28.10.07

Alunos mais difíceis seguidos de perto

Alexandra Inácio e Fernando Basto, in Jornal de Notícias

Professores sem formação para mediar conflitos na sala de aula


Uma forte aposta na formação de professores no que se refere à gestão da sala de aula e das escolas e um reforço do acompanhamento dos alunos causadores de indisciplina. É isto o que defendem os pedagogos contactados pelo JN, para quem, mais do que falar em sanções sobre os alunos, há todo um trabalho a montante que continua a aguardar respostas urgentes. Os políticos mostram-se igualmente descontentes e criticam o facilitismo que pode advir da reformulação encontrada para o Estatuto do Aluno. O líder do CDS-PP já avisou que vai apelar ao veto do presidente da República.

João Amado, investigador da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, acredita que os problemas de indisciplina não se resolvem com sanções. "Muita da indisciplina na escola tem a ver com os contextos sociais e familiares em que os alunos vivem e com a preparação dos professores para saberem lidar com essas crianças e adolescentes", referiu.

Assim, defende uma formação de professores no âmbito da gestão dos conflitos na sala de aula. "É um ponto muito importante que a formação de professores tem descuidado", realçou.

Por outro lado, João Amado sublinhou a necessidade de se apostar mais na administração escolar, formando gestores capazes de saberem organizar uma escola onde alunos e professores se sintam implicados. "As escolas precisam de liderar um projecto educativo e uma adesão colectiva, em que os alunos estejam presentes", defendeu. Para este especialista, é importante que as escolas organizem espaços onde os alunos possam ser ouvidos e tenham o aconselhamento e orientação necessários.

Por seu turno, José Manuel Canavarro, investigador do Instituto Politécnico de Leiria, entende que a escola é um espaço de aprendizagem e inclusão, "o que pressupõe o cumprimento de regras, rotinas e procedimentos". Por isso, defende para os alunos mais difíceis planos de acompanhamento com a participação de professores e serviços de psicologia. Afirma não ver nada disto nas alterações ao Estatuto do Aluno, e, por isso, receia que a nova legislação "apenas venha potenciar o facilitismo".

"Erro histórico"


O PS não especificou na proposta que apresentou e aprovou, esta semana, possíveis consequências para os alunos que reprovarem à prova de recuperação ou oscilem entre períodos de absentismo e a realização do teste, conseguindo assim passar de ano. O artigo 22º foi o que suscitou maior polémica entre os deputados, principalmente depois de os socialistas chumbarem a proposta do PSD de um plano de acompanhamento para os alunos mais faltosos e que caso fosse recusado pelo aluno poderia leva à sua retenção.

PSD, BE e PCP acusam a Maioria de aprovar e alterar o diploma para facilitar estatísticas. Após a aprovação do regime de faltas, em Comissão, o líder do CDS convocou mesmo uma conferência de Imprensa para acusar os socialistas de promoverem o "facilitismo e a mediocridade" do sistema educativo. Paulo Portas condenou a inexistência de medidas para os mais faltosos que poderão beneficiar da prova, como um aluno que esteve doente. Lembram as passagens administrativas do pós 25 de Abril, criticou Portas.