mas é um instrumento de muito fácil utilização por todas as USF", salientou. "Permite trabalhar os dados com mais facilidade, vai criar um repositório dos protocolos e resultados de investigação, que também não existe. As pessoas vão fazendo as suas coisas, boas ou más, mas nunca há partilha do que acontece. Com esta ferramenta é criada uma espécie de rede de investigação", frisou.

De acordo com José Luís Biscaia, "será, com certeza, o registo de melhor qualidade que existe em Portugal ao nível dos cuidados de saúde primários, é mais abrangente porque temos o registo de todos os problemas de saúde das pessoas e ao mesmo tempo permite-nos traçar o perfil terapêutico".

No encontro serão também debatidas as "ameaças e oportunidades" e "as medidas a tomar" referentes aos seguintes temas: Aplicação de incentivos institucionais, evolução para USF de modelo B, horários e registo biométrico de assiduidade e aumento de listas de utentes.

2.12.14

Médicos vão generalizar análises ao VIH e testes rápidos chegarão a mais centros de saúde

Maria João Lopes, in Público on-line

Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida demite-se de comissões de combate à sida. Ministro insiste no diagnóstico precoce.

Uma das apostas do Programa Nacional para a Infecção VIH/sida para o próximo ano é alargar o número de centros de saúde que fazem testes rápidos para detectar a infecção. Além disso, há uma nova orientação clínica para os médicos dos centros de saúde e hospitais: os testes ao VIH/sida devem ser pedidos a qualquer pessoa entre os 18 e os 64 anos.

A norma em causa, como avançou o Diário de Notícias, já foi concluída pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) e deverá ser publicada este mês. “Pretende-se que os médicos proponham às pessoas que tenham entre 18 e 64 anos fazer o teste pelo menos uma vez na vida”, explica o coordenador daquele programa, António Diniz, frisando que não se trata de incluir estes testes na rotina dos utentes, mas dos clínicos. Ou seja, se o utente o fizer uma vez, der negativo e não voltar a haver qualquer circunstância que o justifique, não será preciso repeti-lo.

A mudança é sobretudo “na rotina da prática clínica”: os médicos passam a aconselhar mais pessoas a fazer o teste, não se centrando sobretudo em grávidas, dadores de sangue, pessoas com determinadas manifestações clínicas ou utentes que tenham tido relações sexuais desprotegidas, partilhado seringas, entre outras situações.

A pessoa é informada que o teste vai ser pedido, em conjunto ou não com outras análises que podem ser de rotina, e se quiser pode recusar. Se a pessoa recusar, o médico deve registar. Pretende-se perceber, por exemplo, se num grupo de 10 pessoas, nove não fizeram o teste porque não quiseram ou porque ninguém lhes propôs. Num caso, ter-se-á de apostar mais na sensibilização junto dos utentes, no outro, junto dos clínicos, esclarece António Diniz.

O objectivo é o diagnóstico precoce: “As pessoas chegam tarde ao sistema de saúde. A pessoa já estava infectada e não sabia”, justifica, frisando que, segundo estudos recentes, em Portugal, 58% dos doentes são diagnosticados tarde, quando a média na Europa é 47%. Quanto mais cedo se detectar, melhor: “As pessoas conseguem ter melhor qualidade e esperança de vida e não transmitir a infecção. Estarem em tratamento também reduz o risco de infecção”, acrescenta António Diniz. A presidente da Liga Portuguesa Contra a Sida, Maria Eugénia Saraiva, também considera que a norma vai ajudar no rastreio precoce.

Embora sem adiantar números, António Diniz destaca ainda o alargamento dos testes rápidos “a mais centros de saúde”: “Alguns já têm e não será alargado a todos, mas, ao longo de 2015, os centros de saúde vão ter progressivamente a capacidade de fazer um teste rápido.”

No Dia Mundial da Luta Contra a Sida, que se assinalou nesta segunda-feira, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, também insistiu na importância do diagnóstico precoce, reconhecendo que “o sistema foi capaz de reduzir novos casos, mas ainda não tanto quanto deveria ser capaz”.

O governante falava no Congresso nacional VIH, Doenças Infecciosas e Microbiologia Clinica, que ficou ainda marcado pela demissão do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida (GAT) das comissões que integrava, alegando “falta de respeito” por ter deixado de ser previamente consultado na aprovação de medidas. Luís Mendão denunciou ainda que os concursos do Estado para projectos a desenvolver em 2015 na área da sida ainda não abriram: “Não é possível planear actividades nestas circunstâncias.” O dirigente considerou também que os meios financeiros, humanos e técnicos postos à disposição do coordenador do programa nacional de luta contra o VIH/sida “são insuficientes”.

