19.10.07

O fado da pobreza

Paulo Leitão, in As Beiras Online

No dia em que se assinalava o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, foi publicada uma notícia esmagadora: existem dois milhões de pobres em Portugal. O que significa que um quinto dos portugueses vive com menos de 360 euros por mês. E há os “novos pobres”, pessoas com emprego, mas cujo salário não chega para as necessidades. São dados que colocam Portugal na “lista negra” dos países com mais pobreza e o país da UE onde a desigualdade entre ricos e pobres é maior. Em breve vai deixar de existir a classe média. Estes são os factos! Vamos às causas.

A maioria destas pessoas, retirando é claro os idosos, não gosta de trabalhar (não vou hoje escrever sobre os “novos pobres”, mas sobre os “velhos pobres”. A verdade é que o Estado providência abriu caminho para o “dolce fare niente” de muitos que se habituaram a receber as benesses estatais sem nada terem que fazer em troca. Em suma, o Estado permitiu que a preguiça tomasse conta de muita força de trabalho, que se acomodou aos subsídios, para tudo e mais alguma coisa. Não estudam, não possuem qualificações, não trabalham. Este é o retrato do português preguiçoso que cultivou o tique: “o Estado que resolva”.

Tem que arranjar empregos, tem que tratar dos buracos, tem que apanhar o lixo, tem que arranjar casa e por aí fora. Em suma, as pessoas não se esforçam, não estudam, não trabalham, não se empenham. Depois, a culpa é sempre do Estado...
Existem muitos factores que dão origem à pobreza, logo à cabeça o facto de se nascer no seio de uma família pobre. Mas nem mesmo esse poderá ser considerado, visto que são muitos os casos em que pessoas nessa situação se esforçaram, empenharam e realizaram o sonho de serem ricas. Hoje em dia, também não podem vir com a desculpa de que só quem é rico é que pode estudar. Também é verdade que existem muitos licenciados no desemprego, mas esses, mais cedo ou mais tarde, vão encontrar emprego, visto que já estão habituados ao esforço e empenho.

Aquela história de não se dar o peixe, mas ensiná-lo a pescar é simples e extraordinariamente eficaz na vida real. Não creio que passar-se a vida a dar sempre peixes seja a melhor política. Com esforço e dedicação todos conseguimos vencer na vida.

Um dia destes, um amigo meu empresário dizia e com razão: “quem é bom trabalhador, obviamente que nunca o despeço!”. Talvez seja isso que falta a muita gente, querer ser bom naquilo que faz, nem que seja numa profissão socialmente menos considerada. Todas as profissões são dignas e em todas se deve trabalhar com brio, porque a recompensa desse esforço, que deve ser contínuo, acaba por chegar. O que faz falta não é animar a malta, mas talvez motivar a malta, pelo menos a trabalhar, para que não passe a vida a lamentar o triste fado que lhe calhou na rifa.