28.10.07

Biocombustíveis podem ser "crime contra a humanidade"

M.J.G., in Jornal Público

Relator das Nações Unidas quer que durante cinco anos não se possa usar alimentos para a produção de combustível


O relator especial da ONU para o direito à alimentação, John Ziegler, propôs uma moratória de cinco anos para que não seja possível usar culturas destinadas à alimentação para o fabrico de biocombustíveis, e para isso usou uma frase-choque: "É um crime contra a humanidade" usar produtos de terrenos destinados à produção de alimentos para os biocombustíveis.

Os biocombustíveis estão a fazer com que aumente o preço de certos alimentos, algo que Ziegler considera problemático quando há, notou num discurso, sexta-feira, na Assembleia-Geral da ONU, 854 milhões de pessoas com fome no mundo e quando a cada dez segundos morre uma criança com menos de dez anos por fome ou doenças relacionadas com a subnutrição, cita a agência Reuters.

Ziegler propôs então a moratória de cinco anos, explicando que este é o período de tempo que levará até se chegar a novas tecnologias que permitirão a produção de biocumbustíveis através dos desperdícios agrícolas, como barba de milho ou folha de bananeira, e não dos alimentos.

"Há riscos sérios de criar uma luta entre alimentação e combustível", o que será dramático para os países mais pobres, disse Ziegler, citado pela AFP.

O perito da ONU lançou este aviso após, na semana passada, o FMI (Fundo Monetário Internacional) ter alertado que o uso cada vez maior de cereais para produção de combustível pode ter implicações graves para os mais pobres. A produção de bioetanol tem aumentado por ser uma alternativa mais amiga do ambiente e por reduzir a dependência dos países sem petróleo. Estados Unidos e Brasil são os grandes produtores, com os americanos a usarem milho, e os brasileiros a cana-de-açúcar. Nos EUA, muitos agricultores têm passado do cultivo de trigo e soja para milho para este ser usado na produção de combustível.

Dentro de anos, o biocombustível poderá ser feito a partir de de desperdícios, como barba de milho ou folha de bananeira.