Ressalvando a “consideração e respeito” que tem pelo grupo, António Diniz lamenta o que considera ser um “mal-entendido” e, quanto aos concursos, diz que abrirão este mês. De resto, concorda com Luís Mendão: o Programa Nacional para a Infecção VIH/sida precisa de “mais financiamento e sobretudo mais recursos humanos”. com Lusa

22.9.14

Aumentam urgências hospitalares por falta de resposta dos centros de saúde

in iOnline

A pulseira verde ou azul (não urgente ou pouco urgente) foi recebida por quatro em cada 10 utentes questionados

Cerca de metade das pessoas que recorrem às urgências hospitalares fazem-no por não conseguir atendimento no centro de saúde ou porque o episódio de doença ocorre fora do horário dos cuidados primários, segundo um inquérito da associação Deco.

Com base em 3.556 respostas a inquéritos lançados em outubro de 2013, a associação de defesa do consumidor conclui que aumentou o número de doentes que vai ao hospital por não conseguir ser atendido nos centros de saúde.

Do total de inquiridos, há ainda 12% que alega não ter recorrido aos serviços de urgência por falta de dinheiro para pagar a taxa moderadora.

As conclusões do inquérito, divulgadas hoje na revista Teste Saúde, mostram que há cinco anos, num estudo semelhante, apenas um quarto dos inquiridos apresentou motivos idênticos para recorrer ao hospital.

“Os resultados mostram um claro aumento do recurso às urgências hospitalares por falta de resposta dos cuidados de saúde primários”, refere o artigo.

Em 2009, eram quatro em cada 10 os utentes que foram atendidos nos centros de saúde a precisar de uma consulta urgente.

No atual inquérito, o número baixou para metade, com apenas dois em cada 10 a conseguir, quando precisa, consulta urgente nos cuidados de saúde primários.

Outra das razões para os utentes optarem pelas urgências dos hospitais é a convicção de que há “melhores condições de tratamento e de que os profissionais são mais eficientes, por estarem mais habilitados a lidar com situações graves”.

Numa análise à pulseira atribuída na triagem feita nos hospitais, o artigo da Teste Saúde refere que apenas 13% dos inquiridos estariam a necessitar de cuidados imediatos ou quase imediatos (com pulseira vermelha ou laranja).

A pulseira verde ou azul (não urgente ou pouco urgente) foi recebida por quatro em cada 10 utentes questionados.

Em comparação com o inquérito realizado há cinco anos, o tempo de espera para ser visto pelo primeiro médico aumentou ligeiramente, de 70 para 72 minutos.

Contudo, analisando desde o ano 2000, o tempo de espera para ser visto pelo primeiro médico nos hospitais públicos aumentou quase 10 minutos.

Já nos cuidados primários, o tempo de espera aumentou de 55 minutos em 2009 para 62 minutos este ano, depois de uma tendência decrescente entre 2000 e 2009.

Apesar deste aumento, o nível de satisfação dos utentes dos centros de saúde manteve-se igual ao verificado em 2009.

Em relação aos hospitais, a satisfação regista níveis sem alterações (65 em 100 pontos), com os doentes a queixarem-se sobretudo da demora dos resultados dos exames e do tempo “desperdiçado na sala de espera, cujas condições de higiene e conforto desagradam a cerca de um terço dos utentes”.

Nos hospitais privados, os níveis de satisfação são melhores (77 pontos em 100), mas um em cada 10 utilizadores mostra-se descontente com o funcionamento dos serviços.

*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico



11.4.14

Aumentaram diagnósticos de primeiros casos de depressão nos centros de saúde

in Sol

Os primeiros episódios de depressão notificados pelos profissionais nos centros de saúde aumentaram entre 2004 e 2012, altura em que se registou "o agravamento das condições sociais e económicas em Portugal", segundo dados da Rede de Médicos-Sentinela.

De acordo com um artigo publicado no Boletim Epidemiológico do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), verifica-se "uma coincidência temporal entre o aumento da taxa de incidência anual estimada de primeiros episódios de depressão nos cuidados de saúde primários e o agravamento das condições sociais e económicas em Portugal".

Os dados obtidos pela Rede de Médicos Sentinela -- constituída por especialistas em medicina geral e familiar que exercem funções nos centros de saúde de Portugal -- as taxas de incidência de depressão observadas em 2004 e 2012 foram superiores no sexo feminino.

O documento aponta para uma taxa de incidência de depressão de 1.389 por 100.000 utentes em 2012, sendo mais elevada nas mulheres (2.136 por 100.000 utentes) e no grupo etário 45-54 anos (2.408 por 100 000 utentes).

Os resultados sugerem um aumento da taxa de incidência de primeiros episódios de depressão nas mulheres após os 45 anos e um aumento mais assinalado nos homens no grupo etário do 55 aos 64 anos.

"O aumento da frequência de depressão entre 2006 e 2010 foi também observado em Espanha, existindo evidência que, em contexto de crise, os homens estão em maior risco de desenvolver doenças mentais", lê-se no Boletim.

Contudo, o próprio estudo do INSA refere que, tendo em conta a totalidade de casos em utentes a partir dos 15 anos, não é evidente uma variação das taxas de incidência anuais de depressão.

