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João Goulão diz que, pela primeira vez, o plano estratégico do SICAD para abordagem dos comportamentos aditivos e das dependências contempla medidas específicas dirigidas a esta população, que tem uma “problemática muito própria”
O presidente do organismo de combate à droga em Portugal, João Goulão, defendeu hoje que os comportamentos aditivos na população idosa exigem “cada vez maior atenção” e uma reflexão acerca das “respostas possíveis” para combater este problema.
“Vamos ter que prestar cada vez maior atenção [a este problema]. Quando antes tínhamos franjas muito pouco significativas de pessoas nestas circunstâncias, hoje não será bem assim e é preciso refletir acerca das respostas possíveis”, disse à agência Lusa o presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
Há algumas décadas, Portugal teve “um gravíssimo problema relacionado com o consumo de heroína” e, hoje, os antigos consumidores têm idades entre os 50 e 60 anos.
“São os consumidores que envelhecem, não os mais velhos que começam a consumir”, disse João Goulão, que falava à Lusa a propósito do congresso “Família, comportamentos aditivos, dependência e envelhecimento”, promovido pela Federação Portuguesa de Instituições Sociais Afetas à Prevenção de Toxicodependências (FPAT).
Contudo, há exceções a esta regra: “Há também pessoas que desenvolvem comportamentos aditivos em fases mais tardias da vida”, sublinhou.
João Goulão adiantou que estes comportamentos visam “potenciar o prazer em algumas circunstâncias ou aliviar o desprazer, que se traduz nas mais diversas formas de desagrado com o seu tipo de vida”.
“Seja porque acontecem dificuldades económicas, dificuldades familiares, isolamento, solidão, entre outras motivações, o que é facto é que existem pessoas já avançadas na idade que vêm desenvolver comportamentos, por exemplo, em relação ao jogo ou ao consumo de determinadas substâncias, nomeadamente o álcool”, acrescentou.
Apesar da idade, João Goulão disse que estas pessoas “procuram ajuda”.
Segundo dados dos Centros de Respostas Integradas e Unidades de Alcoologia, em 2012, mais de metade (53%) do total de utentes acompanhados tinham 40 ou mais anos.
Dos 24.234 utentes, 65% tinham entre os 40 e os 49 anos, 28% entre 50 e 59 anos e 7% tinham 60 ou mais anos.
Os dados referem que 63% dos utentes eram dependentes de substâncias ilícitas e 37% de álcool.
A grande maioria dos utentes são homens (83%) que apresentavam como “fatores de vulnerabilidade e risco”, a falta de autonomia, baixas habilitações literárias, inexistência de uma profissão, situação de desemprego e sem rendimentos.
João Goulão avançou que, pela primeira vez, o plano estratégico do SICAD para abordagem dos comportamentos aditivos e das dependências contempla medidas específicas dirigidas a esta população, que tem uma “problemática muito própria”.
“No que diz respeito aos dependentes de substâncias em fases mais precoces do seu ciclo de vida temos uma preocupação muito grande relativa à inserção laboral, mas em relação a estas pessoas existe outro tipo de problemática”, sublinhou.
A presidente da FPAT, Maria Helena Paes, disse que o congresso, que ocorre no dia em que se assinala o Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, pretende ”alertar para os problemas patológicos que existem” nesta população, mas também para a sua prevenção, “procurando dar uma melhor qualidade de vida às pessoas”.
“A toxicodependência e o álcool são questões que se revestem da maior importância”, porque causam “um grande sofrimento” nas famílias.