18.10.07

Rede Anti-Pobreza alerta para as consequências do trabalho precário

Pedro José Barros, in O Aveiro

Avanço da pobreza é "preocupante"


O Núcleo Distrital de Aveiro da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN) considera estar perante uma "situação preocupante" ao nível das famílias que estão a viver em situações muito próximas dos limiares de pobreza.

A percepção do Núcleo é de que tem havido um "agravamento das condições sociais", a par de uma estagnação da recuperação social das famílias e cidadãos. "Nos últimos anos não tem havido avanços nítidos", realça Acácio Conde, coordenador do Núcleo de Aveiro.

A realidade da pobreza não poderá dissociar-se da condição laboral. Ter emprego não é sinónimo automático de uma vida sem problemas. Muitos empregados enfrentam situações de "grande dificuldade", desprovidas muitas vezes do "mínimo de dignidade", devido aos "baixos níveis de remuneração", alerta o responsável.

"O problema da pobreza é complexo e transversal que passa pelas questões das debilidades ao nível da educação e formação; da falta de qualificações profissionais; do emprego precário; desemprego prolongado; desemprego de longa duração e desemprego feminino", explica Acácio Conde, lembrando ainda outros factores condicionantes como a toxicodependência.

Dependência de ajuda regular

No dia 17 de Outubro assinalou-se o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, tendo a REAPN aproveitado para deixar alguns alertas à comunidade.

À pergunta se têm conhecimentos de casos de fome na região, o Núcleo Distrital de Aveiro responde que conhece a "actividade fantástica" de algumas instituições da região, como as Florinhas do Vouga, para suprir carências alimentares básicas de "famílias inteiras". "Há pessoas que há muito tempo dependem muito dessa ajuda regular, senão, haveria casos muito difíceis de ultrapassar".

O papel da REAPN não se centra tanto na ajuda directa mas sobretudo ao nível do "esclarecimento público dos problemas", de elaboração de diagnósticos sociais das carências e da tentativa de "influenciar as decisões políticas para combater esta tendência do aumento da pobreza e da exclusão".

Pobreza atinge 20 por cento da população

Apesar do crescimento e progresso nalgumas áreas, os indicadores "são preocupantes" porque as taxas médias de desemprego "não se têm recuperado".

Oficialmente, é reconhecido que aproximadamente 78 milhões de pessoas na União Europeia vivem em risco de pobreza. Em Portugal, segundo dados do Eurostat, no ano de 2005, a taxa de pobreza atingia 20 por cento da população portuguesa (o que equivale a dizer um em cada cinco portugueses) valor significativamente superior ao da média europeia, de 16 por cento na mesma data.

Números "dramáticos" para Portugal que revelam que a pobreza se trata de um problema estrutural que "dificilmente temos conseguido ultrapassar".

Daí que um dos apelos da REAPN seja o de transformar a luta contra a pobreza "numa causa e prioridade nacional".