"No entanto, ao proceder à estratificação das taxas de incidência por sexo e grupo etário, evidenciaram-se variações significativas em grupos etários específicos", refere o documento.

Lusa/SOL

17.1.14

Centros de saúde abertos até às 22:00 durante a gripe

in Diário de Notícias


O horário dos centros de saúde vai ser alargado até às 22 horas, enquanto durar o surto de gripe, "onde tal se revelar necessário e possível", anunciou hoje o ministro da Saúde, Paulo Macedo.

Paulo Macedo, que hoje à tarde terá um encontro com as administrações regionais de saúde (ARS), disse à Lusa que vai avaliar a medida, que visa descongestionar as urgências hospitalares que visitou durante a manhã.

"Na reunião com as administrações regionais de saúde vamos avaliar em conjunto a possibilidade de os centros de saúde, quando necessário e possível, durante o período de surto de gripe, alargarem os horários", disse.

Paulo Macedo, que falava à Lusa no final de uma visita de surpresa à urgência do Hospital de Aveiro, justificou que "há muitos casos que não são graves e que vêm para a urgência e que os centros de saúde podem tratar adequadamente".

De acordo com o ministro, a hipótese que está a ser equacionada com as ARS é do alargamento temporário até às 22 horas, até ao final de fevereiro, período que pode ser prolongado se o surto de gripe persistir.

"Iremos ver as áreas em que isso é possível para este surto de gripe, que ainda está no seu início, mas que queremos precaver", explicitou, admitindo que a medida não se venha a aplicar a todos os centros de saúde do país.

Outro dos temas a discutir com as administrações regionais de saúde é a verificação das condições que a Lei impõe aos lares de idosos, no que respeita a cuidados médicos e de enfermagem.

"Vamos também analisar a questão da afluência de idosos às urgências, provenientes de lares, com pouco acompanhamento. Vamos analisar se está a ser cumprido o que é exigido, quanto aos cuidados médicos e de enfermagem", adiantou.

14.2.13

Centros de saúde vão disponibilizar 'kits' de diagnóstico rápido do VIH/sida

in Público on-line

Os centros de saúde vão ter ‘kits’ de diagnóstico rápido para rastreio do VIH/sida com o objectivo de “tratar imediatamente as pessoas” e “evitar a propagação da doença”, adiantou nesta quarta-feira o ministro da Saúde, Paulo Macedo.

O ministro falava no final da audiência na residência oficial do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, na qual o chefe do executivo, acompanhado de Paulo Macedo e do director-geral de Saúde, Francisco George, recebeu uma delegação de activistas de organizações não-governamentais (ONG) na área da luta contra o VIH/sida, no âmbito do Dia Internacional do Preservativo, que hoje se assinala.

“Outra questão que constatámos é que ainda há um largo número de pessoas que é seropositivo e não está diagnosticado e essencialmente por razões de discriminação”, disse ainda Paulo Macedo, no final do encontro.

O ministro da Saúde sublinhou ainda a importância de uma maior intervenção centrada nos jovens, uma vez que “muitos têm relações sem preservativo”.

Ainda assim, quando questionado sobre algumas preocupações deixadas pelos activistas na audiência com Passos Coelho, como a ausência de educação sexual nas escolas, Paulo Macedo afirmou que os mais novos são alvo de campanhas direccionadas para eles e mostrou-se mais preocupado em chegar a grupos de população que não estejam tão bem identificados por se encontraram “fora do sistema”.

“Há segmentos da população que estão claramente conscientes, mas há outras camadas que estão afastadas, que não vão ao centro de saúde, não vão fazer o seu diagnóstico, dando azo a que o número de novos casos não baixe, o que é uma das nossas maiores preocupações”, declarou o governante.

Luís Mendão, presidente do GAT (Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/sida), afirmou a importância dos “compromissos assumidos” hoje a nível político, sublinhando a necessidade de “parcerias” que permitam optimizar a relação do trabalho de prevenção das ONG e de tratamento pelo Serviço Nacional de Saúde.

“Para termos sucesso julgo que a palavra parceria é de realçar. Na realidade os recursos que temos tido disponíveis não diminuíram, mas são muito baixos. O investimento que fazemos em termos de prevenção e rastreio é muito diminuto face àquilo que o Estado suporta em termos de tratamento, na ordem das várias dezenas de vezes de diferença”, afirmou o activista.

Luís Mendão, ele próprio doente com VIH/sida, sublinhou ainda a necessidade destes doentes serem entendidos como parte da solução e não como o problema, manifestando “disponibilidade para trabalhar com rigor sobre prioridades de saúde pública e os direitos das pessoas”.

A Passos Coelho, para além das preocupações com o panorama no combate e prevenção da doença, os activistas deixaram ainda uma caixa com preservativos.

Bem-disposto, o primeiro-ministro prometeu partilhar o conteúdo da caixa com o ministro da Saúde e o director-geral de Saúde, mas os activistas tomaram as devidas precauções na preparação da audiência, e levaram um embrulho para cada um.